Economia e a Grécia – Pro dia nascer melhor – 04/11/2011
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A partir da quebra do banco Lehman Brothers, verifica-se uma espécie de efeito-dominó sobre um conjunto de instituições bancárias e de crédito em diversos países. Passados menos de dois anos do início da atual crise de liquidez, principalmente de títulos bancários, a realidade dos países e economias afetadas mundo afora é bastante complexa e desconcertante. A discrepância se acentua quando olhamos para setembro de 2008, onde a situação das instituições financeiras norte-americanas revelava-se insustentável. É o que foi intitulado de crise do “sub-prime”, consequência direta da irresponsabilidade do mercado hipotecário nas áreas imobiliárias e da construção civil. Mesmo sem que não se queira cogitar dos aspectos sociais na crise atual, voltam ao cenário ambulatorial macroeconômico as paleolíticas propostas do FMI no que concerne a retomada das políticas públicas de caráter keynesiano e desenvolvimentistas. O Editor Nessun dorma… Por Antonio Delfim Netto ¹/VALOR É um fato conhecido que os competentes economistas alemães representam a fina flor do mais extremo monetarismo ao qual somam uma boa dose de conservadorismo. Foram ferozmente contra as concessões (com implicações econômicas) feitas por Helmut Kohl, quando aproveitou uma janela semiaberta e teve a coragem de reunificar a Alemanha, objetivo político de longo prazo absolutamente desdenhado pelos “puristas econômicos”. Quando a Alemanha decidiu participar do euro, 150 dos seus mais reconhecidos acadêmicos publicaram um célebre manifesto contra, com bons argumentos, mas que de novo ignorava solenemente o objetivo político de longo prazo, que era a pacificação de um continente que durante os últimos mil anos foi atormentado por guerras. Os argumentos eram respeitáveis e mostravam que o sucesso do euro dependia de um rigoroso controle da situação fiscal de cada país, preliminar para a construção de uma área monetária ótima: absoluto controle fiscal, liberdade de movimentos da mão de obra e de capitais e a cessão da emissão das moedas nacionais a um banco central autônomo, com uma nova unidade monetária, com relação à qual as taxas de câmbio de cada país seriam irrevogavelmente fixadas.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Nem o Fed, nem o BCE sabem, até agora, o que fazer. Eram contra, porque não acreditavam que os países se submeteriam a tal disciplina. Para impô-la, foi formalmente estabelecido e aprovado no acordo de Maastricht, que precedeu a introdução do euro, que: 1) nenhum país poderia ter déficit nominal superior a 3% do PIB; e 2) uma relação dívida/PIB maior do que 60%. Por que não funcionou? Porque os governos de vários países (em particular da Grécia) mentiram, como suspeitavam os economistas alemães! Iludiram aquelas condições com a conivência do sistema financeiro internacional e das agências de risco. Tudo veio à tona depois da “quebra” do Lehman Brothers, quando a “rede de patifarias” escondida nos derivativos tóxicos explodiu na cara dos bancos centrais, sob o nariz dos quais ela se realizara. É cada vez mais evidente que esses não se recuperaram do choque: nem o Federal Reserve dos EUA, nem o BCE da Eurolândia sabem, até agora, o que fazer. Nos EUA, parece que começa a haver uma mudança. Mais de uma dezena de instituições financeiras, que ativamente (com a conivência das agências de risco) assaltaram os incautos aplicadores, começam a ser investigadas e, seguramente, algumas serão responsabilizadas criminalmente. Trata-se de um problema moral, que não pode mais ser escondido pelo governo Obama como foi até agora. Tardiamente, ele propõe ao Congresso um novo pacote de estímulos para diminuir o sofrimento de 25 milhões de honestos trabalhadores (15 milhões com desemprego aberto e 10 milhões semiempregados), que acabaram desempregados com a política econômica (inspirada por distintos acadêmicos comprometidos com o sistema financeiro) que “salvou” os desonestos administradores. Até agora, o presidente do Fed, Ben Bernanke, não disse a que veio: apenas repete, repete e repete o velho refrão, “farei o que tenho de fazer”. Continua indeciso sobre como atender ao seu duplo mandato: manter alto o nível de emprego e manter baixa a taxa de inflação. O sinal de que ainda resta vida inteligente nos EUA veio num artigo no “Financial Times”, do secretário do Tesouro, Tim Geithner, onde afirmou que é hora dos governos deixarem de lado a paralisia política e esquecerem os medos infundados com a inflação. No fundo, ele está transmitindo aos bancos centrais, que continuam mesmerizados pelos seus modelitos, que a taxa de juros nominal já é nula e que a taxa de inflação está na “meta”, mas a taxa de desemprego é quase o dobro da famosa Nairu (a taxa de desemprego que não acelera a inflação). Logo, é uma eficaz política fiscal que deve ser ativada. É por isso que ele afirma que os EUA resistirão a um rápido ajuste fiscal em 2012 e recomenda a todos os países em