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Assentamentos judaicos na Cisjordânia

A Corte Internacional de Justiça acaba de classificar como ilegais os assentamentos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, territórios ocupados por Israel desde 1967, determinando proibição e imediata desmontagem. A ordem judicial é obrigatória para o regime sionista.

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Banksy oferece quartos com vista para o muro da Palestina

Grafiteiro britânico anônimo inaugura hotel decorado com suas obras em Belém O muro da Palestina visto do hotel aberto pelo artista Banksy em Belém. DUSAN VRANIC AP A suíte e os nove quartos do novo hotel Walled Off (Murado) em Belém (Israel) pretendem melhorar o desgastado setor turístico no berço do cristianismo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Não faltam acomodações na histórica localidade palestina próxima de Jerusalém, mas o muro erguido por Israel em torno da Cisjordânia dissuade muitos visitantes da Terra Santa de se aproximar da Basílica da Natividade, onde a tradição situa a manjedoura onde nasceu Jesus Cristo. O misterioso grafiteiro britânico Banksy –famoso por suas intervenções artísticas em todo o mundo, e especialmente nos territórios palestinos ocupados ou bloqueados por Israel– é um velho conhecido na cidade. Foi dele a ideia de abrir uma pousada com vista para o muro de concreto cinzento de oito metros de altura pontuado por torres com guardas armados. A estadia no Walled Off, cujas reservas podem ser feitas pela Internet a partir do fim do mês, tem como atrativo principal a decoração feita com obras do artista de rua nascido na cidade galesa de Bristol e cuja identidade é cuidadosamente mantida em sigilo. Enquanto alguns pesquisadores afirmam que o grafiteiro se esconde sob o nome de Robert del Naja, membro da banda Massive Attack, ninguém ainda conseguiu acabar com seu anonimato. Banksy começou a fazer suas icônicas pinturas no muro da Palestina em 2005. A denominada “barreira de segurança” pelo Estado hebreu tinha começado a ser erguida três anos antes, em plena eclosão de violência da Segunda Intifada. Muros, tapumes, grades e cercas serpenteiam ao longo de mais de 650 quilômetros pela da Linha Verde, a fronteira em vigor até a guerra de 1967. Com o traçado da barreira, Israel se apoderou de mais de 12% do território da Cisjordânia. Um dos quartos do Walled Off, decorado com uma obra de Banksy. REUTERS A Corte Internacional de Justiça de Haia já havia declarado o muro ilegal quando o artista agitava seus sprays em Belém em 2007 para pintar a silhueta de uma menina agarrada a alguns balões para cruzar a barreira de cimento ou a imagem de uma escada para contornar a parede. Como disse na ocasião o grafiteiro à BBC, com ironia, “Este é o destino de férias preferido de um grafiteiro”. Através de túneis usados pelos contrabandistas sob a fronteira egípcia, também ele viajou em 2015, logo depois do último conflito, para a Faixa de Gaza, onde deixou amostras de seu trabalho numa paisagem de destruição. O turismo caiu muito em Belém em 2014 depois da guerra em Gaza e acabou afundando durante a onda de violência que começou em  2015 Os colaboradores de Banksy que impulsionaram o projeto de Belém afirmaram nesta quinta-feira à agência France Presse que o objetivo principal do hotel é atrair turistas para revitalizar a economia local numa cidade de 32.000 habitantes cercada por 18 assentamentos judaicos e praticamente isolada do resto da Cisjordânia pelas colônias. Para tanto, escolheu um local próximo do muro, no acesso à localidade palestina cristã. Essa área está sob controle das forças de segurança de Israel, de modo que os visitantes judeus podem ir a Belém e observar a vida cotidiana sob a ocupação sem violar a proibição oficial sobre o acesso ao território da Autoridade Palestina. O Walled Off também pretende se tornar um centro de exposições para que os artistas palestinos, que sofrem restrições para viajar ao exterior, possam dar a conhecer suas obras ao público internacional e israelense. O Walled Off também pretende se tornar um centro de exposições para que os artistas palestinos A Basílica da Natividade –templo cuja construção foi ordenada no século IV por Constantino, o Grande, inspirado por sua mãe, Santa Helena, para tornar o cristianismo a religião oficial do Império Romano– não recebe tantas visitas como antes. O turismo caiu muito em Belém em 2014 depois da guerra em Gaza e acabou afundando durante a onda de violência que começou em outubro de 2015. Numa irrupção sem precedentes em uma década, desde então morreram 245 palestinos (dois terços deles abatidos pelas forças de segurança por terem sido considerados agressores), 38 israelenses e 5 estrangeiros (na maioria dos casos esfaqueados, atropelados ou baleados). Em meio à relativa calma dos últimos meses, viajantes e peregrinos parecem estar voltando aos lugares santos e às paisagens bíblicas. O hotel de Banksy ao lado do muro oferece agora a eles uma nova visão da Terra Santa quando a ocupação da Cisjordânia está prestes a completar meio século e falta pouco mais de um ano para o 70º aniversário da divisão da Palestina sob mandato britânico da qual surgiu o Estado de Israel. O selo do artista urbano marca cada ambiente desse hotel de dez quartos que abrirá ao público em 11 de março. El País

