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Ópio, USA e a família Sackler

Quem é a família de bilionários acusada de se beneficiar da crise de drogas nos EUA Direito de imagemREUTERSO comércio e marketing do OxyContin gerou um aumento nas prescrições de opióides nos Estados Unidos e pode estar na origem da epidemia de dependência Eles deram o sobrenome a universidades, salas de museus, centros de pesquisa, galerias e até a um planeta fora do Sistema Solar. São uma das famílias mais poderosas dos Estados Unidos- mais rica que os Rockefeller- e também das mais discretas e filantrópicas, a ponto de serem chamados de os “Médici do século 20”. Mas o que poucos sabem é que a enorme fortuna dos Sackler – com a qual compram arte, criam fundações e instituições, patrocinam salas no Louvre e no Museu Britânico, abrem escolas em Israel e fundam dezenas de programas científicos e culturais por todos os lados – tem um passado obscuro. É uma história e uma fortuna que começam com três irmãos, passam por uma campanha de marketing e chega a uma epidemia sem precedentes de consumo e dependência de drogas opioides. Uma crise de saúde que levou os Estados Unidos a declarar, na semana passada, uma emergência de saúde pública que tem deixado mais mortos que a guerra do Vietnã e do Afeganistão juntos, sem que um tiro fosse disparado. O começo da fortuna Tudo começa no final do século 19, quando Arthur, Mortimer e Raymon Sackler, três irmãos psiquiatras do Brooklyn, fundaram em Greenwich Village, em Nova York, uma pequena empresa de medicamentos. Viram nela uma possibilidade de um negócio familiar e, em 1950, compraram, com os lucros, a Purdue Pharma, uma farmacêutica que, no início, gerava recursos com a venda de removedores de cera de ouvido, laxantes e o antisséptico de cor laranja iodopovidona, usado em cirurgias. Mas a entrada de dinheiro da produção de analgésicos na década de 1980 catapultou o negócio dos Sackler. Pouco menos de um século depois de sua fundação, a empresa era um gigante farmacêutico mundial e havia transferido sua sede para Stamford, em Connecticut. Direito de imagemGETTY IMAGESOs Sacklers financiaram um pátio futurista no Museu Britânico, que foi batizado com o nome da família No entanto, o grande êxito comercial veio em 1995, quando lançaram no mercado o OxyContin, um medicamento para a dor, com base em opioides, que era quase três vezes mais forte que a poderosa morfina. “O OxyContin é um analgésico que se sintetiza a partir da tebaína, uma substância presente no ópio. Ou seja, é da família da heroína”, explica à BBC Mundo o médico Brandon Marshall, professor de epidemiologia da Universidade de Brown, em Rhode Island. Além da capacidade de neutralizar a dor, esse remédio tem um potencial perigosamente alto de gerar dependência, ressalta Marshall. “Antes do surgimento do OxyContin, era muito raro os médicos prescreverem opiodes para combater a dor, mas foi tão grande a campanha de marketing realizada pela Pardue Pharma que o OxyContin se converteu num êxito de venda”, diz Marshall. As autoridades dos Estados Unidos aprovaram o medicamento naquele mesmo ano, em 1995, e já em 2001 as vendas alcançaram US$ 1,6 bilhão, superior às vendas do Viagra, e representavam cerca de 80% da receita da empresa dos Sackler. Direito de imagemGETTY IMAGESTrump declou na quinta que a crise de dependência em substâncias derivadas do ópio nos Estados Unidos, como a heroína, é uma emergência de saúde pública Uma investigação realizada por Marshall e publicada no American Journal of Public Healthindica que, desde a aprovação do OxyContin, várias farmacêuticas se engajaram em ações de marketing e “subornos” para convencer os médicos a prescrever opioides. Vários especialistas consultados pelas publicações New Yorker e Enquire também argumentam que a campanha levada a cabo pela Pardue Pharma contribuiu para que a prescrição desse tipo de medicamento fosse menos rigorosa, aumentando o número de dependentes entre a população. Só em 2012, médicos prescreveram mais de 282 milhões de receitas de analgésicos opioides, incluindo OxyContin, Vicodin e Percocet, uma quantidade que equivale a quase um frasco para cada habitante dos Estados Unidos. De acordo com pesquisa de Marshall, entre agosto de 2013 e dezembro de 2015, várias empresas farmacêuticas, entre elas a Pardue Pharma, pagaram mais de US$ 46 milhões a 68 mil médicos em todo o país por meio de refeições, viagens e honorários para os incitar a receitar opioides. A fortuna dos Sacklers se multiplicou e, em 2016, elas foram classificadas entre as famílias mais ricas dos Estados Unidos, com uma fortuna em ascensão, segundo cálculos da revista Forbes, de US$ 13 bilhões. Mas à medida que o consumo desses medicamentos aumentava nos EUA – e a fortuna dos Sackers disparava -, o uso de opioides causava uma catastrófica epidemia com uma magnitude de mortes sem precedentes. Epidemia Segundo Marshall, a história dos Sakler está atrelada à origem da atual crise de opioides. Uma situação que saiu tanto do controle que o presidente Donald Trump precisou declarar emergência de saúde pública. Dados fornecidos pela Agência de Investigação e Qualidade de Assistência Médica dos Estados Unidos indicam que, no ano passado, mais de 60 mil pessoas morreram no país por overdose de opiáceos (substâncias derivadas do ópio). Em 2014, cerca de 1,3 milhão de pessoas foram tratadas por esse motivo em clínicas e emergência de hospitais. Não foi o OxyContin, porém, a droga mais usada naquele ano, mas sim, a heroína e o fentanilo, uma droga de produção caseira 50 vezes mais poderosa quer a primeira. “Mas o OxyContin está na base de tudo”, assegura Marshall. Mais de 60 mil pessoas morreram por overdose de substâncias derivadas de ópio “Agora sabemos que as agressivas estratégias de marketing implementadas pela Purdue Pharma (e outras empresas) para promover o tratamento de dores crônicas com opioides receitados e as táticas que minimizaram as informações sobre risco de dependência foram o fator chave da crise atual”, assegura. De acordo com especialistas, estes medicamentos estão na base do surto de dependência e a epidemia de opiáceos vivida hoje pelos Estados Unidos. Organizações como

