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Temer do Brasil catapulta Macri da Argentina

Declínio de imagem do Brasil no exterior ajuda Macri a projetar Argentina Foto: Washington Costa / Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços Longa crise política interna tem afetado protagonismo do Brasil; nos últimos meses, Macri recebeu líderes internacionais importantes, como Angela Merkel, da Alemanha, Sergio Mattarella, da Itália, enquanto o Brasil ficou de fora da lista dos dois.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Com a crise política que atinge o Brasil e mina a credibilidade internacional do governo, uma oportunidade de ouro surgiu para a vizinha Argentina, que tem se tornado a protagonista da América do Sul. O presidente Mauricio Macri, no cargo desde dezembro de 2015, tem despertado a curiosidade e a empatia de chefes de Estado e de Governo, como a chanceler alemã, Angela Merkel, o chinês Xi Jinping e até o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama – que o chamou de “líder” da região. Nos últimos meses, Macri recebeu líderes internacionais importantes, como a própria Merkel e o presidente da Itália, Sergio Mattarella. Já o Brasil ficou de fora da lista dos dois. Macri fez viagens ao exterior, como Washington, para se reunir com o presidente norte-americano, Donald Trump, e Pequim, além de ter sido altamente requisitado em reuniões bilaterais durante a cúpula do G20. Até o ano que vem, a Argentina terá dois eventos mundiais de peso: sediará a conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em dezembro, e o próximo G20, em 2018. Os dois encontros são inéditos na América do Sul. Mas essa nova postura do governo argentino pode tirar a tradicional liderança do Brasil? Para o coordenador do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel, “a longo prazo, não”. “Não se pode comparar os dois países, porém em função da crise política, em curto prazo, o presidente Macri tem uma visibilidade e uma presença internacional maior porque a situação da Argentina é, digamos, menos pior do que no Brasil”, disse Stuenkel à ANSA. O especialista explicou que, apesar dos problemas econômicos e também políticos da nação vizinha, “Macri representa uma narrativa muito clara sobre como a Argentina pretende superar as dificuldades”, coisa que não existe no Brasil. “O presidente Michel Temer até tentou construir essa narrativa, mas não funcionou porque este governo dificilmente pode ser visto como um governo que pode fazer o país sair da situação em que se encontra. Alguns passos corretos podem ser dados, mas há a percepção de que o Brasil não tem um caminho para sair da crise”, ressalta. Já para Reinaldo Dias, especialista em Ciência Política da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Campinas, o governo brasileiro atual tem um problema de “legitimidade”. “O grande problema do Brasil é a legitimidade. É uma diferença bastante grande, já que Macri venceu eleições e Temer não. Mas, não é só isso que dá a legitimidade a um governo, que pode ser conseguida através de boas ações. Mas, do ponto de vista global, Temer não tem isso”, afirmou Dias à ANSA. Segundo o especialista do Mackenzie, esse processo de perda de liderança do Brasil já vem desde o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, que “não adotou uma postura de líder regional na América Latina”, e piorou com o atual mandatário. “Não existe vácuo na política porque sempre esse lugar será ocupado por algum ator”, destaca. Para Dias, os líderes ao redor mundo “aguardam” uma postura do Brasil como líder, já que é a nação que faz fronteira com praticamente todos os países sul-americanos. No entanto, a ausência já se fez presente em acordos recentes importantes para todo o continente, como ocorreu no pacto de paz firmado entre o governo de Juan Manuel Santos e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e que foi finalizado no ano passado. Outro ponto em que o Brasil não tem postura ativa, conforme Dias, é a crise na Venezuela, que já causa um fluxo migratório maior para o norte do país. “Isso pode custar muito caro no futuro porque já estamos com problemas nas fronteiras que podem se agravar se não tiver uma liderança ativa”, acrescenta. “O pragmatismo de Macri é bastante significativo. É um perfil de líder, que busca de fato a liderança. Por exemplo, ele participou da posse do novo presidente do Equador, Lenín Moreno, que tem ideologia oposta a ele; ele se ofereceu para intermediar o problema que envolve a construção do muro entre Estados Unidos e México. Ele é proativo”, destaca ainda Dias. Já Stuenkel lembrou outro ponto importante da governança do presidente argentino, que é o de que líderes de outros países o veem como uma liderança de longo prazo. “A Argentina é um pouco bola da vez. É um governo relativamente recente e tem uma expectativa de poder. Ou seja, Temer chegou no poder quando o Macri já estava lá e vai sair antes do Macri deixar o cargo”, destacou Stuenkel à ANSA. No entanto, na contramão dessa liderança, o governo brasileiro assumirá a Presidência rotativa do Mercosul nesta sexta-feira (21/07), justamente após Macri liderar o bloco. Tatiana Girardi/ANSA/OperaMundi

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Alejandra Pizarnik – Versos na tarde – Poesia – 02/07/2017