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Muamar Kadafi. Um neo pacifista?

A natureza humana é surpreendente. Quando menos se espera santos se transfiguram em bestas feras e, de forma não menos espetacular, ditadores sanguinários aparecem quais cordeiros da pacificação e arautos da tolerância entre os opostos. O ditador da Líbia, Muamar Kadafi, parece ser um desses casos de inesperadas, e, caso sejam sinceras suas intenções, transformações para o bem. Kadafi migra de incentivador de ações terrorista, como o atentado de Lockerbee¹, para um arauto da paz entre judeus e palestino. O ex maluquete das arábias, a continuar assim, poderá ser até agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. Abaixo artigo da lavra do ditador líbio publicado no The New York Times e reproduzido pel  O Estado de São Paulo. Ave! “A chocante intensidade da última onda de violência entre israelenses e palestinos nos impele a considerar a extrema urgência de uma solução final para a crise do Oriente Médio. É vital não apenas romper este ciclo de destruição e injustiça, mas também negar aos radicais religiosos que se alimentam do conflito uma desculpa para promover suas próprias causas. Mas para onde quer que olhemos, entre os discursos e as iniciativas da diplomacia, não há um caminho concreto para um avanço. Uma paz justa e duradoura entre Israel e palestinos é possível, mas deve ser procurada na história do povo dessa terra em constante conflito, e não na desgastada retórica das soluções que apontam para a criação de dois Estados. Embora seja difícil de perceber, depois dos horrores que acabamos de testemunhar, entre judeus e palestinos nem sempre existiu um estado de guerra. Na realidade, muitas das rupturas ocorridas entre os dois povos são recentes. O próprio nome “Palestina” era usado comumente para definir toda a região, até mesmo pelos judeus que viviam ali, até 1948, quando começou a ser usado o nome “Israel”. Judeus e muçulmanos são primos e descendem de Abraão. Ao longo dos séculos, ambos sofreram cruéis perseguições e, muitas vezes, se ajudaram mutuamente. Os árabes ofereceram guarida aos judeus e os protegeram quando estes sofriam sob o governo de Roma e quando foram expulsos da Espanha, na Idade Média. A história da região é marcada por governos transmitidos entre tribos, nações e grupos étnicos, que resistiram a muitas guerras e a ondas migratórias de povos vindos de todas as direções. É por isso que a questão se torna tão complicada quando uma das partes reivindica o direito de ser dona dessa terra. O cerne do moderno Estado de Israel é a inegável perseguição ao povo judeu, que foi escravizado, massacrado, perseguido por egípcios, romanos, ingleses, babilônios, cananeus e, mais recentemente, pelos nazistas. O povo judeu merece uma pátria, mas os palestinos também têm uma história de perseguições e consideram as cidades de Haifa, Acra, Jafa como a terra de seus ancestrais, transmitida de geração em geração, até pouco tempo atrás. Portanto, os palestinos acreditam que o que agora se chama Israel é parte de sua nação, mesmo que fiquem com Cisjordânia e Gaza. E os judeus acreditam que a Cisjordânia é a Samaria e a Judeia, parte da sua pátria, mesmo que ali venha a estabelecer-se um Estado palestino. Com o cessar-fogo em Gaza ressurgiram os apelos para uma solução de dois Estados, que nunca funcionará. Essa solução criará uma ameaça para a segurança de Israel. Um Estado árabe armado na Cisjordânia daria a Israel menos de 16 quilômetros de profundidade estratégica em seu ponto mais estreito. Além disso, um Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza não solucionaria o problema dos refugiados. Qualquer situação que mantenha a maioria dos palestinos em campos de refugiados e não ofereça uma solução dentro de suas fronteiras históricas não é uma solução. Pelas mesmas razões, a divisão da Cisjordânia em áreas judaicas e árabes, com zonas-tampão entre elas, não funcionará. As áreas palestinas não teriam condições de abrigar todos os refugiados e as zonas-tampão simbolizariam a exclusão e alimentariam tensões. Em termos absolutos, os dois movimentos terão de permanecer em um perpétuo conflito ou chegar a um compromisso: o da criação de um Estado único para todos, uma “Isratina”, que permita que as pessoas de cada lado sintam que podem viver em toda a região. Um requisito fundamental da paz é o direito dos palestinos refugiados de regressarem para as casas que suas famílias deixaram, em 1948. É uma injustiça que os judeus que não viviam originalmente na Palestina, nem seus antepassados, venham do exterior para se estabelecer ali, enquanto essa permissão é negada aos palestinos que foram obrigados a fugir dali há relativamente pouco tempo. É um fato incontestável que, até recentemente, os palestinos viviam nessa terra, eram donos de fazendas e casas, mas tiveram de sair com medo da violência dos judeus após 1948. Por isso, somente o território total da Isratina poderá abrigar todos os refugiados e favorecer a justiça, que é o elemento fundamental da paz. A assimilação é um fato concreto da vida em Israel. Mais de 1 milhão de árabes muçulmanos vivem no país. Eles têm nacionalidade israelense, participam da vida política e constituem partidos. Por outro lado, há assentamentos israelenses na Cisjordânia. As fábricas israelenses dependem da mão-de-obra palestina e há intercâmbio de produtos e serviços. Essa assimilação, por seu sucesso, pode ser um modelo para Isratina. Se a atual interdependência e o fato histórico da coexistência de judeus e palestinos servirem de orientação a seus líderes, e se, na busca de uma solução de longo prazo, eles olharem além da violência recente e da sede de vingança, perceberão que a coexistência debaixo de um único teto é a única opção para uma paz duradoura.” ¹Nota do Editor O atentado de Lockerbie foi um ataque terrorista ao vôo 103 da Pan Am em 21 de dezembro de 1988. O avião Boeing 747-121 partira do Aeroporto de Londres Heathrow em Londres com destino a Nova Iorque, e explodiu no ar logo acima da cidade escocesa de Lockerbie, matando 270 pessoas (259 no avião e 11 na terra) de 21 nacionalidades diferentes. Deste total, 189