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A Islândia sabe como acabar com as drogas entre adolescentes, mas o resto do mundo não escuta

Nos últimos anos, o país reduziu drasticamente o consumo de tabaco, drogas e álcool entre os jovens Meninas numa academia de Reykjavik Dave Imms para Mosaic. Falta pouco para as 15h de uma ensolarada tarde de sexta-feira, e o parque de Laugardalur, perto do centro de Reykjavik, está praticamente deserto. De vez em quando, um adulto passa empurrando um carrinho de bebê. Mas, se os jardins estão rodeados de casas e edifícios residenciais, e os meninos já saíram do colégio, onde estão as crianças? Sou acompanhada em meu passeio por Gudberg Jónsson, um psicólogo islandês, e Harvey Milkman, professor de psicologia norte-americano que leciona na Universidade de Reykjavik durante uma parte do curso. Há 20 anos, conta Gudberg, os adolescentes islandeses estavam entre os que mais bebiam na Europa. “Nas noites de sexta, você não podia andar pelas ruas do centro de Reykjavik porque não se sentia seguro”, diz Milkman. “Havia uma multidão de adolescentes se embebedando diante de todos.” Chegamos perto de um grande edifício. “E aqui temos a pista de patinagem coberta”, informa Gudberg. Minutos atrás, passamos por duas salas onde se joga badminton e tênis de mesa. No parque também há uma pista de atletismo, uma piscina com aquecimento geotérmico e, finalmente, um grupo de crianças jogando futebol com entusiasmo sobre grama sintética. Não há jovens passando a tarde no parque neste momento, explica Gudberg, porque eles se encontram nas instalações fazendo atividades extra-escolares ou em clubes de música, dança e arte. Talvez também tenham saído com os pais. A Islândia ocupa hoje o primeiro lugar no ranking europeu sobre adolescentes com um estilo de vida saudável. A taxa de meninos de 15 e 16 anos que consumiram grande quantidade de álcool no último mês caiu de 42% em 1998 para 5% em 2016. Já o índice dos que haviam consumido cannabis alguma vez passou de 17% para 7%, e o de fumantes diários de cigarro despencou de 23% para apenas 3%. A Islândia ocupa hoje o primeiro lugar no ranking europeu sobre adolescentes com um estilo de vida saudável. O país conseguiu mudar a tendência por uma via ao mesmo tempo radical e empírica, mas se baseou, em grande medida, no que se poderia denominar de “senso comum forçado”. “É o estudo mais extraordinariamente intenso e profundo que já vi sobre o estresse na vida dos adolescentes”, elogia Milkman. “Estou muito bem impressionado com seu funcionamento.” Se fosse adotado em outros países, diz ele, o modelo islandês poderia ser benéfico para o bem-estar psicológico e físico geral de milhões de jovens. Isso sem falar dos orçamentos dos organismos de saúde e da sociedade como um todo. Um argumento que não pode ser ignorado. “Estive no olho do furacão da revolução das drogas”, diz Milkman, enquanto tomamos um chá em seu apartamento em Reykjavik. No início dos anos setenta, quando trabalhava como residente no Hospital Psiquiátrico Bellevue de Nova York, “o LSD já estava na moda, e muita gente fumava maconha. Havia um grande interesse em saber por que as pessoas consumiam certas drogas.” Em sua tese de doutorado, Milkman concluiu que as pessoas escolhiam a heroína ou as anfetaminas dependendo de como queriam lidar com o estresse. Os consumidores de heroína preferiam se insensibilizar, enquanto os usuários de anfetaminas optavam por enfrentar o estresse ativamente. Quando o trabalho foi publicado, Milkman entrou para um grupo de pesquisadores recrutados pelo Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas dos EUA para que respondessem a determinadas perguntas. Entre elas, por que as pessoas começam a consumir drogas, por que continuam consumindo, quando atingem o limite do abuso, quando deixam de consumi-las e quando têm recaída. “Qualquer aluno da faculdade poderia responder à pergunta sobre por que começa: é que as drogas são fáceis de conseguir e os jovens gostam de riscos. Também é preciso levar em conta o isolamento e talvez a depressão”, afirma. “Mas, por que continuam consumindo? Por isso, passei à pergunta sobre o limite do abuso… e me iluminei. Vivi minha própria versão do ‘eureka!’. Os garotos podiam estar à beira da dependência inclusive antes de tomar a droga, pois o vício estava na maneira como enfrentavam seus problemas.” Na Universidade Estatal Metropolitana de Denver, Milkman foi fundamental para o desenvolvimento da ideia de que a origem dos vícios estava na química cerebral. Os menores “combativos” procuravam ter “sensações intensas” e podiam consegui-las roubando calotas de carro, rádios e depois os próprios carros – ou através das drogas estimulantes. Claro que o álcool também altera a química cerebral. É um sedativo, mas primeiro seda o controle do cérebro, o que por sua vez pode suprimir as inibições e, em doses limitadas, reduzir a ansiedade. “As pessoas podem se tornar dependentes de bebida, carro, dinheiro, sexo, calorias, cocaína… de qualquer coisa”, diz Milkman. “A ideia da dependência comportamental se transformou no traço que nos caracteriza.” Dessa ideia nasceu outra. “Por que não organizar um movimento social baseado na embriaguez natural, em que as pessoas ‘sintam barato’ com a química de seu cérebro – porque me parece evidente que as pessoas desejam mudar seu estado de consciência – sem os efeitos prejudiciais das drogas?” “Por que não organizar um movimento social baseado na embriaguez natural, em que as pessoas sintam barato com a química de seu cérebro – porque me parece evidente que as pessoas desejam mudar seu estado de consciência – sem os efeitos prejudiciais das drogas?” Em 1992, sua equipe de Denver obteve uma subvenção de 1,2 milhão de dólares (3,7 milhões de reais) do Governo para criar o Projeto Autodescoberta, que oferecia aos adolescentes maneiras naturais de se embriagar, alternativas aos entorpecentes e ao crime. Os cientistas pediram aos professores, assim como às enfermeiras e aos terapeutas de centros escolares, que lhes enviassem alunos. E incluíram no estudo meninos de 14 anos que não achavam que precisavam de tratamento, mas que tinham problemas com as drogas ou com crimes leves. “Não lhes contamos que vinham para uma terapia, e sim que lhes ensinaríamos algo que quisessem aprender: música, arte, dança, hip hop ou artes marciais”, explica. A

