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Emprego x Desemprego

Essa correlação “necessária” entre pleno emprego e inflação é mais uma falácia neoliberal. O que preocupa esses “sacripantas” é a diminuição do exército de desempregados que estão prontos a se vender a preço de banana. Campos Neto diz que “sinalização de pleno emprego traz preocupação sobre impacto inflacionário.” Conforme o chefe da autoridade monetária, “outros países também passaram por isso, mas o Brasil foi uma grande surpresa”.

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Mário Sérgio Cortella: Bem-formada, nova geração chega mal-educada às empresas, diz filósofo

Cortella lança o livro “Por que fazemos o que fazemos?” sobre a busca de propósito no trabalho Segunda-feira, seis da manhã. O despertador toca e você não quer sair da cama. Está cansado? Ou não vê sentido no que faz?  Na introdução de seu livro, o filósofo e escritor Mario Sergio Cortella coloca em poucas palavras o questionamento central da obra Por que fazemos o que fazemos?. Trata da busca por um propósito no trabalho, uma das maiores aflições contemporâneas. Em entrevista à BBC Brasil, Cortella, também doutor em Educação e professor, fala como um mundo de múltiplas possibilidades levou as pessoas a negarem ser apenas uma peça na engrenagem. O filósofo explica como a combinação de um cenário imediatista, anos de bonança e pais protetores fez com que a “busca por propósito” dos jovens seja muitas vezes incompatível com a realidade. “No dia a dia, eles se colocam como alguém que vai ter um grande legado, mas ficam imaginando o legado como algo imediato.” Essa visão “idílica”, afirma, transforma escritórios e salas de aula em palcos de confronto entre gerações. “Parte da nova geração chega nas empresas mal-educada. Ela não chega mal-escolarizada, chega mal-educada. Não tem noção de hierarquia, de metas e prazos e acha que você é o pai dela.” Leia os principais trechos da entrevista abaixo: BBC Brasil – O que desencadeou a volta da busca pelo propósito? Mario Sergio Cortella – A primeira coisa que desencadeou foi um tsunami tecnológico, que nos colocou tantas variáveis de convivência que a gente fica atordoado. A lógica para minha geração foi mais fácil. Qual era a lógica? Crescer, estudar. Era escola, e dependendo da tua condição, faculdade. Não era comunicação em artes do corpo. Era direito, engenharia, tinha uma restrição. Essa overdose de variáveis gerou dificuldade de fazer escolhas. Isso produz angústia em relação a esse polo do propósito. Por que faço o que estou fazendo? Faço por que me mandam ou por que desejo fazer? Tem uma série de questões que não existiam num mundo menos complexo. Não foi à toa que a filosofia veio com força nos últimos vinte anos. Ela voltou porque grandes questões do tipo “para onde eu vou?”, “quem sou eu?”, vieram à tona. Livro de Cortella foi lançado em julho e traz reflexão sobre trabalho BBC Brasil – Podemos dizer que nesse contexto vai ser cada vez menor o número de pessoas que não tem esses questionamentos? Mario Sergio Cortella – Cada vez menor será o número de pessoas que não se incomoda com isso. O próprio mundo digital traz o tempo todo, nas redes sociais, a pergunta: “por que faço o que faço?”, “por que tomo essa posição?”. E aquilo que os blogs e os youtubers estão fazendo é uma provocação: seja inteiro, autêntico. É a expressão “seja você mesmo”, evite a vida de gado. BBC Brasil – No seu livro, você fala da importância do reconhecimento no trabalho. Qual é ela? Mario Sergio Cortella – O sentir-se reconhecido é sentir-se gostado. Esse reconhecimento é decisivo. A gente não pode imaginar que as pessoas se satisfaçam com a ideia de um sucesso avaliado pela conquista material. O reconhecimento faz com que você perca o anonimato em meio à vida em multidão. No fundo, cada um de nós não deseja ser exclusivo, único, mas não quer ser apenas um. Eu sou um que importa. E sou assim porque é importante fazer o que faço e as pessoas gostam. BBC Brasil – Pelo que vemos nas redes sociais, os jovens estão trazendo essa discussão de forma mais intensa. Você percebeu isso? Mario Sergio Cortella – Há algum tempo tenho tido leitores cada vez mais jovens. Como me tornei meio pop, é comum estar andando num shopping e um grupo de adolescentes pedir para tirar foto. Uma parcela dessa nova geração tem uma perturbação muito forte, em relação a não seguir uma rota. E não é uma recuperação do movimento hippie, que era a recusa à massificação e à destruição, ao mundo industrial. Hoje é (a busca por) uma vida que não seja banal, em que eu faça sentido. É o que muitos falam de ‘deixar a minha marca na trajetória’. Isso é pré-renascentista. Aquela ideia do herói, de você deixar a sua marca, que antes, na idade média, era pelo combate. O destaque agora é fazer bem a si e aos outros. Não é uma lógica franciscana, o “vamos sofrer sem reclamar”. É o contrário. Não sofrer, se não for necessário. Uma das coisas que coloco no livro é que não há possibilidade de se conseguir algumas coisas sem esforço. Mas uma das frases que mais ouço dos jovens, e que para mim é muito estranha, é: quero fazer o que eu gosto. ‘Tsunami tecnológico’ gerou volta da busca por um propósito, diz Cortella Image copyrightTHINKSTOCK BBC Brasil – Esse é um pensamento comum entre os jovens quando se fala em carreira. Mario Sergio Cortella – Muito comum, mas está equivocado. Para fazer o que se gosta é necessário fazer várias coisas das quais não se gosta. Faz parte do processo. Adoro dar aulas, sou professor há 42 anos, mas detesto corrigir provas. Não posso terceirizar a correção, porque a prova me mostra como estou ensinando. Não é nem a retomada do ‘no pain, no gain’ (‘sem dor, não há ganho’). Mas é a lógica de que não dá para ter essa visão hedonista, idílica, do puro prazer. Isso é ilusório e gera sofrimento. BBC Brasil – O sofrimento seria o choque da visão idílica com o que o mundo oferece? Mario Sergio Cortella – A perturbação vem de um sonho que se distancia no cotidiano. No dia a dia, a pessoa se coloca como alguém que vai ter um grande legado, mas fica imaginando o legado como algo imediato. Gosto de lembrar uma história com o Arthur Moreira Lima, o grande pianista. Ao terminar uma apresentação, um jovem chegou a ele e disse ‘adorei o concerto, daria a vida para tocar piano

