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O declínio do carro particular

Escândalos na indústria automotiva e a proteção do ambiente convidam a imaginar uma cidade diferente. Matthias Mueller, CEO da Volkswagen, na conferência de imprensa em outubro, após o escândalo da falsificação dos motores diesel. ODD ANDERSEN AFP MAIS INFORMAÇÕES Os táxis sem motorista do Japão Audi e Skoda: 3,3 milhões de carros com ‘software’ ilegal Essa engenhoca conhecida como carro, grande protagonista do crescimento urbano, da livre circulação e do status social, parece que precisa passar por uma revisão geral. A crise do setor, junto com a preocupação, cada vez maior, de seu impacto ambiental deram origem a propostas inusitadas: carros de uso público compartilhados, proprietários de veículos que oferecem a outros passageiros a divisão de despesas em suas rotas habituais, ou particulares que se oferecem como motoristas a baixo preço.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Estas novas práticas já estão entre nós com nomes como carsharing, Blablacar ou Uber, respectivamente. Acrescente a isso o aumento da bicicleta como meio de transporte urbano. Seu crescimento — com pior ou melhor sinalização — entre o trânsito foi acompanhado de subsídios para promover o aluguel para trajetos na cidade. Tudo isso pinta um panorama no qual o carro particular poderia ser visto não mais como um luxo, mas como um incômodo. A ideia de que o uso do carro seja limitado nas cidades pode soar tão incrível quanto parecia impossível há duas décadas que o tabaco acabasse sendo banido dos lugares públicos. Mas a cidade sem carros já está entre nós. Ou melhor: sempre esteve aqui, desde o início. Há cidades que foram construídas em espaços com topografias inacessíveis, com a densidade de uma cidade medieval, cidades nas montanhas, cidades fortaleza, cidades proibidas, na qual os carros nunca entraram. Também foram fundadas cidades isoladas ou em arquipélagos que só tinham comunicação pelo mar; eram cidades ilhas e cidades mar. Nesses lugares não havia o barulho, a poluição e o perigo inerentes ao transporte por carro. Tudo isso pinta um panorama no qual o carro particular poderia ser visto não mais como um luxo, mas como um incômodo Imaginemos agora uma cidade visível, real, contemporânea, onde, exceto em casos de necessidade, as pessoas se movem sem o auxílio de qualquer força motriz artificial. Um lugar onde a rua seja em si mesma um meio de transporte, ruas pavimentadas ou canais de Veneza. Paradoxalmente, o lugar de onde parte o narrador de As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino, é hoje, por incrível que pareça, um modelo de futuro. Essa ideia é impensável para as pessoas de uma cidade histórica invadida e mutilada pelos automóveis. Também poderia ser uma utopia para quem vive na cidade do século XX, construída por e para o carro, e onde não possuir um pode quase relegá-lo a ser um cidadão de segunda classe. Mas o declínio do carro particular e seu impacto é uma questão multidisciplinar. Seus benefícios em termos de saúde, ambiente, energia e justiça social estão começando a passar por uma discussão mais profunda. Para que a cidade sem carros seja algo real, só precisamos resolver o fator econômico, ou seja, o impacto sobre o setor, mas não a viabilidade da ideia. Temos a tendência a ver a cidade como algo que é construído, quando também é uma sucessão de quedas. Quanto mais bem-sucedida, de longa duração e vital é uma cidade, maior é o número de transformações que experimentou. A restrição a estacionar veículos de não residentes no centro de Madri, implementada por Manuela Carmena há algumas semanas, mostrou que o tema de limitar o uso do carro na cidade não é algo visionário, complexo ou de ficção científica, é na verdade uma questão de mudança de mentalidade. O nascimento dos Estados-nação derrubou as muralhas e o desenvolvimento industrial solucionou o problema do saneamento, agora chega a hora da derrubada dos veículos particulares na cidade. Começa o tempo para refletir sobre este novo espaço público. Luis Feduchi é arquiteto e decano da Faculdade de Arquitetura da Universidade Camilo José Cela. Colabora com a Universidade Humboldt de Berlim. ElPaís

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Internet: Uma conexão 100 vezes mais rápida do que o wi-fi

