Arquivo

Cinco perguntas sobre as restrições às armas anunciadas por Obama

Emocionado, o presidente americano Barack Obama anunciou nesta terça-feira novas restrições para a venda de armas, dizendo que era preciso colocar um fim “às constantes desculpas para a falta de ação”. Presidente Barack Obama se emocionou ao lembrar das vítimas de violência por armas – Image copyrightReuters Obama disse que as ações incluem medidas que ampliam o foco na checagem do histórico de potenciais compradores de armas. A maioria dos decretos não demanda aprovação do Congresso. Obama chegou a chorar quando falou das vítimas de armas no país – e disse que suas ações vão salvar vidas.   “Isso não vai resolver todos os crimes violentos do país”, disse Obama. “Não vai prevenir todos massacres feitos por atiradores, não vai retirar todas as armas das mãos de criminosos. Mas potencialmente vai salvar vidas e evitar que famílias sofram com essas perdas irreparáveis.” Entenda os principais pontos das novas restrições: O que está incluído nos decretos? Todos os vendedores de armas devem ter licenças e conduzir checagem do histórico do comprador, o que substitui as regras atuais que isentam alguns tipos de vendas online e em feiras de armas. Os Estados serão obrigados a fornecer informações sobre pessoas que não se qualificam para portar armas por conta de doenças mentais ou histórico de violência doméstica. O FBI vai ampliar suas ações para checar o histórico de compradores, contratando mais 230 novos funcionários a se dedicarem a isso. O Congresso vai analisar um investimento de US$ 500 milhões para melhorar o acesso da população ao tratamento para doenças mentais. Leia também: Por que milicianos brancos armados tomaram reserva ambiental nos EUA Quem será afetado? Com os decretos, mais lojas terão de se registrar em instâncias federais para terem autorização para vender armas, eliminando brechas na lei. Os vendedores de armas se dividem em duas categorias: licenciados federais e privados. Os primeiros são regulamentados pela Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF, na sigla em inglês), que conduz as checagens de históricos. Já os vendedores privados, de uma maneira geral, trabalham sem supervisão do governo. Muitos deles também se esquivam da regulamentação atual vendendo armas online. Outra maneira usada para driblar as leis atuais é vender armas de uso pessoal, já que nesse caso não é necessário checar o histórico do comprador. Mas o que exatamente é uma checagem do histórico do comprador? São checados dados ligados ao histórico criminal, como se a pessoa já foi presa, cometeu ofensas sexuais, contravenções ou foi alvo mandados de prisão. Se for necessário que o FBI faça essa checagem, atualmente eles têm três dias para isso. Se não o fizer, a pessoa pode comprar a arma. Image copyrightAFP Foi assim que Dylann Roof, acusado de matar nove pessoas em Charleston (Carolina do Sul), em junho, comprou uma arma, mesmo tendo uma acusação ligada a drogas. Com as novas medidas, será possível fazer as checagens 24 horas, sete dias por semana, eliminando a brecha, como ocorrida no caso de Roof. Essas ações vão surtir resultado? “Vai fazer a diferença de uma maneira brutal”, afirma Ted Alcorn, pesquisador do grupo Everytown for Gun Safety, que luta contra a violência causada por armas. Segundo ele, vendedores ilegais podem colocar no mercado negro armas de fogo em cidades como Chicago e Nova York com “consequências devastadoras”. Image copyrightAP As medidas não vão limitar a capacidade no pente de munição, algo que os grupos pró controle de armas vinham defendendo. Mesmo assim, essas organizações estão comemorando. Obama “atendeu aos pedidos de mães, sobreviventes de violência por armas, líderes comunitários e ativistas do dia a dia em todos o país, que trabalharam incessantemente para apoiar o presidente em suas medidas para coibir esse tipo de ataque”, afirmou Shannon Watts, fundadora do grupo Moms Demand Action for Gun Sense in America. Quais são as limitações? Esses são decretos executivos, não ordens, o que significa que não são legalmente vinculantes. “Representam diretrizes menos formais, que a ATF irá implementar para a venda de armas”, explicou o site de notícias do tema, Trace. “E isso significa que Obama pode ser enfraquecido com críticas não apenas daqueles que acham que ele foi longe demais, mas também dos que acreditam que ele não foi longe o suficiente.” Outro ponto é o fato de as verbas para os serviços de saúde mental vão exigir aprovação do Congresso, assim como para a contratação de mais funcionários nessa área. Alguns dos decretos também podem ser questionados na Justiça. BBC

Leia mais »

O controle de armas e munições pode ajudar a reduzir as mortes no Brasil?

