Arquivo

Carlos Drummond de Andrade – Poesia – 22/03/24

Boa noite Memória Carlos Drummond de Andrade Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.

Leia mais »

Carlos Drummond de Andrade – Poesia – 01/02/24

Boa noite. Os ombros suportam o mundo Carlos Drummond de Andrade Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação. Carlos Drummond de Andrade, no livro “Sentimento do Mundo”. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940 | em “Nova Reunião”. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1985.

Leia mais »

Carlos Drummond de Andrade – Poesia

Para o sexo a expirar Carlos Drummond de Andrade   Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante. Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo. Amor, amor, amor – o braseiro radiante que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.   Pobre carne senil, vibrando insatisfeita, a minha se rebela ante a morte anunciada. Quero sempre invadir essa vereda estreita onde o gozo maior me propicia a amada.   Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo, quem sabe? enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer antes que, deliciosa, a exploração acabe.   Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo, e assim possa eu partir, em plenitude o ser, de sêmen aljofrando o irreparável ermo.

Leia mais »

Drummond – Versos na tarde – 28/01/2017

A Máquina do Mundo Carlos Drummond de Andrade¹ E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado, a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia. Abriu-se majestosa e circunspecta, sem emitir um som que fosse impuro nem um clarão maior que o tolerável pelas pupilas gastas na inspeção contínua e dolorosa do deserto, e pela mente exausta de mantar toda uma realidade que transcende a própria imagem sua debulhada no rosto do mistério, nos abismos. Abriu-se em calma pura, e convidando quantos sentidos e intuições restavam a quem de os ter usado os já perdera e nem desejaria recobrá-los, se em vão e para sempre repetimos os mesmos sem roteiro tristes périplos, convidando-os a todos, em coorte, a se aplicarem sobre o pasto inédito da natureza mítica das coisas. ¹Carlos Drummond de Andrade * Itabira do Mato Dentro, MG, – 31 de Outubro de 1902 + Rio de Janeiro RJ, – 17 de Agosto de 1987 biografia[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

Leia mais »

Carlos Drummond de Andrade – Versos na tarde – 02/01/2017

Boa noite! O mundo é grande Carlos Drummond de Andrade ¹ O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar. ¹ Carlos Drummond de Andrade * Itabira do Mato Dentro, MG, – 31 de Outubro de 1902 + Rio de Janeiro RJ, – 17 de Agosto de 1987[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

Leia mais »