dificuldades que façam o mesmo. Essa coordenação, se realizada, tornará mais potente e mais veloz os resultados. No Banco Central Europeu (BCE), a situação se agrava. Enquanto Trichet aguarda sua substituição formal por Mario Draghi, os representantes alemães (diante do iminente desastre político da chanceler Merkel) abandonam o barco, alegando “razões pessoais”. Primeiro foi Alex Weber (presidente do Bundesbank). Agora foi Juergen Stark, o que aperta ainda mais a “saia justa” de Merkel. Se não bastassem esses problemas, o ministro das Finanças da Holanda, Jan Kees de Jager, sugere claramente a expulsão da Grécia, a pedido: “Quando não conseguimos respeitar as regras do jogo, devemos deixá-lo”. O FMI, por sua inexperiente diretora-gerente, Christine Lagarde, lança dúvidas sobre a higidez dos bancos europeus que têm em carteira títulos gregos. Como todos sabem que ela conhece apenas os bancos franceses, produziu uma corrida sobre eles. Parece óbvio que ninguém se entende. Tem razão o dr. Tombini. Vamos pôr nossas barbas de molho e nos proteger da provável desintegração da economia mundial. Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. E-mail contatodelfimnetto@terra.com.br
Livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social a partir do momento em que os regimes ortodoxos de esquerda ruíram. A democracia capitalista entende a democracia clássica somente como uma ferramenta para produzir processos de acumulação de capital, e nos rastro de especulação. Quando necessário, o capitalismo apátrida, reduz a democracia à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a, o que está acontecendo agora na China. Guetos capitalistas no país dos mandarins ofuscam a percepção de que o “império amarelo” continua uma ditadura cruel e sanguinária, havendo apenas a troca de mandarins por uma “nomenklatura” encastelada no poder. O Editor O Banco Nacional da Suíça (banco central) vai agora enfrentar o poderio de fogo de um mercado global de moeda que movimenta, por dia, nada menos que US$ 4 trilhões. As autoridades suíças não mostram complexo de inferioridade. Avisaram que estão em condições de comprar volumes ilimitados de moeda estrangeira que se meta a testar sua disposição de manter uma situação inegavelmente artificial. Antes de continuar, vamos aos fatos. A pequenina Suíça vinha sendo uma das maiores vítimas daquilo que, em setembro do ano passado, o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, denunciara como guerra cambial. Os bancos centrais das duas maiores moedas do mundo, o dólar e o euro, estão empenhados em derrubar o valor de suas moedas para garantir mais exportações e aumento do emprego. Além de manter os juros a níveis próximos de zero por cento – os mais baixos da história -, vêm emitindo moeda com objetivo de recomprar títulos emitidos pelos tesouros nacionais. A sobra enorme de recursos vai sendo empurrada para cima de três economias: Japão, Suíça e Brasil, seguindo motivações distintas. O iene japonês e o franco suíço estão sendo procurados como porto seguro (reserva de valor), na condição de defesa contra a desvalorização das outras moedas fortes. O real do Brasil está sendo procurado como fonte de renda, na medida em que os juros por aqui seguem entre os mais altos do mundo. Somente neste ano, o franco suíço se valorizou 17% diante do euro. A principal consequência foi o encarecimento (nas outras moedas) de todo produto ou serviço produzido na Suíça. Com isso, a indústria, a rede de hotelaria e os bancos vinham sangrando nos seus resultados. A decisão tomada terça-feira foi colocar o piso de 1,20 franco suíço por euro na troca de moedas no seu câmbio. O novo compromisso prático do banco central suíço é comprar toda a moeda estrangeira cuja oferta no câmbio suíço provoque cotação mais baixa do que essa aí, de 1,20 franco por euro. Na prática, o Banco Nacional da Suíça estará emitindo francos para enfrentar a farta entrada de capitais em seu mercado de câmbio. As compras de moeda estrangeira implicam crescimento das reservas que hoje são de US$ 151,2 bilhões. Em situações normais, a defesa de um câmbio fixo por um banco central é quase sempre batalha perdida a longo prazo. Em 1992, por exemplo, um único grande especulador global, o húngaro George Soros, investiu US$ 10 bilhões na desvalorização da libra esterlina e levou o Banco da Inglaterra (banco central) à capitulação. Aparentemente, as autoridades monetárias da Suíça estão levando em conta que os francos suíços comprados pelo resto do mundo não ficarão circulando no mercado, mas permanecerão entesourados, na medida em que são procurados como reserva de valor. Por isso, apostam em que não produzirão inflação. Duas consequências imediatas parecem inevitáveis: (1) se a operação suíça for bem-sucedida, é provável que o Japão e os países nórdicos também tentem fixar o valor de suas moedas; e (2) se Suíça, Japão e outros países forem bem-sucedidos nesse regime de câmbio fixo, mais moeda estrangeira tomará o rumo do Brasil. Celso Ming/O Estado de S.Paulo