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Crise de opioides e a ausência de salas de injeção nos EUA

Epidemia de grupo de drogas que inclui heroína provocou cerca de 50 mil mortes nos Estados Unidos em 2016. Apesar de bons exemplos internacionais, país hesita em estabelecer locais de injeção supervisionada. No Canadá, existe a única sala de injeções assistidas na América do Norte “Silêncio – Sala íntima”, lê-se numa placa de um hospital em Maryland. “Eu não queria ir até lá, porque sabia para que servia aquele quarto”, lembra-se Toni Torsch. Mas, finalmente, ela teve que ir e enfrentar o que os médicos tinham para dizer. Foi em 3 de dezembro de 2010, o dia em que seu filho Daniel morreu de uma overdose acidental de heroína. Ele tinha 24 anos e era dependente de opioides [drogas com efeitos semelhantes à morfina], um vício que havia desenvolvido sete anos antes. Um médico lhe prescrevera o analgésico oxicodona para ajudar a aliviar a dor de uma lesão ocorrida quando jogava futebol. Foi quando começou o que ele chamava de “problema de pílulas”. Depois do tratamento, ele continuou comprando o medicamento nas ruas ou na escola. Mais tarde, ele recorreu à heroína, que era mais barata e mais fácil de encontrar. “Para ele, era vergonhoso e constrangedor”, disse Torsch à DW. “Ele não queria que ninguém soubesse.” Ao longo dos anos, contou a mãe, ele tentou superar o vício várias vezes seriamente – mas não conseguiu acalmar a “fera”, como ele chamava a sua dependência de opioides. Poupando vidas e dinheiro Histórias como a de Daniel tornaram-se muito comuns nos EUA, onde uma epidemia de opioides está devastando famílias e municípios. No ano passado, por volta de 50 mil pessoas morreram por overdose de opioides, incluindo a heroína e o ainda mais forte fentanyl, segundo dados oficiais preliminares. Isso corresponde a um número dez vezes maior que em 2000. Daniel Torsch, ao lado da mãe, Toni, morreu de overdose de opioides aos 24 anos Diante desta epidemia, o presidente Donald Trump declarou nesta quinta-feira (26/10) a crise de opioides como emergência de saúde pública. A medida facilita que recursos governamentais sejam redirecionados para combater esse problema. “Essa epidemia é uma emergência de saúde pública nacional. Como americanos, não podemos permitir que isso continue”, disse Trump, durante um discurso na Casa Branca. O presidente afirmou ainda que a crise não está poupando nenhuma parte dos EUA. O país está procurando maneiras de reduzir as mortes por abuso de drogas e ajudar as pessoas a sair do seu vício. Uma ideia que está sendo discutida de forma controversa é o estabelecimento de salas para injeção supervisionada ou SIFs (Safe Injection Facilities). Esses são espaços onde os viciados em opioides podem usar drogas que adquiriram em outros lugares, sem medo de perseguição legal. Isso ajuda a evitar mortes por overdose, pois há uma equipe médica no local para intervir em caso de emergência. Críticos dizem que as SIFs iriam basicamente legalizar, tolerar e até mesmo incentivar o uso de heroína. Em outros países, principalmente na Europa, tais salas já existem há muito tempo. A primeira foi aberta em Berna, na Suíça, em 1986. Nos EUA, apesar do aumento das mortes por overdose, não existe nenhuma. “Isso tem que acontecer”, disse Torsch, falando a favor das SIFs. “Eu não quero lutar para que as pessoas consumam mais heroína. Eu só quero lutar para salvar vidas.” Após a morte de seu filho, ela e sua família criaram uma fundação que ajuda famílias afetadas pelo vício de opioides na região de Baltimore, Maryland. Aqui, dois estudos deram um argumento forte para o estabelecimento das SIFs na cidade. Um deles estima que uma única sala poderia evitar seis mortes por overdose a cada ano. Além disso, os autores da pesquisa afirmam que as SIFs poderiam gerar 6 milhões de dólares anuais – porque, por exemplo, reduziriam o número de chamadas de ambulâncias e as visitas de emergência. Insite, em Vancouver, disponibiliza cabines onde usuários podem aplicar droga adquirida externamente Essas estimativas são baseadas em dados da Insite em Vancouver, Canadá – que é até agora a única sala de injeção supervisionada na América do Norte. Com mais de 3,6 milhões de injeções desde que abriu em 2003, o projeto canadense não registrou uma só morte por overdose desde então. Em Maryland, assim como nos EUA como um todo, o tema é controverso. No início deste ano, um deputado na Assembleia Legislativa do estado do leste americano apresentou um projeto de lei que abriria o caminho para o estabelecimento de SIFs em Baltimore. Não foi aprovado. Na época, o governador Larry Hogan chamou a proposta de “absolutamente insana” e “idiota”. Seu gabinete não respondeu a um pedido da DW, perguntando por que ele se opôs às SIFs. “Nenhuma varinha mágica” Em outras cidades, como Nova York e São Francisco, também há debates sobre a abertura ou não de SIFs. Na região de Seattle, os legisladores já concordaram em estabelecer duas salas piloto, mas até agora nenhuma abriu. Muitas cidades da região, no entanto, até proibiram SIFs em seu território. Um grupo chamado I-27 tem feito campanhas para eliminar a ideias das salas como um todo e, em vez disso, se concentrar no tratamento tradicional. Na semana passada, um juiz derrubou os planos da iniciativa para que as pessoas decidissem sobre o assunto. O líder do grupo, Joshua Freed, afirmou que ele e seus companheiros iriam continuar lutando contra as SIFs. “Acho que, em vez de continuar permitindo o uso, uma sociedade atenciosa diz: ‘vamos encontrar um lugar onde você possa ser ajudado’”, defendeu. Para Torsch, uma SIF seria exatamente esse tipo de lugar. “Não vai ser uma varinha mágica. Mas se trata de mais um espaço, de mais uma oportunidade para pessoas com essa doença”, afirmou. “Temos a esperança de que possamos ajudar outras famílias a evitar a dor com que convivemos.” Deutsche Welle

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Drogas – Heroína está afundando os Estados Unidos

