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Alemanha aposta em autobahns para bicicletas

Governo investirá 25 milhões de euros em vias expressas para ciclistas, a serem usadas sobretudo para se deslocar de casa para o trabalho. Menos tráfego nas estradas deve ser apenas um dos benefícios. Para distâncias maiores, combinação de via expressa e bicicleta elétrica pode ser interessante O governo federal alemão planeja investir neste ano 25 milhões de euros na expansão de vias expressas para bicicletas. As chamadas autobahns para bicicletas devem ser usadas principalmente pelo número crescente de pessoas que percorrem longas distâncias até o local de trabalho ou estudo. Sem semáforos nem cruzamentos, seria possível chegar muito mais rapidamente à universidade ou ao trabalho e, ao mesmo tempo, aliviar o tráfego nas estradas. Ir de uma cidade a outra, ou do subúrbio ao centro de bicicleta é uma boa ideia tendo em vista as rodovias congestionadas, a poluição do ar e o sedentarismo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Quase 17 quilômetros de bicicleta? Um estudo do Instituto Federal de Pesquisas em Construção, Urbanismo e Desenvolvimento Espacial (BBSR) apontou recentemente que os alemães percorrem, em média, 16,8 quilômetros entre suas casas e o trabalho. É realista o uso de bicicleta para percorrer tais distâncias? Marcus Peter, da Universidade Técnica de Hamburgo (TUHH), analisou onde faz sentido a construção de vias expressas para bicicletas na região metropolitana da cidade no norte da Alemanha. “Tal infraestrutura é destinada, principalmente, para pessoas que usam a bicicleta para percorrer uma faixa de entre cinco a dez quilômetros”, explica. “Se o caminho é mais longo, as pessoas tendem a não percorrê-lo de bicicleta.” Bicicletas elétricas para transportar mercadorias Mas, mesmo que o trabalhador tenha que percorre, em média, mais de dez quilômetros para chegar a seu local de trabalho, Peter diz que o investimento em autobahns para bicicletas traria vantagens significativas. “Vejo um grande potencial para quem tem que percorrer uma faixa de até dez quilômetros, o que pode gerar um alívio do tráfego nas rodovias”, opina. O especialista dá razão ao estudo de viabilidade do projeto Radschnelweg Ruhr (via expressa para bicicletas do Ruhr), região no oeste do país. A ideia é que, com seus mais de 100 quilômetros, a autobahn para bicicletas acabe com cerca de 52 mil viagens de carros diárias, percorridas por mais de 400 mil quilômetros. Além disso, as bicicletas elétricas, que vêm ganhando espaço no país, poderiam contribuir para que mais cidadãos utilizassem as vias expressas. Graças ao seu motor elétrico, pessoas com menos preparo físico também poderiam percorrer distâncias maiores em um período razoável de tempo, e, assim, se beneficiar das autobahns para bicicletas. Peter vê as vias expressas não somente como uma opção para os trabalhadores, mas aponta que elas poderiam ser usadas também para outros percursos, como para ir ao supermercado ou ao cinema. Assim, uma via expressa para bicicletas daria mais flexibilidade às pessoas que querem sair à noite e que têm, geralmente, problemas para voltar para casa devido a ônibus e trens que não operam depois de certa hora. Um pequeno passo na direção certa Até agora, municípios e estados assumiam os custos sozinhos das vias expressas para bicicletas. Segundo Peter, de uma forma geral, os 25 milhões de euros com os quais o governo federal quer subsidiar a expansão representa “um passo na direção certa”. A Associação dos Ciclistas da Alemanha (ADFC) também avalia o investimento como um “importante sinal político”. No entanto, o orçamento seria muito pequeno para ser dividido por toda a Alemanha, já que a construção de um quilômetro de via expressa para bicicletas custa entre 500 mil e 2 milhões de euros. Assim, com o valor de 25 milhões de euros poderiam ser construídos somente de 12 a 50 quilômetros. Por isso, a ADFC pede que o investimento seja multiplicado por dez, o que resultaria em cerca de 300 quilômetros de vias expressas para bicicletas no país. DW

