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Deep web: O comércio criminoso que prospera nas áreas ocultas da internet

Deep web: O comércio criminoso que prospera nas áreas ocultas da internet. A deep web é capaz de operar longe dos radares das autoridades mundiais Image copyrightTHINKSTOCK A existência de uma parte da internet operando fora do controle dos gigantes da tecnologia e das autoridades voltou a ser notícia após a polícia de Munique, na Alemanha, revelar que o homem que matou nove pessoas em um shopping da cidade poucos dias atrás comprou uma arma no submundo conhecido como a deep web – a internet secreta.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] David Ali Sonboly fez os disparos com uma pistola Glock 17 de 9 mm que já tinha sido usada como adereço no teatro, mas que foi posteriormente restaurada. Mas como ele fez isso usando a internet? E quais outros produtos circulam ilegalmente, fora do radar das autoridades? Mercado oculto “Pense em um produto ilegal e quase certamente você poderá encontrá-lo à venda na deep web“, disse à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, Lee Munson, especialista em segurança da empresa Comparitech.com. A deep web concentra todo o conteúdo que circula em redes criptografadas, as darknets, que usam a World Wide Web (internet comum), mas exigem programas especiais ou autorizações de acesso. “Não são coisas que você vai encontrar ou vai aparecer em uma pesquisa no Google. Elas não são indexadas pelos robôs de busca e precisam de programas específicos, autenticação e até mesmo um convite para o acesso”, explica Brian Laing, vice-presidente de produtos da empresa de segurança da informação Lastline. Um dos programas mais conhecidos é o Tor, que oculta a localização e a atividade de quem usa a rede. E, embora tenha usos legítimos por aqueles que querem ou precisam proteger sua identidade, um estudo apresentado em março pelo King’s College, de Londres, revelou que o uso mais comum da deep web é criminoso. Para acessar a deep web é necessário ter programas específicos e até ser convidado – Image copyrightTHINKSTOCK No Tor e em outras redes existem mercados equivalentes à Amazon e o eBay. “A manifestação digital do mercado negro está em pleno florescimento”, diz Laing. O caso mais famoso talvez seja o de Silk Road, o primeiro dos modernos mercados negros on-line, que foi fechado em 2013 pelo FBI (Polícia Federal americana). De acordo com reportagens da época, 70% dos mais de 10 mil itens à venda eram de drogas ilegais de vários tipos, mas havia também identidades falsas e produtos eróticos. O site notavelmente proibia a venda de pornografia infantil ou armas. Mas não eram os únicos nem as suas regras universais. “Há muitos mercados que ainda vendem produtos ilegais. Cada vez que um fecha, dois ou três aparecem no lugar”, afirma a jornalista australiana Eileen Ormsby, que detalha o assunto no livro Silk Road. Mas quais são os produtos mais comuns nesses mercados negros? Drogas “Os mais populares são as drogas”, diz Orsmy, que passava longas horas navegando na deep web em busca de material para seu livro e ainda tem contatos nesse mundo oculto. “Há todos os tipos imagináveis: de heroína a cocaína, ecstasy, LSD, maconha, metadona, medicamentos e esteroides.” A Pesquisa Global sobre Drogas 2016, lançada em junho, confirmou uma tendência crescente de adquirir substâncias proibidas através da deep web. Na deep web são comercializadas drogas, material de pornografia infantil e até anabolizantes – Image copyrightTHINKSTOCK O estudo constatou que 8% dos entrevistados nunca tinham usado a deep webpara procurar por drogas, enquanto 75% disseram que algumas das substâncias que eles experimentaram pela primeira vez foram compradas lá. Identificações e dinheiro falso “Esses itens também são populares: informações roubadas de cartão de crédito ou contas do Paypal, tutoriais sobre como roubar etc.”, diz Ormsby. Usuários da deep web vendem até dados de usuários de site de traição Image copyrightGETTY IMAGES “As pessoas também pagam por dados hackeados. Por exemplo, as informações roubadas do site de traições Ashley Madison”, que foi centro de um escândalo no ano passado após ter