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Tóquio e Home Office

Tóquio tenta pôr cidade inteira de “home office” Na metrópole japonesa, 25 de julho passou a ser o dia do trabalho a distância: uma vez por ano, moradores são incentivados a fazer suas funções a partir de casa ou qualquer outro lugar, desde que não seja o escritório.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Trabalhadores japoneses fazem pausa para almoço em Tóquio O dia 25 de julho ganhou um novo significado para os moradores da região metropolitana de Tóquio: trabalhar em casa – ou no lugar que se queira, desde que não seja o escritório. A campanha iniciada nesta segunda-feira (25/07) é um teste para os Jogos Olímpicos de 2020 e deve acontecer todos os anos, na mesma data, até o evento começar. As autoridades esperam que a medida reduza os congestionamentos e desafogue o transporte público. A região metropolitana de Tóquio é lar de 30 milhões de pessoas. Conhecida por seus trens e metrôs lotados durante os horários de pico, ela enfrenta um problema sério para reduzir o fluxo e acomodar turistas para o evento. “Durante as Olimpíadas de Tóquio, nós esperamos congestionamentos, principalmente na cerimônia de abertura”, diz o Ministro do Interior, Sanae Takaichi. A ideia era que o máximo possível de trabalhadores fizesse “home office”, mas logicamente muitas funções são impossíveis de serem feitas a distância. De acordo com o Ministério do Interior, cerca de 60 mil trabalhadores entre as mais de 900 empresas, organizações e órgãos públicos participaram da ação. A ideia de trabalho remoto surgiu com práticas adotadas durante os Jogos de Londres em 2012. O plano também faz parte dos esforços do premiê Shinzo Abe para repensar  o modo de vida dos chamados “workaholics” – pessoas que passam longas horas nos escritórios e pouco tempo com suas famílias. O trabalho remoto pode ser uma maneira de reformar as práticas trabalhistas no país, consideradas ultrapassadas por alguns japoneses. Em alguns casos, a cultura do mercado de trabalho japonês pode ter consequências graves e não é raro que trabalhadores cometam suicídio ou sofram um ataque cardíaco devido às longas jornadas de trabalho. “Nós estamos fazendo isso para as Olimpíadas, mas no futuro queremos ter condições mais humanas para os trabalhadores”, disse Hiroshi Ohnishi, funcionário do ministério da Economia, Comércio e Indústria, órgão responsável pelo Dia do Teletrabalho. TTC/afp/rtr

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Brasil é último em ranking de criação de emprego da OCDE