Sete anos após 64% dos eleitores brasileiros terem rejeitado a proibição da venda de armas de fogo e munições num referendo popular, em outubro de 2005, o Brasil atingiu a marca de 56.337 homicídios no ano de 2012, a maior de sua história, de acordo com dados do SUS (Sistema Único de Saúde). Deste total, 40.077 pessoas foram mortas por armas de fogo, ou seja, 71% de todas as mortes. Homicídios ocorridos no Brasil em 2012 representam 10% de todos os homicídios no mundo O número total de homicídios ocorridos no Brasil em 2012 representa 10% de todos os crimes do tipo no mundo, segundo o Relatório Global de Homicídios da UNODC de 2013 (Escritório da ONU para Drogas e Crime, na sigla em inglês). Embora o país já tenha uma legislação que controla o porte e o uso de armas de fogo (o chamado Estatuto do Desarmamento, aprovado em 2003), para especialistas consultados pela BBC Brasil os atuais índices de violência poderiam ser mais facilmente revertidos caso o país adotasse leis que restringissem ainda mais o uso e a venda de armas do tipo. Eles argumentam que em outros países, como o Reino Unido, onde o acesso a armas e munições é mais difícil, o menor número de armas de fogo em circulação tende a diminuir a incidência de homicídios. SEGURANÇA E ELEIÇÃO A abordagem dos temas da violência policial e da violência contra os policiais como parte da cobertura especial da BBC Brasil sobre as eleições de 2014 foi sugerida em uma consulta com leitores promovida pelo #salasocial – o projeto da BBC Brasil que usa as redes sociais como fonte de histórias originais.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Na página da BBC Brasil no Facebook (www.facebook.com/bbcbrasil), leitores participam do debate e fazem comentários sobre a questão. Dê você também sua opinião! “É difícil comparar, porque são contextos muito diferentes, mas falta uma política de segurança pública mais efetiva nesta área, e reduzir o número de armas de fogo e munições é, sem dúvida nenhuma, benéfico para a segurança”, diz Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, sociólogo, professor da PUC-RS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Para o pesquisador, embora o Estatuto do Desarmamento tenha passado a penalizar de “forma adequada” o porte ilegal de armas, o fato de os índices de homicídios no Brasil continuarem entre os maiores do mundo faz com que novas medidas sejam necessárias. CliqueLeia também na BBC Brasil: Polícia britânica ‘atirou apenas três vezes’ em um ano Campanhas e momento atual Luis Flávio Sapori, sociólogo e professor da PUC-MG, no entanto, é mais crítico com a atual legislação sobre armas em vigor no Brasil. “O Estatuto (do Desarmamento) não melhorou a segurança pública no Brasil. A violência continuou crescendo no país, as armas de fogo continuam se proliferando de forma acelerada nas ruas das cidades brasileiras. A capacidade da polícia de pegar essas armas ilegais não foi aumentada”, diz. Para ele, a legislação foi enfraquecida quando, em 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu o pagamento de fiança para quem fosse preso em flagrante portando arma de fogo ilegal. “O assunto perdeu destaque. As campanhas eleitorais para Presidência poderiam ser um bom momento de retomar essa discussão, mas nem os movimentos de direitos humanos estão se atentando para isso. O estatuto está desmoralizado. Se não conseguiram proibir a venda, então que ao menos tornem o uso e o porte bem mais difíceis”, argumenta. A lei atual pune com dois a quatro anos de reclusão – além de multa – o porte ilegal de armas no fogo no Brasil. Para Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, a legislação aprovada em 2003 é avançada e a rejeição dos brasileiros à proibição da venda de armas e munições, em 2005, não esvaziou o estatuto. Armas apreendidas em 2010 no Rio de Janeiro; segundo a ONU, Brasil foi responsável por 10% dos homicídios no mundo. Ele lamenta, porém, que o movimento de entrega voluntária de armas tenha pedido força ao longo dos anos, e que o momento atual não seja de avanço, mas sim de ameaça de retrocesso. “Não há confiança na polícia por parte da população e é claro que há uma questão ideológica, e de lobbies de interesses”, diz o especialista. Resistência Tanto Sapori como Ghiringhelli de Azevedo concordam que a redução das armas de fogo em circulação seria um avanço para a segurança pública e reduziria o número de homicídios, mas nem todos partilham da mesma opinião. Tanto entre os parlamentares quanto na sociedade há uma série de mobilizações contrárias à legislação e a favor de uma liberalização maior do porte de arma, tornado mais restritivo pelo estatuto. Mais de 40 projetos de lei neste sentido foram apresentados no Congresso nos últimos anos, entre eles o do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB/SC), que pede a revogação total do Estatudo do Desarmamento. Para ele, as normas mais rígidas não diminuíram os índices de violência, e os criminosos seguem tendo acesso a armas ilegais de qualquer maneira. O tema também foi objeto de acalorados debates na página da CliqueBBC Brasil no Facebook, com leitores se colocando contra e a favor a restrições ao uso de armas. Dê também sua Cliqueopinião! Recentemente um desses projetos de lei que visam alterar cláusulas do estatuto foi aprovado, e as guardas municipais de todo o país passaram a ser armadas, no que foi visto como um retrocesso por analistas. “Temos um discurso no Congresso argumentando que a pessoa precisa ter a capacidade de defesa própria, senão está à mercê da criminalidade. É um discurso muito disseminado e acho que se houvesse outro referendo hoje em dia, o resultado infelizmente seria o mesmo”, avalia Ghiringhelli de Azevedo. O pesquisador questiona o argumento de que o uso de armas de fogo pode propiciar melhores meios para que as pessoas comuns se defendam de criminosos. “A arma de fogo disponível na rua não está sendo usada para defesa pessoal. Ela acaba sendo usada pelo crime e, em 90% das situações de tentativa de defesa, o que