A tecnologia li-fi, que utiliza a luz direta para transmitir dados, oferece umas conexões mais eficientes e seguras Um frigorífico que avisa a data de validade dos alimentos e uma escova de dentes que alerta sobre qualquer pequena cárie e marca automaticamente uma consulta ao dentista. Em 2023, calcula-se que existirão 22 milhões de dispositivos conectados à rede que revolucionarão a relação entre os objetos e as pessoas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) o chamou de “internet das coisas”. Seu desenvolvimento, entretanto, se choca com a saturação do espectro de radiofrequência das redes wi-fi. A popularização do uso de dispositivos permanentemente conectados obrigou a busca de novas soluções. Uma conexão 100 vezes mais rápida do que o wi-fi O cientista da Universidade de Edimburgo, Harold Haas, descobriu em 2011 que a luz de um só LED (diodo emissor de luz) era capaz de transmitir mais dados do que uma antena de telefonia. Os testes no laboratório conseguiram uma transferência de arquivos de até 224 gigabits por segundo. Isso significa baixar 18 filmes em um instante. Em 2019 estima-se que o tráfego mundial de dados aumentará até os 24,3 exabytes por mês (24,3 bilhões de gigabytes). O desenvolvimento de conexões por luz direta (também conhecida como li-fi) é somente o começo de uma revolução muito próxima. Resolvida a saturação A principal diferença com o wi-fi é que sendo os dois ondas eletromagnéticas para transportar os dados, o li-fi o faz através da luz visível e não por micro-ondas. Dessa maneira é resolvido o problema da saturação do espectro de radiofrequência que reduz a velocidade das conexões atuais. O obstáculo para a implantação das cidades inteligente já não existiria. Ainda não é comercializado, mas já existem empresas que pretendem colocar no mercado soluções baseadas nessa tecnologia. Arturo Campos Fentanes, diretor da Sisoft, no México, conta por e-mail que já estão na fase de miniaturização de seus protótipos. Essa empresa tem três patentes de modelos de transmissão e comunicação através de diodos LED. “O problema está no hardware dos aparelhos, porque os processadores ainda não são tão rápidos para captar todos os pacotes de dados enviados pela luz visível”, explica. O custo é outra de suas vantagens porque não requer grandes instalações. O preço ficará entre 215 e 3.445 reais, dependendo do tipo de LED e chip. Funciona como um código Morse avançado. Com a instalação de um modulador, qualquer LED seria capaz não só de fornecer luz, como também transmitir dados. Esses moduladores fazem com que a luz acenda e apague milhões de vezes por segundo criando os zeros e uns binários que cifram os dados. A oscilação é imperceptível ao olho humano, mas não para fotodiodos colocados nos celulares e computadores que se encarregarão de captar as mudanças de luz e interpretá-las para transformá-las em informação. Dessa forma, toda a rede de iluminação de uma casa se transformaria assim em um grande roteador com múltiplos pontos de conexão dos gadgets. Isso não significa, porém, o fim do wi-fi. O projeto prevê, em princípio, somente o recebimento de informação (unidirecional), mas os cientistas afirmam que conseguir não só, por exemplo, receber um e-mail como também enviá-lo, seria tão simples como colocar um emissor de luz no dispositivo (bidirecional). A ideia é que os dois sistemas coexistam para conseguir conexões mais eficientes e seguras. E a transmissão de dados por luz direta limita seu raio de ação ao local em que o emissor e o receptor se encontram. Nenhuma pessoa pode interferir no sinal, como é possível fazer através das micro-ondas. Essa ausência de interferências favorece a instalação nos hospitais – na Coreia do Sul existe um projeto para eliminar todo o cabeamento de determinadas máquinas – e nos aviões. As utilidades são tantas quanto a mente possa imaginar. Teste piloto O desenvolvimento desta tecnologia tinha sido paralisado pela impossibilidade de se conseguir, em ambientes reais, uma velocidade de transmissão de dados tão superior à do wi-fi. Nestes últimos meses, no entanto, conseguiu-se implantar com sucesso, de forma piloto, em um escritório. Isso representa um salto qualitativo ao se obter velocidades de um gigabit por segundo. Ou seja, 100 vezes superior à velocidade média oferecida pelo wi-fi. “É um passo muito importante, porque o principal problema que encontramos em ambientes reais são as interferências, como, por exemplo, a luz natural”, comenta Ana García Armada, catedrática de Teoria do Sinal e Comunicações da Universidade Carlos III de Madri. A implantação comercial exige um redesenho de muitos dos equipamentos emissores e receptores existentes, apesar de os cientistas trabalharem para que, por exemplo, a câmera de qualquer smartphone possa servir para decifrar o sinal da luz. As empresas de telecomunicações, como a Vodafone, admitem estar acompanhando com atenção seu progresso para avaliar as vantagens potenciais. UMA GERAÇÃO DE CARROS INTELIGENTES A tecnologia li-fi revolucionará também a forma de circular. Um projeto espanhol está desenvolvendo um protótipo de modulador que dará acesso à internet sem fio por meio dos postes de iluminação pública. “Estamos em uma etapa inicial, mas esperamos que em alguns anos possa ser uma realidade comercial”, afirma a catedrática García Armada, que participa do projeto. A iluminação das rodovias se transformará em uma imensa rede de conexão. Os veículos inteligentes poderão se comunicar entre si por meio dos faróis de LED. Neste caso, ao ter ambos emissores de luz direta, pode-se estabelecer uma interação bidirecional. Entre as funcionalidades estão a de evitar acidentes ao detectar-se automaticamente uma brusca redução de velocidade do veículo que circula à frente. Carlos Santana/ElPaís

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