Em razão da crise econômica, o Brasil deve ter, em 2016, o pior desempenho na criação de empregos na comparação com outros 43 países, de acordo com um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado nesta quinta-feira.  Brasil fica na pior colocação em ranking de empregos Image copyright TONGRO IMAGES Em razão da crise econômica, o Brasil deve ter, em 2016, o pior desempenho na criação de empregos na comparação com outros 43 países, de acordo com um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado nesta quinta-feira. Segundo o relatório, o Brasil deve registrar um saldo negativo de empregos (quando as demissões superam as contratações) de 1,6% neste ano, enquanto nos países da OCDE a previsão é de crescimento de 1,5% dos postos de trabalho em 2016.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Nas projeções da OCDE, apenas quatro outros países, além do Brasil, terão saldo negativo de empregos neste ano, com quedas bem menores, que vão de apenas -0,1%, como a Finlândia, a -0,9%, no caso da Costa Rica. Em 2017, afirma o estudo, a situação no Brasil deve melhorar, com previsão de crescimento de 0,7% do emprego. O estudo, intitulado “Perspectivas do Emprego 2016”, leva em conta os dados dos 35 países membros da organização (a Letônia aderiu ao grupo em junho) e de nove outras economias, como Brasil e China. Em junho, a OCDE já havia estimado, em outro estudo, que o Brasil deverá sofrer em 2016 a maior queda do PIB entre as 44 economias analisadas, com recuo de 4,3%, e atribuiu a “recessão profunda”, que deve durar no país até 2017, ao “contexto de grande incerteza política” e também aos casos de corrupção que abalam a confiança de consumidores e investidores. A OCDE prevê que a taxa de desemprego no Brasil deverá atingir 11,3% neste ano contra 8,5% em 2015, segundo o estudo divulgado nesta quinta. Apesar da crise, as taxas de desemprego no Brasil permanecem bem mais baixas do que as previstas neste ano para países como a Grécia (23,9%), Espanha (19,3%) ou a África do Sul, onde o índice estimado é de 26,5%. ‘Recuperação dolorosa’ O estudo afirma que a situação do mercado de trabalho continua melhorando nos países da OCDE após a crise internacional dos últimos anos, “mas de maneira lenta e dolorosa” em inúmeros países que integram a organização. Isso é devido, diz a organização, ao fato de que a economia mundial está “colada em um crescimento tímido caracterizado por um baixo nível de investimento, ganhos anêmicos de produtividade e poucas criações de empregos, além de uma estagnação dos salários”, destaca o estudo. Desemprego no Brasil deve diminuir em 2017, segundo previsão Image copyright HUNTSTOCK Os salários, no entanto, não têm acompanhado a evolução dos níveis de emprego, acrescenta a OCDE, ressaltando que em muitos casos os ganhos são, em média, pelo menos 5% inferiores aos patamares que deveriam ter atingido se o crescimento econômico dos anos 2000 a 2007 tivesse se mantido. “São numerosos os trabalhadores que arrumaram emprego após a recessão, mas o crescimento dos salários permanece moroso e o stress no trabalho afeta inúmeras pessoas”, diz o estudo, acrescentando que poderá ser difícil recuperar esse atraso nos valores. O estudo também prevê que a taxa de emprego nos países da OCDE deverá, em 2017, voltar ao nível registrado antes da crise financeira mundial. O deficit de empregos nos países membros, que chegou a ser, no início de 2010, de mais de 20 milhões de postos de trabalho perdidos, caiu para 5,6 milhões em 2015. Para a OCDE, esse déficit de empregos será “totalmente absorvido” ao longo de 2017. “É evidentemente uma boa notícia, mas o fato de que a recessão pesou sobre o emprego durante cerca de dez anos atesta a severidade da crise e o preço que os trabalhadores tiveram de pagar”, destaca o relatório. O documento também alerta para o caso dos jovens com baixa qualificação que saíram do sistema escolar e do mercado de trabalho e que correm o risco de “serem definitivamente deixados de lado” na sociedade. No ano passado, 15% dos jovens de 15 a 29 anos se enquadravam nessa categoria nos países da OCDE, o que representa um leve aumento em relação aos níveis que existiam em 2007, antes da crise mundial. Segundo a OCDE, “é urgente” colocar em ação políticas nacionais e internacionais para estimular o crescimento e colocá-lo em uma trajetória durável. Daniela Fernandes/BBC Brasil

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Saiba como é a vida dentro de uma fábrica de iPhones na China