Leia mais »

Desarmamento será questionado na Justiça

Presidente da Confederação de Tiro e Caça do Brasil e revendedor internacional de armas, o advogado Fernando Humberto Fernandes vai questionar na Justiça a legalidade da campanha do desarmamento, que garante o anonimato e a liberdade de quem entrega arma ilegal. E “ainda indenização”. Entende que o Ministério da Justiça não tem poder para substituir a lei 10826/03, sobre armamento ilegal. Anistia O advogado sustenta que não prender o dono de arma sem registro no posto de entrega exigirá lei dando anistia de 48 horas, por exemplo. Sem dono Fernando questiona também, na campanha, a destruição de armas sem verificação de registro de furto ou roubo, para devolução ao dono. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Ministro Luiz Fux diz ser desnecessário novo plebiscito sobre desarmamento

Novo plebiscito sobre armas é desnecessário, diz Luiz Fux. Ministro do STF defende ‘solução legislativa, sem plebiscito’. Para ele, ‘povo votou errado’ em 2005 ao manter comércio de armas. O ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux durante entrevista ao G1 (Foto: Débora Santos/G1) O mais novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, disse em entrevista ao G1 que não deve ser feita nova consulta popular sobre desarmamento em razão da tragédia de Realengo, no Rio de Janeiro. Defensor do desarmamento, ele avalia que o “povo votou errado” ao manter, no referendo de 2005, o comércio de armas de fogo. A proposta de novo plebiscito foi apresentada nesta semana pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Segundo ele, o “novo contexto” após a tragédia justifica repetir a consulta. A pergunta que Sarney propõe para o novo plebiscito é a mesma de 2005: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Para Fux, que assumiu o posto de ministro do STF em março por indicação da presidente Dilma Rousseff, o desarmamento é “fundamental”, mas, para isso, não é necessário plebiscito e sim aplicar a lei e se estabelecer uma política pública de recolhimento de armas. “Não [se] entra na casa das pessoas para ver se tem dengue? Tem que ter uma maneira de entrar na casa das pessoas para desarmar a população”, afirmou ao G1. Na entrevista, o ministro também disse que considerou “lamentável” a crítica que sofreu de setores da sociedade por ter votado contra a validade da Lei da Ficha Limpa na eleição de 2010. Com o voto dele, o julgamento no STF terminou com seis votos contra e cinco a favor da aplicação da lei no ano passado. “Eu achei lamentável ter que passar por isso em razão da desinformação. Não vou negar que eu acusei o golpe”, declarou. Leia abaixo os principais trechos da entrevista. G1 – Quase dois meses depois de empossado, como o sr. se sente na posição de ministro do STF? Como lida com pressões sociais e de outros poderes? Luiz Fux – Depois de uma semana e meia, já [se] é ministro há muitos anos. O volume é tão grande que você aprende no tranco. Eu tenho me sentido muito à vontade no Supremo. Salvante os princípios-regra, [no Supremo] é um julgamento de valoração de interesses, de ponderação de valores éticos e que conferem legitimidade social à solução. No caso da união homoafetiva, você tem que sopesar o