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Economia; O ano de privações de dona Idalina

Nem Dilma nem Temer: Moradora da Zona Sul de São Paulo sustenta seis filhos, cinco netos e um bisneto com Bolsa Família Idalinda Gomes, 58 anos, com três netos que cria em um barraco no Jardim Monte Verde, Zona Sul de São Paulo FERNANDO CAVALCANTI Idalina Gomes acorda cedo, no Jardim Monte Verde, Zona Sul de São Paulo, para alimentar quase 50 galinhas que cria na beirada da represa Billings. Um ano depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a mulher de 58 anos reage com indiferença ao ser questionada sobre o que achou da mudança de presidente. Nos últimos 12 meses, um filho de Idalina foi demitido e outro só conseguiu trabalho de madrugada. Ela se vira para sustentar seis filhos, cinco netos e um bisneto com um benefício do programa Bolsa Família de 706 reais por mês. “Não tenho nada pra falar da Dilma nem do Temer. Pra mim, tanto faz como tanto fez. Se ele está lá, ele ganhou. Tem que cumprir o mandato, cumprir o que falou, porque se sair de lá, ninguém mais vai colocar de novo”, diz dona Idalina, um ano depois do impeachment de Dilma. Pelos critérios do Ministério do Desenvolvimento Social, a família de Idalina está em situação de extrema pobreza, porque possui renda per capita inferior a 85 reais. O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) calculava que 3.810,36 reais era o salário necessário para sustentar dois adultos e duas crianças na capital de São Paulo em julho deste ano. De acordo com levantamento da Geofusion, empresa de tecnologia e informações de mercado, a renda média familiar no entorno da casa de dona Idalina era de 2.181,09 reais no fim do ano passado, bem abaixo da média nacional (3.847,66 reais) e paulistana (6.797,32 reais). O último ano de dona Idalina passou longe das traficâncias na Praça dos Três Poderes. A narrativa do governo Temer, que propagandeia o controle da inflação, se esvanece antes de sua realidade. Tampouco se sustenta a narrativa petista, onde parte da ascensão dos mais pobres à classe média é atribuída ao Bolsa Família. A família de Idalina depende do programa de complementação da renda há 11 anos. Dos nove filhos, nenhum conseguiu terminar o ensino médio. Sem reajuste no Bolsa Família neste ano, Idalina não experimentou nenhum alívio nos preços de mercadorias e serviços, apesar da inflação mais baixa propagandeada pelo governo. “Aumentou o preço de tudo. Comprava frango a 5 reais, agora já é 7 reais. Só como carne vermelha graças à vizinha, que é quase minha mãe e me dá. Feijão a gente só compra quando está em promoção. Como sou mineira, não consigo comer nada sem alho, mas já é 2 reais uma cabeça de alho”, diz dona Idalina. Idalinda cria quase 50 galinhas em um galinheiro improvisado na beira da represa Billings, no Jardim Monte Verde, Zona Sul de São Paulo. “ FERNANDO CAVALCANTI Nascida na zona rural de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, Idalina se instalou com a família no Jardim Monte Verde quando a água da represa Billings era “limpinha”,há quase 30 anos. “Limpava as fraldas de pano dos meus filhos. Tinha peixes na água”, lembra. Separou-se do primeiro marido, casou de novo com outro companheiro e se separou novamente há cinco anos. Alguns filhos formaram família e saíram de casa, mas se desquitaram e voltaram a morar com a mãe. Dormem quatro pessoas em uma cama de casal, duas crianças e um adulto em um colchonete no chão — o resto da família se divide entre um beliche de duas camas e outras três camas de solteiro. Em uma parede, o retrato do filho caçula lembra que ele abandonou os estudos para trabalhar, na véspera de concluir o ensino médio. Três televisões pequenas estão espalhadas pela casa. A moradia improvisada tem geladeira, fogão, mas a concessionária de energia elétrica não oferece ponto de luz no domicílio.  Mesmo ao lado da represa Billings, e sem racionamento oficial, a Sabesp corta a água da região depois das 18h. Faltam armários. Alimentos não perecíveis são armazenados em um cestão de plástico. Roupas são guardadas em sacos de lixo. No entanto, as privações não impedem Idalina de sonhar com um futuro melhor para os filhos e netos.“Meu sonho é ter meus filhos trabalhando, para viverem a vida deles, terem as casas deles. Queria que não faltasse nada pros meus filhos”, diz. Ela fazia faxinas para complementar a renda até três anos atrás, mas, diagnosticada com osteoporose, parou de trabalhar depois que as dores nos joelhos ficaram insuportáveis. No posto de saúde mais próximo, a cinco km de sua casa, já não consegue remédio para tratamento da doença óssea há um ano. “O médico falou que só um medicamento servia, mas que não ia me receitar porque eu não tinha condição de comprar”, afirma. Passou a sofrer esquecimentos e tenta há meses agendar uma consulta para tratar o problema, sem sucesso. Toda semana a rua de Idalina recebe a visita de dois médicos da família, mantidos pelo programa Saúde da Família do governo federal. Mas não adianta. Enquanto não consegue cuidar da própria saúde, Idalina cuida do galinheiro que mantém. Não somem as lembranças dos pais, trabalhadores rurais, com quem aprendeu a criar galinhas na infância. “Quando eu estou lá com as galinhas, minha cabeça fica boa”, diz. Nada é para consumo. O galinheiro só aumenta. Idalina dá os pintinhos para os netos brincarem na porta de casa. Nove filhos e três netos foram criados por Idalina. Agora, cuida da neta mais nova, de um ano e dois meses, negligenciada por uma filha que sofre as intempéries do vício em drogas. O irmão da bebê, de seis anos, também é criado pela avó. O menino se distrai com um spinner, o brinquedo do momento, enquanto se alegra com os primeiros passos da neném. “Ela já deu três passinhos”, comemora. Ele e a irmã de oito anos, também criada por Idalina, vão ao colégio, enquanto o bisneto vai à creche. Também passou a faltar leite para as crianças nos últimos meses, porque a