informações de seus cadastrados vazadas. “É possível obter documentos falsos e dinheiro, mas pode ser difícil encontrar um vendedor legítimo desses produtos”, acrescenta. Em março, autoridades de diferentes países europeus realizaram buscas em 69 casas da Bósnia Herzegovina, França, Alemanha, Lituânia, Holanda, Rússia e Suíça, onde encontraram, além de drogas, identidades holandesas e italianas falsas, cartão de crédito e contas bancárias que eram negociadas em sites dadeep web. Ferramentas para hackear Programas e instruções para invadir computadores também estão entre os itens mais populares, relata Ormsby. De fato, na mesma operação citada, as autoridades encontraram evidências de troca de serviços de hackers e de programas à venda para realizar ataques DDoS (quando um site é inundado de pedidos) e tutoriais para operar sites ilegais de streaming. Armas “Certamente, as vendas de armas são anunciadas e parece que algumas pessoas conseguiram obtê-las desta forma, mas muitas vezes são fraudes”, conta a jornalista. Em junho deste ano, um dos argumentos da procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch, para defender uma série de ações executivas do presidente Barack Obama para o controle de armas foi o fato de que elas são negociadas na deep web. Lynch disse que as medidas ajudariam a combater a venda ilegal, à medida que essa parte da internet não está acessível para o “consumidor médio”. Especialistas acreditam, no entanto, que – ao menos proporcionalmente falando – o número de armas que trocam de mãos por meio da deep web é muito pequena. O estudo do King’s College atribui à compra de armamento apenas 0,8% dos “serviços ocultos” praticados na deep web. Pornografia infantil A deep web também é o lugar onde muitos pedófilos compartilham pornografia infantil. Em 2014, uma investigação da BBC descobriu que dezenas de milhares de pessoas usam a rede secreta para essa finalidade. Uma das páginas envolvidas recebia cerca de 500 visitas por segundo, apontou a pesquisa. Para abordar esses e outros crimes, o Reino Unido criou uma célula de operações conjuntas que até agora “envolveu mais de 50 sites que tem o abuso sexual de crianças como

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Sala Social: Internet oculta – os segredos de um universo paralelo

Milhares de pedófilos estão usando a chamada dark web, (internet obscura, em tradução livre), para compartilhar, vender ou acessar imagens de crianças sofrendo abuso sexual. Um britânico que disse ter fundado um desses sites disse à BBC que a página chegava a receber 500 visitantes por segundo. Segundo ele, o site não está mais em funcionamento. Em um relatório publicado neste ano, a agência de combate ao crime na Grã-Bretanha disse que criminosos estão cada vez mais se voltando para uma internet paralela, por onde passeiam de forma anônima, para realizar atividades ilegais. No Brasil, “boa parte dos usuários são curiosos, que querem apenas ver o que existe por lá e ter a sensação de adentrar em um território da internet que é cercado de tabus”, disse o advogado e especialista em tecnologia e mídia Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio). Segundo ele, uma fração menor de pessoas entra na dark web para praticar atividades ilícitas. E outra fração entra em busca de privacidade, de um canal de comunicação que não seja monitorado ou espionado. A BBC Brasil conversou com a especialista em ciência da computação Juliana Freire, que faz pesquisas na New York University, nos Estados Unidos. Freire está prestes a embarcar em um projeto que deve revolucionar a forma como fazemos buscas na internet, permitindo, inclusive, que identifiquemos conteúdos “escondidos” na dark web.