Quem conhece um pouco da indústria de tecnologia sabe que praticamente tudo é produzido na China. (Foto: reprodução/Bloomberg) Os baixíssimos salários dos trabalhadores, somados a uma lei trabalhista bem frouxa, criaram um cenário amplamente favorável para a indústria local, ao mesmo tempo em que sacrificaram radicalmente a qualidade de vida dos funcionários. Nos tempos atuais, começou a “pegar mal” as notícias de que trabalhadores começaram a se suicidar nas fábricas, e que as empresas tiveram que começar a instalar grades e redes de proteção para evitar mais casos similares.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Os casos começaram a chegar ao Ocidente, e as empresas começaram a pressionar para que as pessoas responsáveis por montar seus produtos sejam tratadas de forma mais humana. Para demonstrar o progresso que tem sido feito nesta área, John Sheu, presidente das instalações da Pegatron, uma das empresas responsáveis pela montagem do iPhone, convidou jornalistas da Bloomberg a conhecer a fábrica e seus 50 mil funcionários, responsáveis pela produção do smartphone da Apple. Os jornalistas puderam observar os procedimentos rígidos de segurança, voltados a impedir o vazamento de informações sobre os produtos que ainda não foram revelados para o público. Todos os visitantes e trabalhadores passam por detectores de metal que visam revelar possíveis dispositivos com câmeras que possam ser usados para fotografar os aparelhos. Ao passar pela segurança, eles seguem setas coloridas no chão, e passam por corredores revestidos com pôsteres motivacionais. Eles passam por uma escadaria com as tais redes de proteção antissuicídios, até chegarem aos armários, onde precisam colocar suas redes para cabelos, vestir uma jaqueta rosa e trocam seus sapatos por chinelos de plástico. Depois de se alinharem com precisão militar, os funcionários são divididos em unidades de produção de 320 pessoas, organizadas em quatro fileiras de 80 trabalhadores antes de começarem as atividades. Ao entrar na fábrica, os trabalhadores precisam, além de passar pelo detector de metais, verificar suas identidades, o que é feito por meio da apresentação de um crachá e identificação facial. Além de impedir intrusos, o processo serve para garantir que ninguém está trabalhando mais do que o permitido. Sim, depois da pressão ocidental, o cuidado com o excesso de horas extras aumentou significativamente. Os funcionários podem realizar horas extras para ganhar um dinheiro a mais, mas agora eles têm um limite. A Apple determina que seus parceiros adiram às diretrizes do Electronic Industry Citizenship Coalition (Coalizão da Cidadania da Indústria de Eletrônicos) que proíbem que os trabalhadores façam mais de 80 horas extras por mês. No entanto, a lei chinesa determina um máximo de 36 horas; a empresa diz que consegue driblar esta restrição pelo fato de o trabalho ser sazonal. Para o monitoramento destas horas, o sistema de identificação conta com crachás que acompanham o tempo, os pagamentos e até os gastos com dormitórios e refeições. Pode parecer excessivo, mas pelo menos fez com que a empresa se aproximasse a quase 100% do cumprimento dos regulamentos sobre horas extras. A única exceção são os engenheiros trabalhando em reparos de emergências. Uma auditoria da Apple mostrou 97% de conformidade com as diretrizes de um máximo de 60 horas de trabalho por semana. O problema continua sendo o pagamento baixo. Um funcionário que preferiu não se identificar conta que “os trabalhadores sempre querem fazer mais horas porque os salários são baixos. Nós podemos ganhar muito mais com horas extras, então nós sempre queremos mais horas extras”, afirmou à reportagem. A empresa diz que, contando com as horas extras, os funcionários conseguem levar para casa em média entre 4.200 e 5.500 yuans (algo entre R$ 2,3 mil e R$ 3 mil) em um mês. No entanto, uma trabalhadora mostrou à Bloomberg que seu salário-base era de 2.020 yuans (cerca de R$ 1,1 mil), o que dá uma dimensão de quantas horas extras os funcionários costumam fazer em um mês para ter um salário mais satisfatório. Para referência: um iPhone 6 no país custa 4.488 yuans (R$ 2,4 mil). A empresa ainda está na mira de organizações como a China Labor Watch, que afirmam que ainda há evidências de trabalho excessivo nas fábricas. Via Bloomberg

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A doméstica brasileira que virou líder trabalhista nos EUA