Os EUA nas garras da heroína Luis Orozco, 24 anos, nesta semana em Miami P. D. LL. Nesse gueto de Miami, a cocaína é chamada de girl – menina — e a heroína, de boy – menino. Presidente Donald Trump declara epidemia de opiáceos como emergência nacional. O EL PAÍS conversou com três dependentes químicos e com um quarto que superou o vício. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] “Quer boy?”, pergunta um traficante. Pois todos os brancos que aparecem nas ruas desoladas do bairro negro de Overtown querem, precisam urgentemente do boy. Manhã úmida, nublada, quente. Um ruivo anda de bicicleta. Não consegue parar. Está atrás da sua dose. “Depois, se você quiser, dou cem entrevistas”. E sai pedalando. Jason, filho de cubanos, 30 anos. Não revela o sobrenome. Não quer ser fotografado. Mas conta: “Comecei com os comprimidos e depois passei para a manteiga. E quando você experimenta a manteiga, não quer mais saber dos comprimidos”. “Manteiga” é o boy. Jason jogava beisebol. Vem “de boa família”. Sua irmã está se formando em advocacia. Jason: “Ainda estou tentando entender que merda que aconteceu com a minha vida!”.´ São os Estados Unidos. É a epidemia de heroína, de opiáceos sintéticos que vem da China como mísseis tomahawk em pó, dos analgésicos viciantes da indústria farmacêutica receitados como se fossem balas – cerca de 300 milhões de comprimidos por ano desde 2000. A epidemia que Trump decretou como emergência nacional em 10 de agosto. É essa torrente numérica: 35.000 mortos – cerca de cem por dia — por causa de overdose de heroína e outros opiáceos em 2016, ano que bateu um recorde histórico de mortes causadas por drogas: 60.000, mais do que em toda a Guerra do Vietnã; no Estado de West Virginia, em 2015, o índice foi de 36 mortos por opiáceos para cada 100.000 habitantes, superior ao de 30 por 100.000 homicídios registrados na Guatemala no mesmo ano. Um assessor de Trump sintetiza: “É um 11 de Setembro a cada três semanas”. “Sou uma menina de vilarejo” Cary Morissette, 28 anos P. D. LL. Estava comprometida, ia me casar, ter filhos. Era gerente de um Wendy’s… Cary Morissette tem 28 anos, é dependente desde os 20. Está cansada: “Quando você acorda de manhã, primeiro toma o café da manhã e depois escova os dentes. Eu acordo suando, primeiro vomito e depois, se não guardei nada do dia anterior, saio para comprar a minha dose”. Passa um outro traficante, oferece a sua droga, mostra seus dentes cheios de ouro. Cary, com seus dentes estropiados, é de Maine. Belo, cheio de florestas, na fronteira com o Canadá, um dos Estados mais atingidos pela epidemia. “Sou uma menina de vilarejo, o típico lugar onde todos se conhecem”. Pupilas dilatadas. Como no caso de Jason, ela conta que a sua é uma “boa família americana”. “Que fazia esporte – softball –, tinha “um pai incrível”, “irmãs maravilhosas”. De repente, um dia, começou a fumar cocaína em pedra feito uma desesperada e depois passou a ingerir heroína na veia. “Estava