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O fim moral da política israelense

por Mario Vargas Llosa – O Estado de São Paulo Haverá alguma possibilidade de a invasão militar de Israel na Faixa de Gaza “destroçar a infraestrutura terrorista” do Hamas – objetivo oficial da operação – e pôr fim ao disparo de foguetes artesanais dos integristas palestinos de Gaza contra as cidades israelenses da fronteira? Acho que nenhuma. Ao contrário, essa operação militar, que até este exato momento deixou milhares de feridos e já matou quase 900 palestinos, entre eles um grande número de crianças e de civis, terá o efeito de um massacre de parte da comunidade palestina, da qual o Hamas sairá fortalecido, e o setor moderado, ou seja, a Autoridade Nacional Palestina (ANP), liderada por Mahmud Abbas, será diminuída. Para que o argumento usado por Ehud Olmert e seus ministros como justificativa do ataque tivesse uma aparência de realidade, Israel deveria voltar a ocupar Gaza com uma enorme força militar permanente ou perpetrar um genocídio que nem mesmo os mais fanáticos de seus falcões se atreveriam a assumir, e nem, esperamos, o resto do mundo toleraria, embora a opinião pública internacional tenha demonstrado – mais uma vez – uma total indiferença pelo destino dos palestinos. A verdade dos fatos é que, por mais feroz que tenha sido o castigo infligido pelo Exército de Israel a Gaza, e precisamente em razão do sentimento de impotência e ódio pelo ocorrido com o 1,5 milhão de palestinos que vivem esfomeados e quase asfixiados nessa ratoeira, é provável que, uma vez que o Exército se retire da Faixa e a “paz” seja restabelecida, as ações terroristas se renovem com mais brio e um desejo de vingança alimentado pelos sofrimentos destes dias. Os defensores dos bombardeios e da invasão respondem a seus críticos com a pergunta: “Até quando um país pode suportar que suas cidades sejam vítimas de foguetes terroristas disparados em suas fronteiras, durante dias, meses, por uma organização como o Hamas, que não reconhece a existência de Israel nem esconde seu propósito de acabar com o país?”A pergunta é muito pertinente e ninguém que não seja fanático ou terrorista pode justificar o assédio criminoso constante do Hamas contra as populações civis de Israel.

