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Clarice Lispector – Reflexões na tarde – 31/01/2016

O nascimento do prazer Clarice Lispector¹ O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida – e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom – como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar-se inundar pela alegria aos poucos – pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele e nós. in O Nascimento do prazer ¹Clarice Lispector * Ucrânia – 10 de Dezembro de 1920 d.C + Rio de Janeiro, RJ – 9 de Dezembro de 1977 d.C >> Biografia de Clarice Lispector [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Clarice Lispector – Prosa na tarde – 17/01/2016

“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.” “Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato… Ou toca, ou não toca”. Clarice Lispector * Tchetchelnik, Ucrânia – 10 de Dezembro de 1920 d.C + Rio de Janeiro, RJ – 9 de Dezembro de 1977 d.C

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Clarice Lispector – Versos na tarde – 01/12/2015

“Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro. Ao que me espera. Eu sei muito pouco, mas tenho a meu favor tudo que não sei.” Clarice Lispector * Tchetchelnik, Ucrânia – 10 de Dezembro de 1920 d.C + Rio de Janeiro, RJ – 9 de Dezembro de 1977 d.C

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Clarice Lispector – Prosa na tarde – 05/03/2015

Descoberta do amor Clarice Lispector ¹ “[…] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais. Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. […] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez. Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. […] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino. Pois juro que a vida é bonita.” ¹ Clarice Lispector * Ucrânia – 10 de Dezembro de 1920 d.C + Rio de Janeiro, RJ – 9 de Dezembro de 1977 d.C >>biografia [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Clarice Lispector – Versos na tarde – 01/12/2014

Poema Clarice Lispector¹ I Se tudo existe é porque sou. Mas por que esse mal estar? É porque não estou vivendo do único modo que existe para cada um de se viver e nem sei qual é. Desconfortável. Não me sinto bem. Não sei o que é que há. Mas alguma coisa está errada e dá mal estar. No entanto estou sendo franca e meu jogo é limpo. Abro o jogo. Só não conto os fatos de minha vida: sou secreta por natureza. O que há então? Só sei que não quero a impostura. Recuso-me. Eu me aprofundei, mas não acredito em mim porque meu pensamento é inventado. II Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro. Ao que me espera. Eu sei muito pouco, mas tenho a meu favor tudo que não sei.” ¹Clarice Lispector * Ucrânia – 10 de Dezembro de 1920 d.C + Rio de Janeiro, RJ – 9 de Dezembro de 1977 d.C >> Biografia de Clarice Lispector [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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