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Auxílio Moradia x Bolsa Família

Brasil da série: “É impressionante o dano que uma pessoa munida só com a burrice pode causar” Auxílio Moradia: Para Juízes R$ 4.377,73 Para Senadores R$ 5.500,00 Para Deputados Federais R$ 4.253,00 Bolsa Família Bolsa Família Básico R$ 85,00 Bolsa Família Variável à Gestante R$ 39,00 Bolsa Família Variável de 0 a 15 Anos R$ 39,00 por criança ou adolescente. Fotos. Pela Ordem -“Mansão” de um vagabundo recebedor do Bolsa Família -“Modesta habitação do Senador Collor de Melo

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Viagem ao Brasil mais pobre, o que sempre vota no PT

Belágua é a cidade mais miserável do país e a de maior apoio eleitoral a Dilma António José do Nascimento, em casa. Foto: ALBANI RAMOS ANTONIO JIMÉNEZ BARCA – Belágua (Maranhão)  Um dia, faz um mês, deixaram de construir a casa de Antônio José do Nascimento em Belágua, no Estado do Maranhão. Os operários lhe explicaram que havia acabado o dinheiro do programa do Governo do Estado, e foram embora, com tudo pela metade: um esqueleto de casa sem serventia e um monte de tijolos que tostam sob o violento sol da uma da tarde destas latitudes quase equatoriais.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Alguns meses antes, esses mesmos operários haviam contado a Nascimento, de 37 anos, com dois filhos, de 14 e 15 anos, e a mulher doente, que o Estado ia substituir seu velho casebre de barro e teto de palmeira, aqui chamado de taipa, por uma casa de tijolos e cimento, como parte de um programa que incluía outras cinquenta famílias miseráveis da cidade. Mas agora, nesta manhã calorenta, Nascimento contempla sua quase casa com a melancolia de quem esteve a ponto de ganhar uma vez. Ele e a família subsistem à base da mandioca que coletam dia após dia nas terras comunais e que constitui sua comida principal e quase exclusiva, mesclada com água. E também do que compram com os 381 reais da subvenção mensal do Bolsa Família. Belágua (uma rua asfaltada, um conjunto de casas e casebres dispersos, estradas de terra, ninguém entre uma e quatro da tarde, jegues presos com cordas às portas das casas, porcos e galinhas pelo caminho) é a cidade mais pobre do Brasil. Com 7.000 habitantes, situada a 200 quilômetros da capital do Estado, São Luís, a localidade tem uma renda per capita média de 240 reais por mês, segundo o último censo, elaborado em 2010. A taxa de analfabetismo supera os 40%. Nascimento é um desses analfabetos. Sua mulher, derrubada na cama agora pela artrose, é outra. Belágua (lojas diminutas que vivem indiretamente do Bolsa Família, crianças que lavam mandioca no rio) ostenta outro recorde nacional: a maior porcentagem de apoio eleitoral para Dilma Rousseff na última eleição. Uma estranha unanimidade de 95%. Nascimento também se encaixa aí: votou no Partido dos Trabalhadores (PT) de Rousseff precisamente por causa da subvenção do Bolsa Família, instaurado pelo Governo Lula. “Graças a isso seguimos em frente. Agora sei que tiraram Dilma do poder. Contaram-me, porque minha televisão queimou. Não sei o que vai acontecer conosco”, diz. Nascimento se refere não ao futuro do país em abstrato, mas ao futuro desses 381 reais por mês, vitais para sua família. O Governo do presidente interino, Michel Temer, garantiu que vai respeitar certos programas sociais, incluindo esse, mas Nascimento, desconfiado e acostumado a que as coisas se saiam mal, olha de soslaio o projeto inacabado de sua casa inútil de tijolos sem data de término e seu rosto se enruga. A secretaria de Estado das Cidades e Desenvolvimento Urbano do Governo do Maranhão, do Partido Comunista do Brasil (PC do B), reconhece, por meio de um comunicado, certos problemas com os materiais, mas diz que já deu ordens para que as casas sejam concluídas e os prazos sejam cumpridos. Belágua é um exemplo fiel do Nordeste brasileiro, atrasado, pobre e resignado à sua sorte, que aceita a ajuda estatal um dia e com o mesmo fatalismo aceita no dia seguinte que a tirem. Também um expoente da desigualdade descomunal que aflige o país: enquanto nos bairros nobres de São Paulo há quem suba em um helicóptero para contornar o congestionamento da tarde de sexta-feira, no abafado casebre de Nascimento, sem torneiras, a água é armazenada em um pote de barro tampado com um paninho de crochê. Um casal com seu filho banha-se no rio em Belágua. Foto: ALBANI RAMOS Às vezes é até pior: seu vizinho Aderaldo Ferreira, de 36 anos –também em um casebre de barro e palha, também, na porta, com o absurdo monte de tijolos inúteis da casa prometida– nem sequer conta com os reais do Bolsa Família. Aderaldo tem três filhos pequenos, um deles já na escola, mas, por um enrosco burocrático, a ajuda lhe foi negada, sem que ele saiba bem porquê. Mostra a carteira de identidade ao jornalista, como se isso servisse para demonstrar algo. Também é analfabeto, também vive da mandioca que arranca todos os dias. Sua mulher, grávida, amamenta o filho pequeno sem dizer nem uma única palavra, muda e ausente, como se tanta desgraça junta não fosse com ela. Perto, em outro casebre, Joana dos Santos, de 35 anos, tece tiras de folhas de palmeiras para pagar uma dívida, contraída dois anos atrás para arcar com um exame médico que custou 280 reais para uma filha acometida de uma estranha paralisia. Acabará de pagar em dezembro. “Se Deus quiser”, acrescenta. Três de suas filhas se postam ao lado. Tem oito. E três filhos. Uma faz a lição de casa. Outra, de 12 anos, olha o jornalista com curiosidade. -Você vai à escola? – Sim – O que quer ser quando crescer? – O que Deus me der. – Você gosta da escola? – Mais quando dão merenda. Às quatro ou cinco da tarde, quando o sol deixa de torturar a rua, chegará o pai com a mandioca do dia: a velha mandioca que se transforma em farinha depois de triturada e tostada, como já faziam os índios antes de os portugueses chegarem. Do Bolsa Família, Joana recebe por mês 562 reais. “Não é só o dinheiro. É que o dono da venda faz fiado porque sabe que vai receber. Quando não tínhamos [o dinheiro], não era assim: não me venderam um peixe porque me faltavam 50 centavos. Por isso, sempre votarei em Dilma e Lula.” Aderaldo Ferreira e sua família, em sua choça. Foto: ALBANI RAMOS Na mesma Belágua há quem escape do círculo fechado da miséria, ignorância e mandioca. No outro extremo da localidade, Raimundo dos Santos, conhecido como Seu Cota (52 anos, 14 filhos, 14 netos) mantém