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] E apesar de sua determinação em conhecer e explorar os conteúdos desse universo, a pesquisadora não parece preocupada com a existência dessa internet obscura, fora do alcance das ferramentas de busca comuns – e das autoridades. “Tráfico humano, pedofilia, essas coisas aconteciam. Pelo menos, se está lá e você consegue ver o conteúdo, você sabe que elas existem”. Definições A internet visível, ou surface web (internet de superfície), é uma porção minúscula de uma rede gigantesca, a deep web (internet profunda). Esta rede profunda engloba bancos de dados cujo conteúdo não está indexado e, portanto, não pode ser acessado por ferramentas de busca como o Google. Imagine, por exemplo, um site de venda de carros de segunda mão. As informações sobre os carros estão dentro do site, mas você só tem acesso a elas quando preenche um formulário dizendo que tipo de carro está procurando. Também podemos incluir nessa web profunda uma porção da rede onde a publicação de conteúdos, bem como o acesso a eles, acontecem de forma anônima. Essa é a dark web, ou internet obscura. A dark web inclui, por exemplo, redes como a Tor Network. Para acessá-la, é preciso baixar o Tor Browser. Esse browser torna o endereço do seu computador indetectável. Você viaja anônimo, tanto pela internet regular, quanto pela rede obscura. Da mesma maneira, se você cria um site na rede Tor, o conteúdo fica lá, mas sua identidade não. “Se crio um site, tenho de registrá-lo e criar um IP address, para identificação”, explica Freire. “Mas essas redes criam o IP address e ninguém sabe quem eu sou”. Essa internet anônima é usada para todo tipo de atividade ilícita, como tráfico humano e tráfico de drogas. Um desses sites, o supermercado de drogas Silk Road, operou na rede Tor durante mais de dois anos, até ser fechado pelo FBI. Mas a Tor também é usada por militantes, intelectuais e outros grupos que precisam permanecer anônimos para sua segurança pessoal. “No Irã, muitos usam o Tor para acessar a internet, na China acontece a mesma coisa”, diz Freire. Passeio Perigoso? A ideia de uma internet secreta, co-existindo com a rede visível, porém inacessível à maioria de nós, habitada por criminosos e libertários, parece coisa de ficção científica. Freire diz que já passeou por essas terras sem lei. Não são necessariamente perigosas, ela diz. Mas contêm armadilhas onde podem cair os viajantes menos experientes. “Já brinquei com isso. Fiz buscas sobre tráfico humano e não vi nada. Então, digitei a palavra cocaína e encontrei vários sites de venda. Mas meus colegas me disseram que muitos desses sites são armadilhas que o governo coloca lá para pegar você”. “Você não sabe se é o governo ou se é um traficante de verdade – mas também é assim no mundo aqui fora”. A rede profunda inclui, ainda, sites desativados que permanecem ali no cyber space, como prédios fantasma. Alguns especialistas tentaram, ao longo dos anos, quantificar, dar uma dimensão à internet profunda. Os resultados variam. Em 2001, o acadêmico americano Michael K. Bergman publicou um estudo sugerindo que a deep web seria entre 400 e 550 vezes maior do que a internet de superfície e que ferramentas de busca convencionais estariam alcançando apenas 0,03% do total de páginas disponíveis. Juliana Freire, no entanto, desconfia desses números. “Alguns tentaram medir isso mas não consigo acreditar nos estudos mais recentes que li, não estou convencida. É difícil de estimar o tamanho dessas coisas”. Desafio E à medida que a internet cresce e se transforma, cresce também o desejo de cientistas como Juliana Freire de explorá-la. Governos e autoridades, por outro lado, querem domá-la. Até 2011, Freire trabalhava para a University of Utah, em Salt Lake City. Lá, esteve envolvida no projeto Deep Peep, que se propunha a desenvolver ferramentas para indexar conteúdos armazenados em bancos de dados na internet profunda. “A ideia era indexar todos esses bancos de dados para que a gente pudesse ter acesso a eles usando um sistema de buscas comum, como o Google”, explica Freire. “Uma ferramenta como essa é útil se você está interessado em conteúdos que vêm de fontes diferentes”. Ou seja, ela evita que você tenha de entrar individualmente em cada um dos sites para procurar a informação. Fazendo um paralelo, Freire cita sites de comparação de preços, que coletam dados de várias empresas oferecendo um determinado serviço. “Encontrar os dados necessários para sites de comparação, e para engenhos de busca verticais, requer um processo laborioso. O nosso objetivo era criar uma forma mais rápida, eficiente e automática de descobrir os sites

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