comprometida, ia me casar, ter filhos. Era gerente de um Wendy’s [dá uma risada, desdenhando o mérito de seu cargo na rede de hambúrgueres], mas ia abrir a minha própria doceria para fazer bolos de casamento”. Ela sua, sua muito. “Veja como estou agora. Cheia de infecções”. Uma amiga, bastante pálida, se aproxima. “Eu comecei com comprimidos”. Característica típica da questão: brancos que se viciaram em pílulas. E daí passaram para o cavalo. Cary não quer parar para pensar sobre o motivo dessa epidemia nos EUA. Simplesmente diz: “Isso é nojento”. Mas sua amiga comenta: “É porque nós somos os mais viciados do mundo e só sabemos desfrutar em excesso. Como os obesos são com a comida, nós somos com isso”. Jesse Thompson, 24 anos P. D. LL. Você não faz ideia de como o Hermitage é bonita. Mas, se eu tivesse ficado mais um dia ali, acabaria morto “Os comprimidos eram o céu” Ele tem 24 anos, não consegue entender como não morreu e agradece a Deus por já estar limpo há um ano e meio. Jesse Thompson, “inter-racial, pai branco e mãe negra”, nascido em Hermitage (Pensilvânia, outro estado afetado). Graciosa, cheia de sol, um verdadeiro pomar de centros de reabilitação, confim peninsular aonde fugir para tentar renascer é um ponto de atração para drogados de todo o país. Foi aqui que Thompson se livrou das “garras da heroína” e agora trabalha ajudando dependentes. “Você não faz ideia de como Hermitage é bonita. Mas, se eu tivesse ficado mais um dia ali, estaria morto”. Jogava futebol americano. Foi operado. Deram-lhe analgésicos. “Com os primeiros comprimidos, eu entendi que tinha encontrado o que precisava. Eu me sentia no céu, invencível, como se ninguém pudesse me atingir”. Depois de alguns meses as receitas acabaram e ele foi tentar comprar comprimidos de um amigo do colégio. “Ele não tinha mais e disse: ‘mas tenho heroína’. Eu não estava aguentando a crise de abstinência das pílulas e então respondi: ‘Me dá isso já’”. E, como um “animal viciado”, chegou a gastar mais de 200 dólares por dia com heroína. Queimava todo o salário ganho como funcionário de uma construtora e ainda roubava mais mil por semana do cartão de crédito da mãe. Luis Orozco, 24 anos ANTONI BELCHI Tudo que lhe vendem agora, mesmo dizendo que é heroína, é fentanil. É terrível Jesse foi frequentador assíduo de Overtown. Agora não é mais. A entrevista foi dada em um bairro tranquilo, enquanto desfrutava de um hambúrguer com bacon. Acompanha tudo sobre a epidemia, combate na linha de frente contra ela e prevê: “Isso não vai parar. Vai piorar. Pode acreditar”. “Ando entre a vida e a morte” Carly diz seu nome, mas não o sobrenome. “Coloque Carly R.”. Tem 36 anos, usa drogas desde os 19, é de Miami. Já esteve 11 vezes em clínicas de reabilitação. Tem rosto de criança. Chora ao falar da família. “Tive tudo o que queria, mas era uma menina problemática”. Por mais nociva que a droga seja, ela se queixa de que a heroína anda escassa. “Tudo que vendem para você hoje,