O auditório da Assembleia Legislativa do Estado de Massachusetts estava cheio quando uma mulher com uma camiseta verde-amarela foi chamada ao microfone. Natalícia Tracy chegou aos EUA como doméstica e, hoje, está em curso de obter um pós-doutorado. Diretora executiva do Centro do Trabalhador Brasileiro em Boston, Natalícia Tracy pediu aos legisladores que aprovassem uma lei em discussão que impediria policiais de prender imigrantes só por estarem no país ilegalmente. Horas antes, Tracy falara num evento da prefeitura de Boston e, após deixar a assembleia, ainda participou de um painel sobre trabalho doméstico na Universidade Harvard, uma das mais prestigiadas do mundo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A movimentada agenda reflete a projeção alcançada pela brasileira, que se mudou para os Estados Unidos em 1989 e se tornou uma destacada líder nos movimentos de trabalhadores e imigrantes do país. Leia também: ‘Americano não manda, pede’: a experiência de brasileiras que foram ser domésticas nos EUA Hoje com 45 anos, Tracy foi recrutada aos 19 em São Paulo para acompanhar uma família brasileira numa temporada de dois anos em Boston. Além de cuidar de um bebê de dois anos, desempenhava todas as tarefas domésticas da casa. A jornada, diz ela, ia das seis da manhã às onze da noite. “De acordo com as leis trabalhistas dos Estados Unidos, eu estava num trabalho considerado escravo”, ela afirma à BBC Brasil. Tracy diz que dormia numa “varanda fechada com cimento grosso no chão” e que não podia usar o telefone nem receber cartas. “Eles não me deixavam pôr meu nome na caixa de correio, e o carteiro não entregava.” Ela conta que, muitas vezes, não sobrava comida após cozinhar para os patrões. “Fiquei doente e não me levaram ao médico. Era um ser humano que estava sob a responsabilidade deles: não falava inglês, não tinha família aqui.” A pior parte, diz ela, era o pagamento: US$ 25 por uma jornada de 90 horas semanais, valor muito abaixo do salário mínimo local. Encerrado o contrato com a família, os patrões voltaram ao Brasil, e Tracy resolveu ficar. Um ano depois, “estava morando num subúrbio americano, casada com um americano e vivendo uma vida americana”. Com o ensino médio incompleto, ela se dedicou aos estudos. Graduou-se em psicologia e sociologia e se tornou mestre pela Universidade de Massachusetts. Hoje Tracy leciona na universidade e se prepara para obter o título de PhD com um estudo que relaciona imigração, raça, família e classe. Ao mergulhar nos estudos e abraçar a vida americana, Tracy se afastou do Brasil e dos compatriotas que tornaram Massachusetts o Estado com a maior população brasileira nos Estados Unidos. Estima-se que ao menos 200 mil brasileiros vivam no Estado, a maioria em situação irregular. Hoje ela fala português com um leve sotaque americano e titubeia na escolha de algumas palavras. Ao se comunicar com a BBC Brasil durante a realização desta reportagem, quase sempre enviava mensagens em inglês. Virar brasileira de novo Tracy dirige um centro que auxilia imigrantes em questões legais Quinze anos após se mudar para Boston, Tracy começou a se reaproximar da comunidade brasileira fazendo trabalhos voluntários. “Tinha colocado minha história numa caixinha e trancado. Quando reabri essa caixinha, eu não era mais fraca nem vulnerável: tinha poder econômico e social, e o político eu ia construir.” Em 2010, assumiu a direção do então Centro do Imigrante Brasileiro, cargo que ocupa até hoje. Maior associação brasileira nos Estados Unidos, a entidade assessora imigrantes em questões legais e se sustenta principalmente com doações de empresas. Seu papel na comunidade, somado à experiência como doméstica e à carreira acadêmica, lhe abriram portas. Com o apoio da maior central sindical do país (a American Federation of Labor and Congress of Industrial Organizations), Tracy passou a articular com outras organizações a aprovação, em Massachusetts, de uma das mais avançadas legislações estaduais sobre trabalho doméstico dos Estados Unidos. Sancionada em julho de 2014, a legislação exige, entre outros pontos, que os domésticos – mesmo os indocumentados – sejam pagos pelo total de horas trabalhadas, garante dias mínimos de descanso e cria canais para denunciar abusos. Como representante de imigrantes e trabalhadores domésticos, Tracy participou de eventos e reuniões com altas autoridades, entre as quais a senadora Democrata Elizabeth Warren, o presidente Barack Obama e o papa Francisco. Em 2014, ela foi escolhida por um conjunto de organizações e sindicatos baseados em Washington como uma das 25 principais mulheres na liderança do movimento laboral dos Estados Unidos. “Tive acesso a espaços que antes não eram abertos nem a americanos de cor. Foi poderoso.” Movimento negro Em eventos com autoridades, Tracy representa imigrantes e trabalhadores domésticos A brasileira foi eleita em 2014 uma das principais lideranças entre trabalhadores dos EUA Na universidade, Tracy viu sua história se conectar à luta dos negros americanos por direitos civis. Ela diz que uma de suas maiores referências é a abolicionista Sojourner Truth (1797-1883), que nasceu escrava e se tornou livre ao fugir quando tinha 29 anos. “Ela ajudava os escravos a se moverem à noite através de túneis para o Canadá.” Tracy diz usar histórias como a de Truth para inspirar a comunidade brasileira, por mostrarem o quanto é possível conquistar mesmo em situações adversas. Ela também associa a experiência dos imigrantes aos desafios que negros americanos vivem no presente. No escritório do Centro do Trabalhador Brasileiro, Tracy pendurou um cartaz com o lema “Black Lives Matter” (vidas de negros importam), movimento que alcançou projeção mundial em 2015 após vários negros americanos serem mortos em abordagens policiais. Mulher, negra e imigrante, diz usar a seu favor as três características, “desvalorizadas não só nesta sociedade, mas globalmente”. “Essa consciência de ser mulher, imigrante e negra, eu uso isso como uma arma, de forma que sei quem sou e sei da minha capacidade. E se você disse que eu não posso fazer alguma coisa, eu vou te provar o contrário.” Para Tracy, mesmo a vulnerabilidade vivenciada por imigrantes sem documentos pode ser usada para fortalecê-las. No debate sobre trabalho doméstico

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Do terrorismo à obesidade: as epidemias mundiais mais rentáveis