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Juiz popular e trabalhador faminto são manifestações de um Brasil arcaico

Num instante em que a política se eterniza como um conto do vigário em que o país não se cansa de cair, dois brasileiros nos ajudam a compreender melhor a vocação nacional para o fracasso: o eletricista faminto e o juiz popstar. Unidos no noticiário dos últimos dias, Mário Ferreira Lima e Sérgio Moro ilustram as duas margens do retrato nacional. Num extremo, a pobreza que furta para comer. Noutro, a Justiça que mastiga corruptos e corruptores. Ao fundo, as crises que expõem a amplitude da vista curta que impele o Brasil a fazer o pior o melhor que pode. Mário Lima, que estrela o vídeo acima, é um pobre de mostruário. Desempregado, sustenta um filho de 12 anos com os R$ 70 que recebe mensalmente do Bolsa Família. Entrou num mercado imaginando que o benefício fora depositado em sua conta. Ao ser informado pelo caixa de que não dispunha de saldo, tentou furtar uma peça de carne para dar de comer ao filho. No desespero, esqueceu que, no Brasil, a cadeia é o habitat natural dos ladrões de galinha. Sérgio Moro, que protagoniza o vídeo abaixo, é um ponto fora da curva na magistratura de primeiro grau. Titular de uma Vara periférica de Curitiba, tocava seus processos distraído quando esbarrou no petrolão. Ao receber da Polícia Federal e da Procuradoria a confirmação dos indícios de que a Petrobras era assaltada, mandou enjaular corruptos e corruptores. No entusiasmo, deu de ombros para a máxima segundo a qual, no Brasil, ladrão de colarinho branco não vai em cana. Virou uma celebridade instantânea.[ad name=”Retangulos – Direita”] Furtar alguns quilos de carne exige planejamento. O ladrão precisa escolher o mercado. Depois, tem de definir o método. Onde acondicionar a carne para a fuga? Como escapar das câmeras, se existirem? Uma vez diante da mercadoria, como evitar que atendentes, seguranças e os outros clientes percebam a supressão? Sem formação superior, mal alimentado e sem vocação para o crime, Mário Lima foi flagrado. Levaram-no para a delegacia. Assaltar a Petrobras é bem mais simples. É como no futebol. Tem toda uma estrutura anterior para preparar o gol. O presidente da República delega aos partidos a escalação do time. As legendas acomodam funcionários gananciosos no meio de campo. Esses funcionários armam todas as jogadas. E o cartel de empreiteiras entra em campo apenas para fazer o gol —ou cometer o crime. Ao final, divide-se a bolada. Os salteadores da Petrobras tiveram o azar de cair nas mãos do juiz Moro, um estudioso aplicado da italiana Operação Mãos Limpas. Ao comparecer ao lançamento de um livro em São Paulo, Moro foi tratado como um astro. Por quê? Simplesmente porque ousou injetar uma dose de anormalidade na vida normal do Brasil. O juiz cumpriu a lei. Espanto! Ele autorizou a devassa nos negócios dos criminosos limpinhos. Pasmo!! Ele manteve na carceragem da PF por cinco meses a nata do baronato das empreiteiras. Estupefação!!! O STF já livrou a turma da construção pesada do xilindró. Mas ainda não teve a coragem de devolver os suspeitos às ruas. Mandou-os para a prisão domiciliar. A plateia estava acostumada com aquele outro Brasil em que só iam para a cadeia pobres-diabos como o eletricista Mário Lima. Mas esse país já não é o mesmo. Noutros tempos, não convinha conversar com um policial a não ser em legítima defesa. Hoje, já se encontram agentes como os que prenderam o “ladrão” famélico. Os policiais tiveram paciência para ouvir o drama