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Brasil: uma Narco República

[ad name=”Retangulo – Anuncios – Esquerda”]Essas ações pontuais, emergenciais e temporãs das Forças de Segurança Brasileira, contra a violência generalizada, são inócuas. A Narco Política continuará intocável. Uma casta que já controla, de há muito, e desde o topo, o Estado Brasileiro. A Narco Política no Brasil é cínica e opera às escâncaras. Dez Kg de produtos químicos, podem desdobrar 10Kg de Pasta Base em 12 Kg de cocaína pura e 48.000 pedras de crack. Considerando a quantidade de cocaína consumida e apreendida no Brasil, deduz-se que a quantidade de produtos químicos necessários para refinar toneladas de Pasta Base, não podem ser produzidos no quintal do Zé das Couves, nem transportados em garrafas Pet na cangalha de burros tropeiros. Aos que acreditam que um Mané nos becos de morros e favelas Brasil afora comando tudo isso, recomendo esse documentário – não é fácil de encontrar, mas procurando ele aparece. Depois, é só replicar a lógica para a Taba dos Tapuias.

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Narcotráfico e a nova guerra do ópio

“Apenas” 272 Toneladas de Crack foram apreendidas no Rio de Janeiro em 2016. De janeiro a maio de 2017 as apreensões aumentaram 72% em relação ao mesmo período em 2016. Agora vão imaginando p que passa em helicópteros, jatinhos… Nos anos 80, o General norte americano Paul Gorman, comandante de tropas americanas sediadas no Panamá, declarou: “O povo norte-americano deve compreender que nossa segurança e a de nossos filhos está ameaçada pelos cartéis latinos da droga que tem mais êxito subversivo nos EUA do que tudo o que vem de Moscou (…) Para empreender uma ação armada com qualquer fim, o lugar propício para encontrar dinheiro e fuzis é o mundo das drogas.” Em 1985, um grupo de investigadores da Intellience Review, publicou um livro intitulado NARCOTRÁFICO S.A. – A NOVA GUERRA DO ÓPIO”- recomendo a leitura. Disponível na Amazon, mas somente em inglês e espanhol, onde lemos a afirmação: “Os herdeiros da velha Companhia Britânica das Ìndias Orientais – a mesma monarquia britânica e algumas das mesmas casas bancárias – iniciaram a nova Guerra do Ópio, exatamente com o mesmo objetivo da primeira vez: saquear as nações, destruí-las e sobretudo manter o poder do império”. No Brasil, enquanto nos ocupamos, inútil e quixotescamente, com a invencível corja de ratos politicos, o povo, do topo à base da pirâmide, somos bucha de canhão em uma guerra assimétrica, que nos aterroriza e que nos faz reféns das drogas e das quadrilhas que se multiplicam, cooptando a infância e a juventude, destruindo famílias e matando mais gente de fome, doença, tiroteios, assaltos e acidentes de trânsito, que em guerras declaradas. PS.1.E ainda há inocentes que acreditam que um apocalipse dessa dimensão pode ser resolvido com pena de morte e Polícia. Os policiais são heróis, mas não podem fazer milagres. PS.2. O nome George Soros não ficaria estranho nesse texto. E o mantra é simples na seara da ciência econômica; sem demanda não há oferta.

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Crianças, tráfico de drogas e pena de morte