Os desafios mais rentáveis da humanidade. Envelhecimento e câncer estão entre os problemas que geram mais negócios. Pessoas buscam água no campo de refugiados de Kabo, na República Centro-Africana. Pessoas buscam água no campo de refugiados de Kabo, na República Centro-Africana. B. P. O mundo nunca teve que enfrentar tantos desafios. Terrorismo, mudanças climáticas, desigualdade, escassez de água, concentração de terras, disrupção digital, pandemias como as de câncer e de obesidade. Como se fosse pouco, o envelhecimento da população do planeta é o prelúdio de todas as grandes transformações que viveremos. Essas forças estruturais podem levar a um panorama aterrador ou a uma era em que o ser humano dê o melhor de si: sua capacidade de inovação e sua magia para sonhar soluções.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] MAIS INFORMAÇÕES “Os Estados Unidos criaram a classe média e agora a estão destruindo” O sobrepeso aos 50 anos acelera a chegada do Alzheimer O DNA manda: Alzheimer ou câncer “Não vamos nos livrar do câncer, mas podemos reduzi-lo pela metade” Atentados de Paris levam a França a enfrentar seus tabus O enorme custo da obesidade A desigualdade racha Nova York em duas A revolução será impressa Os cabelos brancos podem custar caro aos latino-americanos Há oportunidades econômicas na intersecção de todas essas forças de mudança e em todos esses desafios. Para o bem e para o mal, o mercado é capaz de transformar um problema num ativo financeiro. “Os horríveis ataques na Europa tristemente lembraram às pessoas que o terror não se detém em suas fronteiras. Por compromisso ético e social, não fazemos nenhuma recomendação sobre como lucrar com essa cicatriz, mas é impossível ignorar o uso da ciberguerra por parte desses grupos como estratégia para provocar danos no futuro”, reflete Fabiano Vallesi, analista do banco suíço Julius Bär. E a defesa nessa nova batalha é a cibersegurança. O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês) estima que o crime digital custe entre 375 e 575 bilhões de dólares (de 1,5 a 2,4 trilhões de reais) por ano. São números maiores que a riqueza de muitos países. Por isso “as empresas estão investindo mais do que nunca para se proteger”, observa Marc Martínez, especialista na área da KPMG. E isso é uma oportunidade para as empresas especializadas na nuvem e em análise de dados em grande escala (big data). Mas nesta viagem para um novo mundo, a demografia continua a ser um destino. O planeta envelhece. Pela primeira vez na história a população com mais de 65 anos passará –em 2047- a das crianças com menos de 5 anos. “É a maior transformação social, política e econômica da nossa era”, avalia a Global Coalition on Aging. “Todos subestimam a importância dos idosos, como se fazer aniversário não fosse problema nosso”, queixa-se Francisco Abad, diretor da consultoria a Best Innovación Social. Isso não combina com a matemática e com o tempo. Nos Estados Unidos, a economia da longevidade movimenta 7,1 trilhões de dólares (29 trilhões de reais). Se fosse uma nação, seria a terceira mais rica do planeta. Seus integrantes terão em 2020 no bolso um poder aquisitivo de 60 trilhões de reais. Parece impossível interromper esse movimento, entre econômico e malthusiano. Porque em 2050 já haverá no mundo mais de 2 bilhões de habitantes com mais de 65 anos de idade. Os desafios mais rentáveis da humanidadepulsa en la foto Mais tempo sobre a Terra significa também maior chance de adoecer. O câncer se tornou uma espécie de pagamento ao barqueiro pela travessia desse rio Estige representado pela vida longa. E é também um filão para a indústria farmacêutica. A tal ponto que os remédios para essa enfermidade já representam 10% do mercado farmacêutico mundial. “E nos próximos cinco anos chegará uma gama de novas drogas que farão com que as vendas de fármacos contra esse mal superem o mercado generalista”, avalia o banco UBS. Essa química revolucionária é a esperança para lutar contra uma enfermidade responsável pela morte de 25% das pessoas com mais de 65 anos. Cerca de 8,2 milhões de pessoas morrem por ano por sua culpa. Outro assassino cúmplice do tempo é a demência. A cada ano são diagnosticados 7,7 milhões de novos casos no mundo. E esse número vai triplicar em 2050. Entre todas as suas variantes, o Alzheimer é a patologia mais comum, e sua cura é considerada o santo graal da indústria farmacêutica. Nos EUA, o mercado de terceira idade movimenta 29 trilhões de reais E há outra epidemia global que ameaça ceifar milhões de vidas e custar bilhões: a obesidade. Pode ser o maior desafio na área de saúde enfrentado pelo planeta. O número de obesos e de pessoas com sobrepeso triplicou desde 1980. Nenhum país melhorou seus indicadores desde então, e a conta a pagar é astronômica. É calculada em mais de 8 trilhões de reais, o equivalente a 2,8% da riqueza do mundo. É o mesmo impacto provocado pela violência armada, pelo tabagismo, pelo terrorismo e pela guerra. Existem no planeta 671 milhões de obesos, e cerca de 2,1 bilhão de pessoas sofrem de sobrepeso. Com esses números, a doença é o parque de diversões das indústrias farmacêuticas, de empresas de alimentação e de dieta, de roupas esportivas e até de companhias aéreas. A Samoa Air foi a primeira empresa de aviação a cobrar dos passageiros em função de seu peso, e o a Airbus oferece nos aviões A320 poltronas especiais para obesos. Nova classe média Muitas dessas pessoas com sobrepeso farão parte de uma nova classe média aguardada para 2030. Nesse ano, 2 bilhões de seres humanos, metade deles na Índia, terão renda per capita de entre 10 e 100 dólares (de 41 a 410 reais) por dia. Isso significa que sua renda passará da mera subsistência, e o gasto será direcionado para o lazer, a compra de carros e o turismo. Uma vida diferente, que “abre oportunidades de investimento na indústria farmacêutica, especialmente no mercado de medicamentos genéricos de países emergentes”, relata Roberto Ruiz-Scholtes,