valor da família, a liberdade sexual, o princípio da não discriminação. Sobre feto anencéfalo, eu li um artigo e até guardei. Essa escritora usou uma expressão forte: será que uma mãe é obrigada a ficar realizando o funeral do seu filho durante nove meses? Eu acho que isso deveria ser uma questão plebiscitária feminina. As mulheres tinham que decidir. É um consectário [resultado] do estado democrático de direito. Não podemos julgar à luz da religião, porque o estado é laico. G1 – Como o sr. viu a tragédia de Realengo, que antes era um tipo de crime muito comum em outros países, mas inédito no Brasil? Fux – Nos Estados Unidos, tem o monitoramento de pessoas potencialmente perigosas. Hoje, com esse acesso à internet, a esses sites de redes terroristas, pessoas desequilibradas têm acesso a informações que exacerbam seu desequilíbrio. Olha essas fitas que antecederam a essa tragédia, onde esse sujeito gravou isso? É um sujeito que não podia estar solto nunca. Tinha que ter uma medida restritiva de liberdade. Será que ninguém viu isso? Porque não acharam antes isso? Esse homem não tinha um pendor para aquilo? Será que ninguém teve oportunidade de denunciar isso? É um problema que interessa à família e ao Estado também. A causa disso é o acesso que esse rapaz teve a essas redes internacionais que alimentam uma série de psicopatias. Nessa rede mundial de computadores, você tem acesso a tudo. A polícia tinha que ter, por exemplo, uma comunicação de que um sujeito acessou o site da Al Qaeda. Esse sujeito tem alguma coisa. Agora, o leite está derramado. G1 – Para o sr., o massacre de Realengo é um motivo suficientemente forte para ensejar uma nova consulta à população? Fux – Eu acho que tinha que vir uma solução legislativa, sem plebiscito mesmo. Todo mundo sabe que o desarmamento é fundamental. G1 – Mas em 2005 a maioria da população decidiu manter o livre comércio de armas. Fux – É um exemplo de defesa do povo contra o povo. Eu acho que o povo votou errado. Para que serve você se armar? Quando você se arma, pressupõe que se vive num ambiente beligerante. Muito melhor é uma sociedade solidária, harmônica. Eu acho que os políticos têm que avaliar o clima de insegurança do país. E já há o Estatuto do Desarmamento. Tem que fazer valer a lei, implementar políticas públicas no afã de desarmar a população. Não tem que consultar mais nada. O Brasil é um país que tem uma violência manifesta. Tem que aplicar essa lei e ter política pública de recolhimento de armas. Não [se] entra na casa das pessoas para ver se tem dengue? Tem que ter uma maneira de entrar na casa das pessoas para desarmar a população. G1 – O sr. tem porte de arma? Já teve arma em casa? Fux – A arma na mão de uma pessoa que tem seus instintos, fraquezas, ela vai reagir. Depois a pessoa cai em si e vê que tirou uma vida e vai sofrer para o resto da vida. São posturas que a gente tem que evitar ao invés de reprimir. Melhor do que reprimir o porte de arma, é evitar o porte de arma. [Como magistrado], eu sempre tive o porte de arma, mas nunca andei armado. Era importante ter o porte de arma, porque a gente ia sozinho para comarca do interior, não tinha cultura de segurança, mas eu não ia armado. Eu entendo que o povo tem que estar