As crianças e os adolescentes jurados de morte pela polícia e pelo tráfico de drogas Ilustração de Julio Falas Em São Paulo, burocracia e atrasos em repasses de verbas de programa especial deixam sem proteção jovens ameaçados de morte. Em 2017, 48% das ameaças vieram de policiais. Diante dos Defensores Públicos da Vara da Infância e Juventude de São Paulo, Gorete afirma se sentir mal com a possibilidade de “perder” o filho, ameaçado por policiais militares em fevereiro. Ela pede que D., que deixou a Fundação Casa recentemente, seja atendido pelo Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), instituído em 2007 pelo governo federal. “Eles entraram na minha casa com o intuito de matar o meu filho. Não tinham nem a identificação na farda”, conta emocionada, ao relembrar o episódio. Apesar de a Defensoria avaliar como concreto o risco de o adolescente morrer, mãe e filho saíram da conversa sem a garantia de ingresso no PPCAAM. O problema, explicou depois a defensora Claudia Abramo, é que o programa paulista não tem aceitado novos casos desde janeiro. “A gente manda para inclusão e recebe de volta”. “O que a gente faz é conversar com o adolescente e família para entender a extensão desta ameaça. Isso é frágil, mas é o que a gente tem hoje”, reclama. Gorete relatou que a ameaça ocorreu por volta da meia-noite, quando quatro policiais teriam revirado sua casa em busca de um revólver. “Disseram que meu filho foi denunciado. Como não acharam nada, colocaram uma arma na cabeça da minha filha de 12 anos. ‘Onde o seu irmão guarda uma [arma] dessa aqui, ó?’” Em seguida, disseram que dariam “um descanso” no adolescente. “Perguntei ‘que tipo de descanso?’. Um olhou para a cara do outro: ‘Vamos fazer assim: quando seu filho chegar, você liga pra gente’. Eu comecei a chorar e falei: ‘Não, eu não vou ligar. Não vou dar meu filho de bandeja pra vocês’. ‘A senhora é mãe, né? Mas a gente vai voltar e, quando a gente voltar, a gente dá cabo do seu filho aqui’.” Após o episódio, o menino não dormiu mais em casa. Na mesma noite, a mãe saiu à sua procura pelas ruas do bairro e o encontrou antes dos policiais. Para protegê-lo, contou com a “rede de proteção” dos amigos e abrigou-o na casa de um conhecido. “Eu sinto medo. Quando vejo uma viatura, fico olhando para ver se são eles. Fico na casa dos meus amigos, jogando videogame, durmo lá. Só vou pra casa às vezes para falar com a minha mãe e a avó, para dizer que estou bem”, disse D. aos defensores. Além da Defensoria Pública, Ministério Público, Tribunal de Justiça e Conselho Tutelar são as outras portas de entrada para o PPCAAM, que é realizado por meio de dois convênios: um da União com os estados e outro de cada estado com as ONGs executoras. Na ausência do programa, é implementado um Núcleo Técnico Federal ligado diretamente à coordenação nacional do PPCAAM. Atualmente, além de São Paulo, o programa abrange 13 estados. Em São Paulo, o Conselho Tutelar é a principal porta de entrada. Em 2015, por exemplo, representou 45% das demandas, segundo a ONG que o executa, a Samaritano Francisco de Assis. Fernando Prata, conselheiro tutelar na zona sul da cidade, afirma que o programa está desarticulado. “Ele não está funcionando, está suspenso por falta de verba. Nós estamos sem esse serviço.” “Eles enquadram, rasgam o RG…”  Além do caso de D., outros relatos dramáticos constam de um documento interno da Defensoria. “A gente tem recebido casos de ameaça de morte quase todos os dias”, afirma a defensora Claudia. “Há casos urgentes, e o PPCAAM é o nosso único meio efetivo de lidar com essas ameaças.” É caso do pai de R., adolescente ameaçado por policiais. “Eu não quero, Deus o livre, enterrar o meu filho; quero que meu filho me enterre.” Segundo o documento, R. já foi “enquadrado” e espancado duas vezes. Dorme e acorda com medo. Passou dias fora de casa para fugir da situação. Só retornou para a região onde foi ameaçado para o enterro do amigo de infância, um ano mais novo, morto pela polícia. Quando questionado sobre as ameaças sofridas, o jovem de 16 anos responde: “É uma tortura”. Uma técnica do serviço de medida socioeducativa desabafou para a Defensoria: “A coisa tá feia por lá; tá difícil até para os meninos cumprirem as medidas, porque são abordados no caminho; eles [a polícia] enquadram, rasgam o RG…”. Em outro caso, L., com poucos dias de liberdade da Fundação Casa, está ameaçado de morte por traficantes da região onde mora. Sua mãe não sabe o que fazer, e o adolescente, segundo a defensoria, “clama que alguém o ajude a sair dali”. O documento conclui que “a proteção, que deveria estar garantida, também está sob ameaça. São vidas duas vezes desprotegidas, negligenciadas e silenciadas”. A reportagem da Pública apurou a situação dos repasses para todos os estados onde o programa está ativo: São Paulo é o único onde não estão ocorrendo novas inclusões. Documento obtido pela Pública, assinado pela Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania (SJDC), que coordena o programa no estado, confirma a situação e aponta como causa para o freio às novas adesões a insuficiência de recursos e a redução de equipe técnica. “Parte do problema é a falta de previsão, por parte do Governo Federal, do valor a ser encaminhado ao programa”, o que teria gerado uma “insegurança na equipe atual ante as novas demandas”, diz o texto. Em resposta à reportagem, a Secretaria de Justiça esclarece que desde janeiro 34 novos casos não puderam ser atendidos. No entanto, a SJDC garantiu “a continuidade do programa sem o comprometimento” dos atuais 80 casos em vigência. Em resposta, o governo federal confirma os “atrasos em alguns repasses”, mas afirma que “não constam” mais “restos a pagar” em nenhum convênio, o que inclui “São Paulo e os demais Estados que executam o programa”. Ressalta ainda

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Deep web: O comércio criminoso que prospera nas áreas ocultas da internet