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Salário gordo e estabilidade vitalícia: o doce serviço público no Brasil

Em tempos de crise, conseguir um emprego público é como ganhar na loteria Em julho, o estado de Minas Gerais anunciou 32 vagas para seu Tribunal Regional do Trabalho. E recebeu 134.270 inscrições para o concurso. Não há nada de excepcional em relação a Minas Gerais nem ao seu TRT. No entanto, como o desemprego está aumentando e o Brasil está caminhando para a pior queda desde a Grande Depressão – o Standard and Poor’s acabou de rebaixar sua nota de crédito para o grau especulativo – conseguir um emprego público é como ganhar na loteria. Ele vem com um salário desproporcional, estabilidade vitalícia e benefícios que podem incluir motoristas e voos gratuitos. “O setor público oferece estabilidade: você passa no concurso e tem um emprego para o resto da vida”, disse Guilherme Alves, 21, que estava estudando o entorpecedor juridiquês em Brasília em um das centenas de cursinhos dedicados a preparar alunos para passar em um concurso estatal. “É ótimo”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O salário médio dos secretários no governo central do Brasil é 49 por cento maior, em relação ao PIB per capita, que o do México e quase o dobro que o dos países que pertencem à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. O funcionário típico do governo brasileiro ganhou 42 por cento a mais no ano passado do que o trabalhador comum. Fortes distorções Um motivo de os empregos governamentais serem “banhados a ouro” foi um programa criado há cinquenta anos para convencer brasileiros qualificados a abandonarem as praias do Rio de Janeiro e se mudarem para o árido cerrado da nova capital, Brasília. Isso exacerbou fortes distorções na economia: os brasileiros pagam impostos surpreendentemente altos para financiar um setor estatal inchado que oferece serviços públicos deficitários. O setor privado também ficou sufocado. “Nós não conseguimos pagar o aparato estatal que construímos”, disse Gil Castello Branco, secretário-geral da Associação Contas Abertas, que supervisiona os gastos do governo. Depois que o rebaixamento da nota de crédito do Brasil foi anunciado, noticiou-se que o governo está pensando em congelar o salário dos servidores públicos. Por enquanto, juízes e parlamentares podem chegar a ganhar 30 vezes o salário médio do setor privado, além de regalias. O Brasil emprega menos servidores públicos per capita do que os EUA, a França ou a Alemanha. Mas tem muito menos recursos, de maneira que menos dinheiro vai para os serviços públicos, disse David Fleischer, professor emérito de Ciência Política da Universidade de Brasília. Pensão vitalícia No ano passado, o governo federal gastou 20,6 por cento do PIB em salários, benefícios e despesas administrativas, restando apenas 1 por cento para investimentos, de acordo com a Associação Contas Abertas. Atrair os brasileiros capacitados para a nova capital com salários altos também provocou outros desequilíbrios. Uma pensão para agricultores, que contribuem minimamente à previdência social, foi instaurada em meados dos anos 1980. As filhas solteiras de militares falecidos recebem uma pensão vitalícia, então muitas convivem com seus parceiros sem se casar, disse Fleischer. Tudo isso distorceu fortemente as condições do setor privado, de acordo com José Pastore, ex-professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo e ex-membro do Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho. “As prioridades estão desequilibradas”, disse Pastore em uma entrevista por telefone. “O setor privado emprega o grosso da força de trabalho e não tem os cursos nem os incentivos oferecidos aos funcionários públicos”. Direito indiscutível Na tentativa de reduzir o déficit orçamentário, de mais de 8 por cento do PIB, no início deste ano o governo cortou alguns benefícios de trabalhadores e pensionistas. Em agosto, a presidente Dilma Rousseff prometeu acabar com 10 dos 39 ministérios existentes. Mas essas medidas provavelmente não farão muita diferença. “O impacto fiscal não é muito grande, é mais simbólico”, disse Raul Velloso, da ARD Consultores Associados, uma firma de consultoria empresarial com sede em Brasília. Embora o governo tenha conseguido estipular um teto para o total de gastos da folha de pagamento dos servidores públicos, muitos dos benefícios trabalhistas e despesas obrigatórias fazem parte da lei, o que deixa pouco espaço de manobra, disse Dyogo Oliveira, secretário executivo do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em uma entrevista. Implementar padrões para medir o desempenho também é difícil, disse ele. “O direito à estabilidade no trabalho está na Constituição, é indiscutível”, disse ele. Por Raymond Colitt