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A imprensa e as redes sociais na guerra contra o lixo

São mais de 7 bilhões de pessoas ao redor do mundo gerando lixo diariamente e as previsões são de que até 2025 a tonelagem seja o dobro das atuais. Lixo urbano na Indonésia. Foto: Wikimedia / CC Por Cristiana Cyrino Borges de Andrade e Cláudio Magalhães Segundo o Banco Mundial (2012), em 2025 serão 4,3 bilhões de habitantes urbanos (contra 2,9 bilhões em 2002), produzindo 1,42 quilo de lixo por dia, num total de 2,2 bilhões t/ano. Além do planeta dar sinais de esgotamento por acumular tantos resíduos, mostra que o modelo de exploração dos recursos naturais está fadado ao fracasso.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] As consequências das mudanças climáticas, nos âmbitos ambiental (degelo da Antártida, desaparecimento de espécies vegetais e animais etc.) e saúde pública (retorno de doenças antes erradicadas e a proliferação de vetores que disseminam outras patologias, como o aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus), e mais recentemente o temor de uma epidemia de febre amarela no país, são demonstrativos dessa falência. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2013), o Brasil desperdiça, a cada ano, cerca de R$ 10 bilhões por falta de destinação adequada de resíduos. Dados da Abrelpe (2014) mostram que58,4% dos resíduos coletados no país tiveram destinação adequada (aterro sanitário), mas “mesmo com uma legislação mais restritiva […], 3.334 municípios, correspondentes a 59,8% do total, ainda fazem uso de locais impróprios para destinação final dos resíduos coletados”. Diante desse cenário, é importante refletir de que forma os meios de comunicação – analógicos e digitais – podem contribuir de forma assertiva para a disseminação de informações de qualidade e a ampliação do debate sobre o tema na sociedade. Notadamente, percebemos que a grande imprensa rotineiramente abre espaço para temas como aquecimento global, degelo do Ártico, aumento das temperaturas, mas raramente para uma análise local dos problemas, por exemplo, trazendo a questão para o Brasil. Geralmente o tema “resíduos” ganha destaque na mídia nacional quando os garis paralisam os serviços de coleta ou ocorre algum problema em um aterro sanitário. A greve dos garis no Rio de Janeiro durante o carnaval de 2014 foi uma excelente oportunidade para a sociedade brasileira se debruçar sobre o debate dos resíduos sólidos frente à nova legislação e o desenfreado descarte de resíduos. O que se viu durante sete dias foram montanhas de plásticos, garrafas de água, latas, caixas de papelão e, claro, lixo comum transbordando por toda a capital fluminense. Não teria sido esse um ótimo momento para uma mobilização emergencial de educação ambiental com os cariocas? Com os turistas foliões? Numa análise superficial do noticiário dos dois jornais de maior circulação no Brasil – O Globo e Folha de S.Paulo –, ambos se limitaram a retratar os fatos, claro, dando ênfase à gravidade da situação, às doenças correlacionadas, como leptospirose e diarreias, mas não avançaram no debate chamado a sociedade para a corresponsabilidade, nem situando a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) nesse contexto. O envolvimento da sociedade O Globo publicou uma nota de opinião, levantando a hipótese de oportunismo político do movimento, em pleno carnaval, com a cidade repleta de gente e com 3 mil toneladas de lixo pela cidade todos os dias, sem desmerecer que os garis podiam ganhar mais. No bate-pé entre Prefeitura do Rio e garis, os trabalhadores dos resíduos venceram: pediram R$ 1.200 e levaram R$ 1.100, um aumento real de 37%, em cima do salário de R$ 803. Um dos preceitos da política nacional é reduzir a geração de resíduos, e para isso é necessário que as pessoas acessem o mínimo de informação para se mobilizar, como atestam Braga e Mafra (2000): “Além disso, precisam compartilhar visões, emoções e conhecimentos sobre a realidade das coisas à sua volta, gerando a reflexão e o debate para a mudança.” Pensar em políticas públicas e de mobilização da sociedade para reduzir a geração de resíduos e fazer seu descarte de forma correta é essencial. Com esse intuito, foi desenhada, depois de 20 anos tramitando no Congresso, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), legislação que prevê uma série de exigências a todos os 5.570 municípios brasileiros. Entre elas, e uma das mais significativas, é a construção do plano municipal de gestão dos resíduos sólidos, que cada cidade deve ter. Nesses planos devem constar, entre vários itens, a implantação da coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; e a adoção de programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos .(PNRS, 2012) Uma das questões colocadas pela nova legislação é a responsabilidade compartilhada, que prevê o envolvimento de toda a sociedade, incluindo população, indústria, comerciantes, importadores, distribuidores, consumidores finais e serviços públicos de limpeza urbana com a questão, considerada um princípio norteador da PNRS, por Costa e Crespo (2012): “É uma mensagem para que todos os atores façam sua parte.” Comunicação para o desenvolvimento humano Mais do que envolver a população, é fundamental que a questão seja tomada com política de governo, como bem descreve Acselrad (2000): “A participação democrática e a socialização da política seriam condições do desenvolvimento, que contaria com a participação da sociedade nos fóruns de discussão sobre as decisões de interesse público.” Na visão de Acselrad, um caminho viável do desenvolvimento é repensar as articulações entre dimensões econômicas, sociais e político-institucionais. Um dos modelos seria movido pelos processos temporais de inovação, velocidade de circulação da informação e o uso do conhecimento tecnológico. O outro teria foco na cidadania como condição do desenvolvimento. Se o envolvimento da população se mostra como essencial para o sucesso de um processo de mudança – nesse caso, o da redução de geração de resíduos e adoção na prática diária de medidas ambientais, separação de materiais e destinação para a coleta seletiva –, a comunicação para o desenvolvimento humano e social, bem como para a promoção da autonomia dos sujeitos, se apresenta como item fundamental de mobilização social,