Leia mais »

Desarmamento: Armas, vírgulas, para todos

As armas e o bullying matam no Brasil. São as duas explicações da tragédia de Realengo na imprensa americana. Um texto com vírgulas mal empregadas mata mais de mil e duzentos americanos por mês nos Estados Unidos. Juízes conservadores, em geral republicanos, interpretam a segunda emenda da Constituição, com sua estranha pontuação, como um direito de todo cidadão comprar e ter armas em casa. Juízes liberais, em geral democratas, fazem interpretações diferentes e votam contra porte e venda de armas. Os assassinatos de Bob Kennedy e Martin Luther King em 68 provocaram aprovação de algumas destas leis. Antes de ir adiante, aqui está o texto da Segunda Emenda e uma tradução: “A well regulated Militia, being necessary to the security of a free State, the right of the people to keep and bear Arms, shall not be infringed”. Tradução: “Uma milícia bem regulamentada, sendo necessária para a segurança de um Estado livre, o direito do povo de ter e portar armas, não deve ser infringido”. Os redatores da Constituição e das emendas sabiam ler e escrever. Entre eles havia alguns jecas, mas lá estava a fina flor intelectual das colônias, gente fluente em latim e línguas vivas. Como aprovaram um texto tão ambíguo? E hoje, quem justifica os malucos radicais como “Milícia bem regulamentada?” Bill Clinton conseguiu aprovar duas leis em 1994, uma que limitava a venda de certos tipos de rifles automáticos usados em combates pelos militares, e um sistema nacional para verificar o currículo do comprador de armas. Os lobistas das armas reagiram com dólares, engrossaram o calibre e mobilizaram suas milícias a favor de George W. Bush contra Al Gore, suspeito de ser contra venda e porte de armas. Ganharam a batalha. Os juízes nomeados pelo presidente Bush corresponderam às expectativas dos armamentistas e deram a eles duas vitórias massacrantes. Nem os estados nem as cidades podem criar leis limitando portes de armas. Ano passado, o massacre em Tucson, no Arizona, que deixou seis mortos e 14 feridos, entre eles uma deputada federal, levantou esperança de um controle de armas. O assassino tinha sido rejeitado pelo Exército e pela faculdade por instabilidade mental, tinha tendências violentas testemunhadas por vizinhos e professores nas escolas, mas entrou numa loja e comprou armas e munição à vontade. Não há neste momento qualquer coragem política em Washington para reduzir venda ou porte de armas. Em alguns estados a tendência é pró-caubói. No Arizona, onde você pode andar com arma à mostra em quase todos os lugares, inclusive bares, os lobistas querem liberar armas nas faculdades. Uma pessoa com arma em casa tem quatro vezes mais chances de morrer com um tiro do que numa casa desarmada, mas o calibre deste argumento é impotente diante dos lobistas em Washington. Bullying é a outra outra explicação para a matanca em Realengo. Não temos nem uma boa tradução em português para bullying, e até o começo do século 18, no mundo inglês, a palavra significava o oposto. Bully era o amigo bravo e protetor. A partir do fim do século 18 a palavra deu uma guinada, de amigo para agressor covarde. No século 20 e, mais recentemente, com a internet, virou caso de polícia. Dezenas de cidades e estados americanos têm leis contra bullies nas escolas e na internet, provocados por suicídios e violências de adolescentes. Pela imprensa liberal americana, o assassino de Realengo, vítima de bullies, tornou-se o pior dos bullies. Quando eu tinha 6 anos entrei no pré-primário do Instituto de Educação de Belo Horizonte, uma escola de classe média. Na hora do recreio tínhamos gangues às porradas no refeitório. De vez em quando alguem sangrava, mas era um pavor encontrar, sozinho, um bully no corredor ou na saída da escola. Na minha pacata e burguesa vizinhança no bairro de São Lucas, na década de 50, nós, adolescentes, tínhamos gangues e alguns andavam com cabo de aço, corrente e soco inglês no bolso. Minha turma era mais mauricinha. A do querido amigo e cartunista Henfil, em Santa Efigênia, bairro vizinho, era da pesada, mas a que assustava mesmo era a da favela do Pau Comeu, um pouco mais distante. Quando descia o morro e o pau comia, o Nozinho corria em casa e voltava com uma espingarda calibre 22. No primeiro tiro os inimigos disparavam morro acima. Hoje o bravo e maluco Nozinho cairia todo furado. Minhas histórias e experiências com bullies e gangues de infância e adolescência não levam a qualquer conclusão, mas desconfio que as leis não vão resolver o problema. As vozes dos alunos, pais e professores podem falar mais alto. Lucas Mendes De Nova York para a BBC Brasil