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Demissões na imprensa: a profecia que devorou o profeta

Reproduzimos abaixo inteligente análise de Luciano Martins, sobre a relação entre o pessimismo apocalíptico da mídia e os “passaralhos” (jargão das redações para demissões). A profecia que devora o profeta Jornalistas que foram demitidos da Folha de S. Paulo fazem circular uma carta do jornal, assinada pelo editor-executivo Sérgio Dávila, justificando os cortes ocorridos na semana passada. Como se sabe, o diário paulista vem reduzindo sua força de trabalho desde janeiro. O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo considera que se trata de uma tática para evitar que se configure uma demissão em massa, caso em que as entidades sindicais precisam ser avisadas com no mínimo 30 dias de antecedência. Na linguagem peculiar dos momentos de crise, o texto começa assim: “A Folha realizou nos últimos dias ajustes em sua equipe. A redução é efeito da crise econômica que afeta o país e atinge a publicidade”. Esse é o ponto central a ser discutido neste espaço, mas há outras questões levantadas na mensagem que merecem atenção. Por exemplo, informa-se que equipes serão reagrupadas e outras mudanças deverão ser anunciadas. O executivo chama o adensamento de grupos editoriais menores em equipes maiores – caso de Ciência e Saúde, que se agrega ao caderno Cotidiano – de “mudanças morfológicas”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O jornal promete que essas futuras movimentações “não envolverão novos ajustes” – expressão que ameniza a dureza das demissões. O objetivo, afirma, “é tornar o jornal mais eficiente para atender as demandas do leitor bem como otimizar o funcionamento da redação”. O comunicado assegura que a Folha “continua líder em seu segmento, seja em circulação, audiência ou fatia publicitária, faz parte de uma empresa sem dívidas, que integra o segundo maior grupo de mídia do país, e preserva sua capacidade de investimentos editoriais”. Portanto, é de se concluir que se trata de dificuldades circunstanciais. Na lógica do negócio, quem paga pela circunstância desfavorável é sempre o jornalista, não o executivo que errou na estratégia ou na gestão da empresa. No caso das empresas jornalísticas, pode-se afirmar que um dos elementos mais interessantes desse jogo é o fato de que a imprensa tradicional tem se dedicado, ano após ano, a convencer o leitor de que a economia brasileira está no caminho errado. Quando o anunciante, diante de tanto pessimismo, resolve poupar seu dinheiro, cumpre-se a profecia. O viés negativo Há sempre mais de uma maneira de dar uma notícia, como se diz na velha anedota sobre o gato que subiu no telhado. Por exemplo, se o leitor procurar o mesmo assunto em duas fontes distintas, poderá encontrar duas versões diferentes do mesmo fato, apesar da grande homogeneidade que se observa nos principais veículos de comunicação do Brasil. No caso do noticiário econômico, predomina um viés negativo, mas mesmo nesse contexto pode-se fazer interpretações variadas. Vejamos, seletivamente, como os principais diários de circulação nacional abordam nas edições de sexta-feira (24/4) um mesmo assunto: o índice de emprego. O Globo coloca o tema no rodapé da notícia sobre o projeto de terceirização, com o seguinte subtítulo: “País volta a gerar empregos formais”. O Estado de S. Paulo traz reportagem de tamanho médio, na parte inferior de uma página onde o destaque é também a terceirização. Diz o título: “Economia brasileira cria 19 mil vagas de emprego em março”. Observe-se, agora, como a Folha de S. Paulo trata os mesmos indicadores. No alto da página, com dois infográficos que mostram a queda da oferta de empregos no trimestre e a recuperação ocorrida no mês de março, o leitor se depara com o título: “Emprego formal tem pior 1º trimestre desde 2002”. Em termos de comparação, leia-se que o especialista Valor Econômico publica o seguinte título: “Mesmo com março melhor, emprego é negativo no 1º trimestre” – e a reportagem, mais equilibrada, registra uma diversidade maior de interpretações de analistas e autoridades. Não se está aqui a dizer que a imprensa deve sempre procurar o lado mais otimista dos acontecimentos, porque uma de suas funções é manter a sociedade alerta tanto para oportunidades como para riscos ao seu bem-estar. O que, sim, se pode conjecturar, é que tem razão o ministro do Trabalho, citado nas reportagens, quando afirma que o discurso de que o país está em crise, repetido desde a campanha eleitoral do ano passado, afeta a criação de empregos. Se o leitor tiver acesso aos três diários de circulação nacional, mais o Valor Econômico, vai entender o seguinte: a oferta de empregos caiu no terceiro trimestre mas se recuperou em março; os contratos para grandes obras estão sendo retomados, o que pode conter os cortes na construção civil; a publicação do balanço da Petrobras é vista pelo mercado com otimismo; o setor de serviços segue em pleno crescimento. Nas redações, as profecias catastrofistas devoram os profetas. Por Luciano Martins Costa no Observatório da Imprensa.

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