Deep web: O comércio criminoso que prospera nas áreas ocultas da internet. A deep web é capaz de operar longe dos radares das autoridades mundiais Image copyrightTHINKSTOCK A existência de uma parte da internet operando fora do controle dos gigantes da tecnologia e das autoridades voltou a ser notícia após a polícia de Munique, na Alemanha, revelar que o homem que matou nove pessoas em um shopping da cidade poucos dias atrás comprou uma arma no submundo conhecido como a deep web – a internet secreta.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] David Ali Sonboly fez os disparos com uma pistola Glock 17 de 9 mm que já tinha sido usada como adereço no teatro, mas que foi posteriormente restaurada. Mas como ele fez isso usando a internet? E quais outros produtos circulam ilegalmente, fora do radar das autoridades? Mercado oculto “Pense em um produto ilegal e quase certamente você poderá encontrá-lo à venda na deep web“, disse à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, Lee Munson, especialista em segurança da empresa Comparitech.com. A deep web concentra todo o conteúdo que circula em redes criptografadas, as darknets, que usam a World Wide Web (internet comum), mas exigem programas especiais ou autorizações de acesso. “Não são coisas que você vai encontrar ou vai aparecer em uma pesquisa no Google. Elas não são indexadas pelos robôs de busca e precisam de programas específicos, autenticação e até mesmo um convite para o acesso”, explica Brian Laing, vice-presidente de produtos da empresa de segurança da informação Lastline. Um dos programas mais conhecidos é o Tor, que oculta a localização e a atividade de quem usa a rede. E, embora tenha usos legítimos por aqueles que querem ou precisam proteger sua identidade, um estudo apresentado em março pelo King’s College, de Londres, revelou que o uso mais comum da deep web é criminoso. Para acessar a deep web é necessário ter programas específicos e até ser convidado – Image copyrightTHINKSTOCK No Tor e em outras redes existem mercados equivalentes à Amazon e o eBay. “A manifestação digital do mercado negro está em pleno florescimento”, diz Laing. O caso mais famoso talvez seja o de Silk Road, o primeiro dos modernos mercados negros on-line, que foi fechado em 2013 pelo FBI (Polícia Federal americana). De acordo com reportagens da época, 70% dos mais de 10 mil itens à venda eram de drogas ilegais de vários tipos, mas havia também identidades falsas e produtos eróticos. O site notavelmente proibia a venda de pornografia infantil ou armas. Mas não eram os únicos nem as suas regras universais. “Há muitos mercados que ainda vendem produtos ilegais. Cada vez que um fecha, dois ou três aparecem no lugar”, afirma a jornalista australiana Eileen Ormsby, que detalha o assunto no livro Silk Road. Mas quais são os produtos mais comuns nesses mercados negros? Drogas “Os mais populares são as drogas”, diz Orsmy, que passava longas horas navegando na deep web em busca de material para seu livro e ainda tem contatos nesse mundo oculto. “Há todos os tipos imagináveis: de heroína a cocaína, ecstasy, LSD, maconha, metadona, medicamentos e esteroides.” A Pesquisa Global sobre Drogas 2016, lançada em junho, confirmou uma tendência crescente de adquirir substâncias proibidas através da deep web. Na deep web são comercializadas drogas, material de pornografia infantil e até anabolizantes – Image copyrightTHINKSTOCK O estudo constatou que 8% dos entrevistados nunca tinham usado a deep webpara procurar por drogas, enquanto 75% disseram que algumas das substâncias que eles experimentaram pela primeira vez foram compradas lá. Identificações e dinheiro falso “Esses itens também são populares: informações roubadas de cartão de crédito ou contas do Paypal, tutoriais sobre como roubar etc.”, diz Ormsby. Usuários da deep web vendem até dados de usuários de site de traição Image copyrightGETTY IMAGES “As pessoas também pagam por dados hackeados. Por exemplo, as informações roubadas do site de traições Ashley Madison”, que foi centro de um escândalo no ano passado após ter informações de seus cadastrados vazadas. “É possível obter documentos falsos e dinheiro, mas pode ser difícil encontrar um vendedor legítimo desses produtos”, acrescenta. Em março, autoridades de diferentes países europeus realizaram buscas em 69 casas da Bósnia Herzegovina, França, Alemanha, Lituânia, Holanda, Rússia e Suíça, onde encontraram, além de drogas, identidades holandesas e italianas falsas, cartão de crédito e contas bancárias que eram negociadas em sites dadeep web. Ferramentas para hackear Programas e instruções para invadir computadores também estão entre os itens mais populares, relata Ormsby. De fato, na mesma operação citada, as autoridades encontraram evidências de troca de serviços de hackers e de programas à venda para realizar ataques DDoS (quando um site é inundado de pedidos) e tutoriais para operar sites ilegais de streaming. Armas “Certamente, as vendas de armas são anunciadas e parece que algumas pessoas conseguiram obtê-las desta forma, mas muitas vezes são fraudes”, conta a jornalista. Em junho deste ano, um dos argumentos da procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch, para defender uma série de ações executivas do presidente Barack Obama para o controle de armas foi o fato de que elas são negociadas na deep web. Lynch disse que as medidas ajudariam a combater a venda ilegal, à medida que essa parte da internet não está acessível para o “consumidor médio”. Especialistas acreditam, no entanto, que – ao menos proporcionalmente falando – o número de armas que trocam de mãos por meio da deep web é muito pequena. O estudo do King’s College atribui à compra de armamento apenas 0,8% dos “serviços ocultos” praticados na deep web. Pornografia infantil A deep web também é o lugar onde muitos pedófilos compartilham pornografia infantil. Em 2014, uma investigação da BBC descobriu que dezenas de milhares de pessoas usam a rede secreta para essa finalidade. Uma das páginas envolvidas recebia cerca de 500 visitas por segundo, apontou a pesquisa. Para abordar esses e outros crimes, o Reino Unido criou uma célula de operações conjuntas que até agora “envolveu mais de 50 sites que tem o abuso sexual de crianças como

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