Leia mais »

Questões sobre a matança na escola em Realengo

Antes de tirar conclusões precipitadas sobre as razões da tragédia na escola de Realengo (RJ), muitas questões precisam ser respondidas. Talvez algumas delas já tenham sido quando você ler este questionário: 1) Quais as armas usadas pelo atirador? Dois revólveres calibre 38? Quais suas marcas? Isso é importante para saber se são importadas ou, como a maioria das em uso no Brasil, fabricadas no próprio País. Se forem da Taurus ou da Rossi, podem jogar no lixo a culpabilidade pela falta de fiscalização das fronteiras. Se forem importadas, a questão é saber se entraram legalmente ou ilegalmente. 2) Onde o atirador comprou suas armas? Tinha porte de arma? No debate sobre desarmamento que este caso vai despertar, é fundamental saber se as armas eram legais ou não.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] 3) Se tiverem sido adquiridas legalmente, inclusive o municiador rápido que ele parecia usar, como ele conseguiu autorização para comprá-las? Quão fácil é comprar esses equipamentos em uma loja ou nas ruas? 4) Quantos tiros o assassino disparou dentro da escola? Pela quantidade de vítimas e pelo número de tiros que os feridos receberam, o atirador parece ter disparado mais de 25 vezes. Se cada revólver tinha capacidade para seis balas, significa que recarregou as armas mais de uma vez cada uma. Alguém tentou desarmá-lo antes da chegada dos policiais? 5) Quanto tempo demorou entre o início da matança e chegada do sargento que o conteve? 6) A chegada da polícia foi casual, com o sargento sendo alertado por um dos feridos que conseguiu chegar à rua, ou a direção da escola também chamou a polícia? 7) Há alguma conduta de segurança pré-estabelecida nas escolas do Rio e do Brasil para casos de invasão? Há algum procedimento que deve ser seguido? Em caso positivo, foi? 8 ) É uma hora propícia para vendedores de equipamentos de segurança venderem seu peixe. Por isso, quão eficiente e custoso seria instalar detectores de metal na entrada de todas as escolas públicas do País? 9) Há estudos que provam ter diminuído as ocorrências criminais nas escolas dos EUA onde foram instalados detectores de metais? 10) A polícia já encontrou e começou a periciar o computador pessoal do atirador? Encontrou algo de revelador nele? Se ele não tinha computador, sabe-se se frequentava alguma lan-house? 11) Ele participava de alguma rede social? Quem eram seus “amigos” e “seguidores”? 12) É correto tachar o atirador de islâmico ou muçulmano? É fundamental reconhecer que ele era antes de mais nada uma pessoa confusa, para dizer o mínimo, e que na sua carta-testamento ele escreve literalmente: “(…) que jesus me desperte do sono da morte para a vida”. Muçulmanos não citam Jesus, mas Alá. 13) Obviamente o assassinato em massa foi planejado com muita antecedência: ele comprou as armas, os carregadores rápidos, escreveu a(s) carta(s) testamento. Em alguma fase dessa preparação teria sido possível que alguém desconfiasse de suas intenções? O crime poderia, assim, ter sido evitado? Ou, por ser recluso, não deu pistas a ninguém? 14) Retomar a campanha de desarmamento, que fez cair drasticamente os assassinatos no Brasil entre 2003 e 2005, pode ajudar a evitar que casos como esse se repitam? 15) Nos EUA, onde se tornaram comuns, casos assim costumam estimular outros potenciais atiradores a “sair do armário” e copiar o assassino de Realengo? Blog de José Roberto de Toledo

Leia mais »