Poemas portugueses V Ferreira Gullar¹ Prometi-me possuí-la muito embora ela me redimisse ou me cegasse. Busquei-a na catástrofe da aurora, e na fonte e no muro onde sua face, entre a alucinação e a paz sonora da água e do musgo, solitária nasce. Mas sempre que me acerco vai-se embora como se me temesse ou me odiasse. Assim persigo-a, lúcido e demente. Se por detrás da tarde transparente seus pés vislumbro, logo nos desvãos das nuvens fogem, luminosos e ágeis! Vocabulário e corpo – deuses frágeis – eu colho a ausência que me queima as mãos. ¹José Ribamar Ferreira * São Luiz, MA. – 10 de Setembro de 1930 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]