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A lógica realista da guerra em Gaza

A morte de israelenses e palestinos rende ganhos políticos para Hamas, Irã e trabalhistas em Israel. Gilles Lapouge* A guerra de Gaza será a consequência do ódio irracional, desvairado do povo israelense pelo palestino, e vice-versa? Com certeza, sim. Mas, sobre esse ódio, entrelaçam-se também estratégias, táticas, subterfúgios, cálculos “eleitoreiros”, tanto de israelenses quanto palestinos. A esta altura, devemos fazer uma indagação alarmante: a morte de 700 palestinos terá sido para devolver o orgulho ao Hamas? Para recuperar a imagem envelhecida dos trabalhistas israelenses? Ou para aumentar o prestígio de Mahmud Ahmadinejad, o fanático presidente que governa o Irã? O Hamas, partido dos extremistas palestinos que assumiram o controle da Faixa de Gaza em 2007, e que se posicionou como o inimigo implacável da outra facção palestina, os moderados do Fatah, liderados por Mahmud Abbas na Cisjordânia, está em declínio há um ano. Uma pesquisa recente dá 40% de apoio aos moderados do Fatah contra 16,6% aos frenéticos do Hamas. RESSURGIMENTO A degringolada do Hamas tem sido tão constante, tão irreversível, que seus dirigentes – Ismail Haniyeh, que está em Gaza, e Khaled Meshaal, homem que determina a linha política do Hamas do exílio na Síria – optaram pelo fim da trégua com Israel e, portanto, desencadearam uma tempestade da qual agora colhem os frutos. Em oito dias, o Hamas se regenerou. O cálculo do Hamas estava totalmente certo, principalmente porque permitiu que se realizassem os objetivos de Israel. Em Israel, os trabalhistas estão encurralados entre o Likud, a extrema direita, e o Kadima, o partido de Ariel Sharon, que passou da direita para o centro. Dentro de algumas semanas se realizarão as eleições israelenses, que ocorrerão depois da demissão inglória do primeiro-ministro, Ehud Olmert, por corrupção. O Partido Trabalhista já se considera derrotado. Consequentemente, Ehud Barak, líder dos trabalhistas e ministro da Defesa de Olmert, lançou seus soldados ao assalto de Gaza. Isso bastará para que ele vença as eleições? Pelo menos, essa é a sua equação. SURPRESA Quanto ao Irã, indubitavelmente a guerra de Gaza beneficia o presidente Ahmadinejad, que alardeia querer “riscar Israel do mapa”. Ele é tão barroco, tão irresponsável, que perdeu o apoio de parte da população iraniana. O ataque de Israel ao Hamas foi, portanto, recebido pelos amigos de Ahmadinejad como uma “surpresa divina”. O Irã se mobilizou em favor dos extremistas do Hamas, voltando a unir-se em torno dos delírios anti-israelenses de Ahmadinejad. Setenta mil jovens iranianos se inscreveram para “morrer em Gaza”, mas não há perigo: eles não têm como chegar ao território. Ao mesmo tempo, o governo iraniano explicou que não intervirá em Gaza, porque seus habitantes são fortes o bastante. A cotação de Ahmadinejad disparou. Chegamos, assim, a uma constatação repugnante: as crianças e os soldados que morrem, não morrem em vão. Foram sacrificados para que os líderes do Hamas continuem liderando, para que os trabalhistas consigam suas cadeiras no Parlamento de Israel e para que o ódio do iraniano Ahmadinejad possa persistir por mais algumas temporadas. O sentido oculto da Guerra Santa está nas eleições. *Gilles Lapouge é correspondente em Paris.

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