de Mário Lima. Uma policial pagou-lhe a fiança. Desautorizou a divulgação do seu nome. Cristã, ajuda o próximo sem interesse pela publicidade. Outros, policiais cotizaram-se para encher a geladeira do desempregado. Decidiram levar os lábios ao trombone por acreditar que a exposição do caso poderia render um emprego para Mário Lima. Sim, ele quer trabalhar. Retorne-se, por oportuno, ao início do texto: num instante em que a política se eterniza como um conto do vigário em que o país não se cansa de cair, o eletricista desesperado e o juiz desassombrado ajudam a entender o país. Enquanto esses dois personagens forem tratados como excentricidades, o Brasil não terá jeito. No dia em que Sérgio Moro deixar de ser uma exceção, a corrupção graúda talvez não coma todo o queijo. E o Estado talvez pare de distribuir para gente como Mário Lima apenas os buracos. Até lá, juiz popular e trabalhador faminto não serão senão manifestações de um Brasil arcaico. Josias de Souza

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Relatório do Banco Mundial afirma que Brasil praticamente conseguiu erradicar a extrema pobreza

“De 1990 a 2009, cerca de 60% dos brasileiros passaram a um nível de renda maior. Ao todo, 25 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema ou moderada”, afirma o documento. Em 20 anos, cerca de 60% dos brasileiros passaram a ter um nível de renda maior. “Quando eu era jovem, os pobres não tinham nenhuma oportunidade. Hoje, acho que o Brasil está menos desigual. Dois dos meus netos, por exemplo, conseguiram fazer faculdade e agora estão formados”, conta a empregada doméstica aposentada Maria de Souza Moreira, 80 anos, enquanto espera um ônibus na rodoviária de Brasília, a apenas 3km do palácio presidencial. A impressão é comprovada em números e análises em um novo relatório do Banco Mundial.  “Prosperidade Compartilhada e Erradicação da Pobreza na América Latina e Caribe” mostra que o Brasil conseguiu praticamente erradicar a extrema pobreza, e o fez mais rápido que os países vizinhos. Para completar, o país acabou puxando para cima o desempenho da região como um todo. “Entre 2001 e 2013, o percentual da população vivendo em extrema pobreza caiu de 10% para 4%”, informa o estudo. “De 1990 a 2009, cerca de 60% dos brasileiros passaram a um nível de renda maior. Ao todo, 25 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema ou moderada. Isso representa uma em cada duas pessoas que saíram da pobreza na América Latina e no Caribe durante o período.”[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Os autores lembram que, até 1999, os índices de extrema pobreza no país e no resto da região eram parecidos, em torno de 26%. Foi em 2012 que se observou uma redução maior no percentual brasileiro: 9,6%, ante os 12% regionais. Também chamam a atenção os indicadores de mobilidade social nesse período. Atualmente, os do Brasil ficam em terceiro lugar na região, atrás do Chile e da Costa Rica. O bom desempenho brasileiro se explica por três motivos. Primeiro, pelo crescimento econômico a partir de 2001, bem mais estável que o registrado nas duas décadas anteriores. Segundo, pelas políticas públicas com foco na erradicação da pobreza, como Bolsa Família e Brasil sem Miséria. Terceiro, pelo mercado de trabalho nacional: no período da pesquisa, aumentaram as taxas de emprego e o percentual de empregos formais (60% em 2012). O relatório ainda aponta a evolução do salário mínimo, que fortaleceu o poder de compra dos brasileiros. Saiba mais sobre o relatório clicando aqui.