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Bairro hipster de Londres ganha escritório coletivo em árvore

Um pequeno escritório de aluguel foi construído em torno de uma árvore em um parque de Londres, no coração da região de Hoxton. A área é conhecida como reduto de hipsters londrinos. A iniciativa, uma estrutura temporária de papel e plástico, oferece aluguel de mesas de trabalho ou do escritório inteiro. Para gente como a comerciante de vinhos, Wieteke Teppema, é a solução perfeita para quem não tem uma base fixa. “Estou sempre a caminho de algum lugar. Entre uma reunião e outra, posso me sentar, ler emails e trabalhar”, disse à BBC. Todo o lucro com os aluguéis será reinvestido nos parques da área. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Resistir é preciso!

Edith Ballard e Shopping Foto Maryjane Midgmink Dizem que tudo na vida tem um preço. Mas o ditado não se aplica a Edith Macefield Ballard, a mulher que fez admiradores por todo o todo o mundo, quando teimosamente rejeitou proposta de US $ 1 milhão para vender sua casa para um centro comercial em Seattle – EUA. Edith morreu no ano passado, de câncer de pâncreas, aos 86 anos. Ela continuou vivendo na pequena e velha casa, mesmo após as grossas paredes de concreto subirem ao seu redor quase batendo na porta de sua cozinha. Foto Maryjane Midgmink Ao morrer Edith não deixou herdeiros e ninguém sabe exatamente o que vai acontecer com a velha casa de dois quartos construída em 1900. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Carta de um “matuto” para um ecologista

  Prezado Luis, quanto tempo. Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava. Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo… hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luis? Pois é. Estou pensando em mudar para viver ai na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro… Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos ai da cidade. To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente. Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né Luis? Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né .) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana ai não param de fazer leite. Ô, bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário? Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma cama, só comprando outra né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca. Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luis, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo. Depois que o Juca saiu eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora. Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande né? Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios ai da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado. Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luis? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa. Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo ai eu vi que o

