Novo diretor do órgão, Jorge Fraxe imprime estilo militar no comando, com hierarquia e quadros do Exército. Até telefone é atendido por ajudante de ordens A crise no Ministério dos Transportes despertou em servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) um forte sentimento por mudanças. O escândalo de corrupção paralisou o órgão, atingiu a autoestima dos funcionários e criou uma expectativa por novos rumos na autarquia. Toda a cúpula foi trocada pela presidente Dilma Rousseff e, há quase um mês, quem está no comando do Dnit é o general do Exército Jorge Ernesto Pinto Fraxe, de 58 anos. Agora, o sentimento dos servidores, nestes primeiros dias de Fraxe como diretor-geral, é outro: “O Fraxe está militarizando o Dnit. Até para receber um telefonema quem primeiro atende é um capitão ou um sargento do Exército”, relata um funcionário ao Correio. Fraxe cercou-se de militares na linha de frente do Dnit, reproduz constantemente jargões do Exército, hierarquizou o comando e a relação com os subordinados e vem adotando medidas duras na retomada de licitações e obras tocadas pelo órgão. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Seu estilo é semelhante ao adotado à frente da Diretoria de Obras de Cooperação do Exército, último cargo exercido antes de ser alçado à Diretoria-Geral do Dnit. O general gosta de explicações longas, didáticas e detalhadas sobre um projeto de engenharia. Mas evita a imprensa e se irrita com informações publicadas pela mídia. “Cuidado com esse imaginário de vocês de que toda obra tem corrupção por causa de aditivos. Aditivos não são demônios”, disse o general numa das raras entrevistas à imprensa, no último dia 9, ao lado do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. O Correio já mostrou que, na antiga ocupação, Fraxe assinou R$ 19,9 milhões em aditivos para obras da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e outros 14 termos em convênios do Exército com a Companhia Docas do Maranhão (Codomar). No dia da sabatina no Senado, em 23 de agosto, Fraxe passou boa parte do tempo explicando o porquê desses aditivos. Sabatinado e empossado no Dnit, o general se cercou de colegas da caserna. O chefe de gabinete é um capitão do Exército. A segurança e o transporte particular também seriam feitos por militares, segundo relatos de servidores. O diretor executivo do Dnit — segundo cargo mais importante na hierarquia do órgão — atuou ao lado de Fraxe no Exército. “Tive a oportunidade de trabalhar com o general no Exército”, disse o diretor executivo, Tarcísio Gomes de Freitas, durante sua sabatina no Senado. Os dois foram sabatinados na mesma ocasião. Tarcísio começou sua carreira no Exército e depois ingressou no quadro de auditores da Controladoria-Geral da União (CGU). Empreiteiras Uma das primeiras ações de Fraxe à frente do Dnit foi abrir conversas com empreiteiras já contratadas. Primeiro, ele viajou a Minas Gerais, onde se reuniu com representantes de oito consórcios de empresas projetistas. “O anel viário de Belo Horizonte está o caos”, disse na ocasião. Na semana passada, voltou a se reunir com empresários, desta vez na sede do Dnit, em Brasília. A conversa foi com empresas responsáveis pela supervisão das obras. Fraxe anunciou mudanças nas licitações do Dnit, com menos restrições na seleção, uma forma de atrair mais concorrentes. O anúncio foi feito com o ministro Passos. A todo instante, o general cochichava no ouvido do ministro os detalhes sobre as novas regras. “Tenho de montar uma verdadeira operação de guerra para tirar da velocidade zero editais e projetos que estão parados”, disse quando lhe foi concedida a palavra. O diretor-geral do Dnit garantiu que vai diminuir a delegação de obras para execução pelo Exército. “O Exército participa de obra pública porque precisa se adestrar para a guerra e para a cidadania.” Um parlamentar próximo ao general diz que o estilo que Fraxe imprimiu na diretoria do Dnit será reforçado nos próximos meses. “É um estilo duro, de monitoramento permanente, de valorização da gestão. Será uma gestão na base da mão de ferro.” Quem é ele Neto de imigrante sírio, Jorge Ernesto Pinto Fraxe nasceu em Boa Vista, capital de Roraima, em 1953. Foi criado em propriedades rurais dos municípios de Caracaraí e Mucajaí. “Conheço a Amazônia um pouquinho, graças a Deus”, disse na sabatina do Senado, em 23 de agosto. A família de Fraxe vive em Manaus: são seis irmãos ao todo. Ele ingressou no Exército em 1972, na Academia Militar das Agulhas Negras. Três anos depois, diplomou-se oficial de engenharia. Hoje, é general da Divisão Combatente do Exército. Fraxe atuou principalmente na Amazônia, mas esteve também no Nordeste, no Centro-Oeste e no Sul do país. Suas missões estiveram relacionadas à execução de obras públicas. O último cargo foi o de diretor de Obras de Cooperação do Exército. Entre as obras que gerenciou, estão a BR-174, de Manaus a Boa Vista; a BR-401, de Boa Vista até a fronteira com a Guiana; a BR-101, no Nordeste; uma adutora no Seridó Potiguar, no semiárido do Rio Grande do Norte; e um gasoduto ao longo dos rios Urucu, Solimões e Negro, na Amazônia. Em 2009 e 2010, como diretor de Patrimônio do Exército, foi responsável pela instalação de pontes metálicas em regiões onde enchentes carregaram as de concreto.