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Metade dos gastos de Dilma vai para programas sociais

Com o impulso do reajuste do salário mínimo e da reformulação do Bolsa Família, os programas sociais de transferência de renda alcançaram peso inédito no gasto público e na economia do país. Recursos pagos diretamente a famílias representaram mais da metade –exatos 50,4%– das despesas do governo federal no ano passado, excluídos da conta os encargos da dívida pública. Dados recém-apurados da execução orçamentária mostram que o montante chegou a R$ 405,2 bilhões, distribuídos entre o regime geral de previdência, o amparo ao trabalhador e a assistência. Ex-miseráveis vivem de maneira precária, mas têm o que comer 13 mil famílias deixam lista da miséria após extra de R$ 2 Programas de transferência de renda se encontram em fase de ‘consolidação’ Famílias deixam pobreza extrema, mas ainda enfrentam dificuldades; leia histórias Análise: Boa conta, sem truques, inclui mais parâmetros além da renda [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Trata-se de 9,2% do Produto Interno Bruto, ou seja, de todos os valores recebidos pela população e pelas empresas instaladas no país. São proporções sem paralelo entre países emergentes, o que ajuda a explicar a também anômala carga de impostos brasileira, na casa de 35% da renda nacional. Na maior parte das economias latino-americanas e asiáticas, a arrecadação dos governos varia entre 20% e 25% do PIB –apenas recentemente, a Argentina chegou aos patamares do Brasil. A carga tributária dos dois sul-americanos é similar à média de 34 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que reúne, na sua maior parte, nações desenvolvidas. O aparato de seguridade social no Brasil é encabeçado pela previdência social urbana, cuja clientela cresce ano a ano em linha com o aumento da expectativa de vida da população. As despesas recordes do ano passado foram alimentadas pelo aumento do salário mínimo de 7,5% acima da inflação, o maior desde o ano eleitoral de 2006. Além das aposentadorias e pensões, os benefícios trabalhistas e assistenciais de caráter universal –direitos de todos os que preencherem os requisitos da legislação– também têm o piso salarial como referência. Estão nessa lista o seguro-desemprego, o abono salarial e a assistência obrigatória a idosos e deficientes de baixa renda, todos com aumento de transferências em 2012. O abono salarial cresce ainda com a formalização da mão de obra, uma vez que trabalhadores sem carteira não têm direito ao benefício. Na quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou taxa de desemprego de 5,5% em 2012, a menor da série histórica anual iniciada em 2003. Já no caso do seguro-desemprego, foi editado decreto destinado a conter o aumento de gastos, com a exigência de curso profissionalizante para os trabalhadores que ingressam pela terceira vez no programa. Bolsa Família A expansão mais aguda de despesas se dá no Bolsa Família, que paga benefícios não vinculados ao salário mínimo a uma clientela cadastrada pelo governo entre famílias pobres e miseráveis. Principal marca da administração petista, o programa passou, na gestão de Dilma Rousseff, pela maior reformulação desde que foi criado há quase uma década. Os benefícios foram reajustados e passaram a ser calculados para que as famílias com filhos possam ultrapassar a linha da miséria, fixada em R$ 70 mensais por pessoa. Em consequência, a despesa com a clientela de 13,9 milhões de famílias saltou de R$ 13,6 bilhões, no fim do governo Lula, para R$ 20,5 bilhões no ano passado. Editoria de Arte/Folhapress Gustavo Patu, de Brasília/Folha de S.Paulo Colaborou Gitânio Fortes, de São Paulo

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Merval, o Imortal

Bem, eis a Pataquada da Semana. Merval Pereira, jornalista, virou imortal. Vou em busca de explicações. Ele deve ter escrito algum livro importante que não notei. Ou alguns, penso numa perspectiva mais otimista. Ele é autor de “O lulismo no poder”, uma coletânea de seus artigos no Globo. Quer dizer, não bastasse o leitor ser castigado por Merval uma vez na forma de jornal, ele apanha de novo na forma de livro. Merval é, basicamente, contra tudo que Lula fez, do Bolsa Família às cotas universitárias. Se Lula inventar a cura do câncer, Merval vai atacar. Seu poder de persuasão pode ser facilmente medido nas urnas. Se eu fosse candidato, torceria para que Merval fosse contra mim. Ao lado de Ali Kamel, ele é um dos mais fiéis reprodutores do ideário da família Marinho. (Esperemos para ver se Kamel não vira futuramente um imortal.) Numa carta célebre a um editor, o barão da imprensa Joseph Pulitzer disse o seguinte: “Espero que você pense, pense, pense!!! (…) Que compreenda que todo editor depende do proprietário, é controlado pelo proprietário, deve veicular os desejos e as idéias do proprietário. (…) Sua função é pensar, o mais próximo possível, no que você pensa que eu penso.” Merval – e nem Kamel – teriam que ouvir isso. Lembro que, nas reuniões do Conselho Editorial da Globo das quais participei entre 2006 e 2008, os dois pareciam disputar entre si quem era campeão em pensar como a família Marinho pensa. Na cerimônia de posse de Merval, Machado de Assis, fundador da ABL, foi lembrado e de certa forma comparado ao novo imortal. Porque trabalhou como jornalista num certo período. Esperemos então que Merval produza suas Memórias Póstumas. Por: Paulo Nogueira