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Dilma comparece ao local da tragédia no Rio de Janeiro

A par da tragédia e da presença solidária e obrigatória de governantes aos locais de tragédias como essa acontecida na região serrana do Rio de Janeiro, fica claro que sem a responsabilização civil, administrativa e penal dos Prefeitos, Governadores e Presidente da República, pela não implementação de políticas definitivas para planos diretores, nada ira mudar. Por outro lado, ano após ano a mídia credita somente ao governo federal a culpa de todas essas tragédias. É preciso esclarecer ao povo que por trás das críticas feitas a Dilma, Cabral, Alckmin, etc., existem estados e municípios, com burocracias mastodônticas. Dona Dilma fez o que se espera de um governante nessas horas difíceis: a manifestação “in locum” de solidariedade às vítimas. Ao contrário de Lula, que evitava ter a imagem associada a qualquer ocorrência trágica, a presidente Dilma em 15 dias já deu mostra de que não é um poste lulista. Lamentavelmente, no texto abaixo, o articulista vê na presença da Presidente nos locais da tragédia, somente um motivo para desfiar picuinhas críticas. No geral, a mídia brasileira, conservadora e comprometida, politiza qualquer tragédia, exercitando um tipo de jornalismo que nada acrescenta, e que passa ao largo da solidariedade. Assim, a chuva em São Paulo é obra de Deus, no Rio é culpa do Lula! Entre outras inúmeras demandas, um pacto ético é urgente para colocar o Brasil no rumo da civilização. O Editor A reação dos governantes às tragédias pode arruinar uma biografia. Assediada por um flagelo no alvorecer de sua gestão, Dilma Rousseff não deu chance ao azar. Menos de 24 horas depois do início da contagem dos corpos da região serrana do Rio, Dilma sobrevoou a área. Sujou os sapatos na lama de uma das cidades castigadas pelas águas. Depois, deu uma entrevista improvisada. Soou inespecífica quanto às providências práticas. Enfiou na tragédia elogios inadequados a Lula. Porém… Porém, teve a delicadeza de encerrar a conversa com uma manifestação de solidariedade às famílias dos mortos. Ao levar o rosto ao cenário do drama, Dilma diferenciou-se de Lula, que não teve a mesma agilidade em crises análogas.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Portou-se, de resto, como uma espécie de anti-Bush. No dia 29 de agosto de 2005, uma segunda-feira útil, o furacão Katrina devastou a cidade de Nova Orleans. No instante em que feneciam dezenas de vítimas, George Bush, então presidente dos EUA, encontrava-se no Arizona, num compromisso inútil. Posava para fotógrafos segurando um bolo de aniversário. Os mortos avolumavam-se nas manchetes. E Bush festejava os 69 anos de vida de um senador republicano. Nas semanas seguintes, Bush lidou com a tragédia com a agilidade de uma tartaruga manca. Com isso, plantou em sua biogragia uma nódoa definitiva. Um pedaço da opinião pública americana atribuiu a lerdeza de Bush a um não-declarado preconceito racial. Líderes religiosos, políticos e artistas levaram ao noticiário a tese de que Bush demorou a prover socorro aos desabrigados porque a maioria era negra. No mês passado, em entrevista à apresentadora Oprah Winfrey, Bush foi instado revolver o passado omisso. Refutou a acusação de racismo. Mais de cinco anos depois do ocorrido, Bush revelou-se refém de sua própria omissão. Ao voar de Brasília para o Rio, Dilma fugiu desse figurino. Sua visita não devolveu as vidas ceifadas. Tampouco atenuou a aflição dos desabrigados. Mas salvou a biografia da presidente da pecha da omissão. Pouco? Talvez. Mas já é alguma coisa. Uma presidência também é feita de gestos. Eles são preferíveis à inação. blog Josias de Souza

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