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Subsídios à economia custam oito vezes mais que o Bolsa-Família

“O Brasil optou novamente por acelerar o desenvolvimento, que aumenta a arrecadação e o emprego e assim, diminui a divida e possibilitará o equilíbrio fiscal que levará a corte significativo na taxa Selic… Enfim, ao desenvolvimento sustentado.” “A Bolsa Banqueiro aqui falada vai deixar os banqueiros menos preocupados com seus amados ganhos, permitindo o corte da SELIC… o último indicador macroeconômico fora de controle.” Já assistimos os Tupiniquins a esse filme. Quem vai pagar essa conta no final? Já é clássica a certeza de que não existe almoço grátis. O Editor Programas são chamados extra-oficialmente de Bolsa-Empresário, Bolsa-Banqueiro e Bolsa-Mutuário O governo federal mantém um sistema de “bolsas” que vai muito além do Bolsa-Família. O Bolsa-Empresário custará aos cofres públicos este ano cerca de R$ 30 bilhões. O Bolsa-Banqueiro, entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões. Há, ainda, o Bolsa-Mutuário, estimada pela Caixa Econômica Federal em R$ 32 bilhões. As três têm em comum o fato de funcionarem como um subsídio do Estado à economia. Somadas, equivalem a quase oito programas Bolsa-Família. Em um tema tão amplo, as opiniões de especialistas divergem bastante. A maioria, porém, é favorável ao Bolsa-Mutuário, oficialmente chamado de Minha Casa, Minha Vida. Bolsa-Empresário é uma definição do ex-diretor do Banco Central (BC) Alexandre Schwartsman. Trata-se do dinheiro que o Tesouro Nacional vem emprestando para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiar empresas. Desde o estouro da crise global, em 2008, o governo decidiu ampliar o orçamento da instituição.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Ao final de junho, segundo dados do BC, os créditos do Tesouro ao BNDES somavam R$ 272 bilhões. O subsídio (quase R$ 18 bilhões em 2011) é calculado com base na diferença entre a taxa de juros que o banco cobra em seus empréstimos (TJLP, hoje em 6% ano) e a que o Tesouro paga para se financiar (Selic, atualmente em 12,5%). Schwartsman inclui ainda o subsídio implícito nas transferências do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ao BNDES, algo próximo de R$ 12 bilhões. “Ou seja, o Bolsa-Empresário equivale a pouco menos de dois Bolsa-Família”, afirmou. O responsável pelo termo Bolsa-Banqueiro é o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP Simão Silber. Ele refere-se ao custo do governo para continuar acumulando reservas internacionais (hoje em US$ 352,5 bilhões). Para Silber, o grande beneficiado, hoje, da política do governo de continuar comprando dólares é o sistema financeiro, uma vez que o montante atual é mais do que suficiente para proteger o País de crises. Ele e outros economistas lembram que, em 2008, quando explodiu a crise global, o Brasil tinha menos de US$ 210 bilhões em reservas, dinheiro que se mostrou suficiente para atravessar a grave turbulência. Nos cálculos do economista e consultor Amir Khair, ex-secretário de Finanças do município de São Paulo, o País gasta hoje entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões por ano para manter e acumular as reservas. O custo resulta da diferença entre os juros com que o governo remunera os títulos públicos nacionais (Selic) e a rentabilidade das reservas, aplicadas principalmente em papéis emitidos pelo Tesouro dos EUA. Isso só ocorre porque o governo brasileiro não compra os dólares das reservas com superávit fiscal. Ele precisa endividar-se para fazê-lo. “A gente não precisa desse nível de reservas”, disse Khair. Para ele, a política de compra de dólares pelo governo traz um efeito adicional: valoriza a moeda americana. “Na medida em que o País fica mais seguro aos olhos do investidor internacional, mais dinheiro atrai de fora, o que reforça a tendência de valorização do real.” Apesar da piora da crise, o dólar ainda acumula perda de quase 4% ante o real. Sexta-feira, fechou a R$ 1,605. Khair também é crítico da política do governo que transfere recursos do Tesouro para companhias privadas por meio do BNDES. “As empresas têm de saber se virar dentro de seu mercado”, afirmou. “Com esse dinheiro, eu reforçaria os programas sociais. Prefiro mil vezes um Bolsa-Família, que dá mais retorno para a sociedade.” Para Marcelo Moura, do Insper, a ação cada vez maior do BNDES (neste ano, a previsão é de desembolsos de R$ 145 bilhões) “distorce o mercado”. Leandro Modé/O Estado de São Paulo

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A canoa das alianças de Dona Dilma

Em meio a “Jâniana” vassourada promovida por D. Dilma, a direção nacional do PT resolveu ficar de olho, e grande, nas alianças para as eleições municipais do ano que vem. Petistas avermelhados de vergonha procuram avaliar a conveniência de coligações não só com partidos de oposição ao governo, mas de aliados. O PR serve de referência para essa tomada de atitude. Um dirigente petista, sempre em off, revela a necessidade de “examinar” possíveis “circunstâncias negativas” nas alianças locais com partidos que integram a tal abstrata base de sustentação do governo, na realidade um desavergonhado balcão de negociatas. O Editor Foi a solidez da aliança da presidente Dilma Rousseff com o PMDB que derrubou Wagner Rossi da Agricultura e não o inverso. A carta do ex-ministro é cristalina. Vai no sentido oposto ao discurso com que o ex-ministro Alfredo Nascimento reassumiu sua cadeira no Senado. Enquanto o senador pelo PR acusou a presidente de abandoná-lo, Rossi isenta Dilma, a quem chama de “querida presidente”, de qualquer responsabilidade sobre sua saída, e faz votos por seu sucesso. Ao atribuir o desgaste aos interesses prejudicados pelas perspectivas eleitorais do PMDB em São Paulo o ex-ministro dá a exata medida da importância que o partido confere à aliança federal. A onda de denúncias contra si teria partido de quem não mais poderá “colocar o PMDB a reboque de seus desígnios” nas eleições paulistas. Mais do que as digitais insinuadas por Rossi, o que importa em sua declaração é a disposição do PMDB em manter uma aliança a salvo do assédio oposicionista. Desde que Orestes Quércia (1938-2010) candidatou-se pela última vez ao governo paulista em 1998, o PMDB tem sido sigla auxiliar dos tucanos no Estado como seu principal fornecedor de vices em eleições majoritárias. Com a morte de Quércia e a assunção de Temer ao comando do PMDB local, o partido resolveu ensaiar carreira solo com a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo. Leiloada por petistas, Dilma é paparicada no Bandeirantes Como se trata de uma candidatura pemedebista, não poderia deixar de ter duas âncoras – o PT, com quem o partido já fez acordo de apoio mútuo no segundo turno, e a banda Geraldo Alckmin do PSDB, a quem Chalita deve sua ascensão na política paulista e com quem mantém relações estreitas.[ad#Retangulo – Anuncios – Duplo] Se Chalita enfrentar o ex-governador José Serra em 2012 na capital paulistana levará Alckmin a ter um amigo e um correligionário em campos opostos – situação ainda mais confortável do que a de Serra em 2008 quando, na condição de governador, assistiu Gilberto Kassab e Alckmin se confrontarem pela prefeitura paulistana. A desenvoltura do PMDB no Estado não está restrita à capital. Em entrevista a Vandson Lima, do Valor, o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Barros Munhoz (PSDB), apostou que o PMDB é a legenda que mais vai crescer no Estado em 2012. No partido que rebocou o PMDB paulista até aqui quem menos tem a ganhar com a desenvoltura dos aliados de Temer é Serra – o que não é suficiente para assegurar veracidade às insinuações feitas por Rossi. Ao sugerir que Serra é o pauteiro de sua demissão, o ex-ministro, além de ignorar seus próprios malfeitos, talvez tenha superdimensionado a capacidade de o ex-governador encontrar ressonância depois de uma campanha em que destroçou seu capital político. Tão ou mais eloquente que a sinuca eleitoral montada pelo PMDB paulista para os não alckmistas do PSDB é o feitio que vem adquirindo a gestão do governador em São Paulo. Poucos aliados da presidente no PT têm aderido de maneira tão incondicional aos programas federais quanto Alckmin. A acolhida que deu ontem a Dilma, com direito a abraço do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à entrada do Palácio dos Bandeirantes, foi apenas a parte mais visível dessa aproximação. Já no primeiro mês de governo Alckmin anunciou sua adesão às metas para acabar com a miséria. Depois promoveu a unificação dos programas sociais do Estado, tal como ocorreu no governo petista. Os programas de transferência de renda que haviam sido desidratados na gestão José Serra ganharam nova musculatura. Na educação, além de voltar atrás na política de bonificação dos professores por meta de desempenho, severamente criticada pelos petistas do setor, Alckmin também criou um programa de bolsa para universitários inspirado no Prouni. De uma só tacada aproximou-se de Dilma e afastou-se de Serra. A contrapartida da bolsa é a participação do estudante em atividades de fim de semana nas escolas públicas. O programa que as mantinha abertas sete dias por semana havia sido descontinuado por seu antecessor. Na habitação, Alckmin também enviou um projeto à Assembleia Legislativa que concede benefícios fiscais às construtoras contratadas pela estatal paulista do setor, a CDHU, a exemplo do que já faz o Minha Casa Minha Vida. No plano plurianual que acaba de apresentar, Alckmin resolveu incorporar o Índice de Responsabilidade Social. Criado pela Assembleia há 11 anos para mensurar os avanços alcançados pelo poder público na promoção do bem estar social, o índice atravessou dois governos de Alckmin sem que a gestão estadual lhe prestasse atenção. Foi a rota de aproximação com Dilma que levou o governador a resgatá-lo. O PPA também mantém a agressiva política de investimentos anunciada por Alckmin no início de seu governo. Justiça lhe seja feita, foi Serra quem ousou na expansão dos investimentos com o acordo, selado com Lula, que permitiu ampliar a margem de endividamento do Estado. Alckmin vai se beneficiar do acordo feito por seu antecessor para continuar a expandir o transporte metropolitano, marca do governo Serra, e aderir a bandeiras dilmistas, como o investimento no estádio do Corinthians e o trem bala. A acolhida calorosa que Dilma teve no Bandeirantes somada ao enfático apoio do PSD de Kassab contrasta com as manifestações petistas da semana. O ministro Paulo Bernardo, que tem 100% de seu orçamento familiar na folha de pagamentos do primeiro escalão federal, disse ao repórter Fernando Rodrigues (”Folha de São Paulo”) que a presidente, “se estiver bem”,

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O direito à renda como afirmação da justiça distributiva

Sofri e ainda sofro discriminação pela cor da minha pele, por ter vindo da periferia, por usar cabelo rastafári e contas de candomblé, por ser mulher e nordestina. Mas foi aos nove anos de idade que senti a dor que a falta de uma renda digna pode causar a alguém. Sou neta de escravo, filha de motorneiro de bonde e lavadeira. Como meus pais não tinham dinheiro para comprar um determinado material escolar, meu professor de artes disse que o lugar de uma negra como eu era na cozinha de uma branca fazendo feijoada e não na escola. Esse episódio marcou a minha vida para sempre. Tornei-me procuradora e depois juíza muito por conta dele. Pensando nas crianças, nas mães, nos pais de família que não têm renda suficiente para suprir suas necessidades básicas, dediquei minha vida à democratização do acesso à Justiça, lutando para que os periféricos pudessem ter seus direitos respeitados. Na última década, devido à fomentação de políticas sociais, avançamos muito, contudo, a falta de uma renda digna no âmbito de muitas famílias ainda intimida os mais carentes a acionarem a Justiça. Muitos, por exemplo, têm vergonha de entrar num tribunal por não terem educação ou roupas adequadas. Na ânsia de encontrar saídas para superar as mazelas decorrentes dos modelos escravocratas e de cunho elitista, uni minha luta a de outra pessoa que há décadas vem batalhando pela promoção da cidadania – o senador Eduardo Matarazzo Suplicy. Em carta datada de 1º de maio de 2011, peço à presidenta Dilma Rousseff a aplicação imediata da Lei da Renda Básica de Cidadania. O apelo feito diretamente à presidenta se dá pelo fato de que sete anos depois de sancionada, a Lei 10.835/2004 ainda não foi concretizada. A Bíblia, o Alcorão, a Mitologia dos Orixás e tantas outras bibliografias religiosas ou não, ensinam-nos a importância da partilha para a edificação de uma nação justa e próspera. A única forma de erradicar a miséria e a pobreza é dividir parte das riquezas produzidas por um país entre seus filhos-cidadãos.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Tanto no âmbito político-econômico quanto no social-cultural temos as condições necessárias para cruzar a ponte que nos leva de um programa social à institucionalização do direito à renda. O bolsa família vem combatendo a fome, no entanto, há pessoas que, em função de dificuldades diversas, ainda não têm conseguido receber o benefício. A Lei 10.835 eliminaria qualquer burocracia, vergonha e dependência, além de aprofundar e ampliar o cenário das transformações sociais. A travessia dessa ponte é extremamente possível, pois a lei diz que a Renda Básica será instituída por etapas, começando pelos mais necessitados até que se torne universal e incondicional. Ela é capaz de unir um país tanto no desejo de erradicar a pobreza quanto no direito de receber uma renda. Ao promover a autoconfiança de um povo que por mais de quinhentos anos viveu excluído do seu próprio país e integrar um território continental como o nosso, resgatando dívidas culturais e históricas, a Renda Básica de Cidadania tem o poder de evitar que crianças e adultos sintam ou continuem a sentir a dor que eu sofri pela falta de uma renda digna. Não há melhor maneira de promover os ideais de justiça, igualdade e liberdade e a semeadura da cidadania do que permitir que o povo, sem qualquer distinção, tenha direito à renda. ¹ Luislinda Valois, 69, é juíza do TJ-BA. Considerada a primeira magistrada negra da história do Brasil, proferiu a primeira sentença contra o racismo e criou diversos projetos de inclusão a partir do acesso à Justiça. blog do Noblat

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