La última inocencia – extrato Alejandra Pizarnik ¹ esta lúgubre manía de vivir esta recôndita humorada de vivir te arrasta alejandra no lo nieques.   hoy te miraste en el espejo y te fue triste estabas sola la luz rugía en el aire cantaba pero tu amado no volvió   enviarás mensajes sonreás tremolarás tus manos así volverá tu amado tan amado   oyes la desmente sirena que lo robô el barco con barbas de espuma donde murieron las risas recuerdas el último abrazo oh nada de angustias rie en el pañuelo llora a carcajadas pero cierra las puertas de tu rostro para que no digam luego que aquella mujer enamorada fuiste tú   te remuerden los dias te culpan las noches te duele la vida tanto tanto desesperada adónde vas? desesperada nada mas!   ¹ Flora Alejandra Pizarnik * Buenos Aires, Argentina – 29 de Abril de 1936 + Buenos Aires, Argentina – 25 de Setembro de 1972 Ps. não ousei traduzir. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Macri e Bachelet aproximam o Mercosul e a Aliança do Pacífico em resposta a Trump

Os dois presidentes promovem uma grande reunião para coordenar os dois principais grupos latino-americano. Bachelet e Macri em Colina, no Chile, durante a comemoração do 200º aniversário da batalha de Chacabuco. PRESIDÊNCIA A chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos está provocando um grande movimento de fundo em toda a América Latina. E Mauricio Macri, presidente da Argentina, parece estar no centro desse impulso. Na semana passada, viajou para Brasília e afirmou, com Michel Temer a seu lado, que os dois gigantes sul-americanos dariam um “impulso histórico” ao Mercosul.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Na próxima semana irá à Espanha para, entre outras coisas, acelerar o acordo UE-Mercosul que está parado há 15 anos. Mariano Rajoy – presidente do Governo espanhol – está muito disposto a apoiá-lo nessa tarefa. E na noite de domingo, para finalizar a jogada, Macri foi a Colina, perto de Santiago do Chile, para se encontrar com Michelle Bachelet e lançar a aproximação entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico, o outro grande bloco econômico da América Latina liderado por México, Colômbia, Peru e Chile. Enquanto os Kirchner estavam à frente da Argentina e o Partido dos Trabalhadores governava o Brasil, Mercosul e Aliança do Pacífico se olhavam com cautela. O segundo grupo era a estrela em ascensão da ortodoxia e do livre comércio contra o Mercosul mais protecionista. Mas a chegada de Macri, e mais recentemente de Temer, mudou as coisas. O argentino já assistiu como observador a última cúpula, precisamente no Chile, onde foi a grande estrela com o peruano Pedro Pablo Kuczynski, que ainda não tinha assumido, e anunciou sua intenção de fortalecer os laços. A chegada de Trump acelerou os tempos e todos os países da América Latina, que em boa medida vivem da exportação de matérias-primas, buscam alternativas caso Trump cumpra suas promessas e comece a fechar suas fronteiras aos produtos de outros territórios. Macri e Bachelet, que neste momento presidem as duas alianças centrais da América Latina, organizaram para abril uma reunião em Buenos Aires de chanceleres do Mercosul e da Aliança do Pacífico que será um marco e poderia abrir caminho para uma fusão no futuro. Ainda persistem muitas dificuldades pelas diferentes políticas econômicas – o Chile tem acordos de livre comércio com 180 países do mundo, algo semelhante acontece no Peru e na Colômbia, Argentina e Brasil são duas economias muito fechadas e os argentinos viajam a Santiago para comprar roupas mais baratas em redes internacionais, como H&M, que nunca se instalou em Buenos Aires – mas a vontade política de aproximação é muito evidente e a mudança ideológica na Argentina e no Brasil também. Ninguém quer enfrentar diretamente Trump e, na verdade, Macri busca formalmente um bom relacionamento. Esta semana manteve conversas com o vice-presidente Michael Pence. Mas a preocupação é evidente. A América Latina está em pleno giro para a abertura e Trump vai na direção oposta. A declaração conjunta deixa clara a rejeição às políticas dos EUA: “As tendências protecionistas observadas internacionalmente contradizem o esforço para alcançar um crescimento sustentável e o desenvolvimento inclusivo”. O Mercosul acaba de eliminar a única oposição real a essa aproximação com a mais liberal Aliança do Pacífico: a Venezuela de Nicolás Maduro foi suspensa do grupo com o apoio de Temer e Macri, embora o maior promotor de sua expulsão tenha sido o conservador paraguaio Horacio Cartes. Macri e Bachelet se encontraram no Chile por uma questão especialmente simbólica: a comemoração dos 200 anos da travessia dos Andes de General San Martín, que primeiro liderou a liberação de Argentina e depois do Chile com uma ousada operação militar através de uma das cordilheiras mais altas do planeta. Em Colina, onde aconteceu a batalha chave de Chacabuco, Bachelet lançou uma mensagem de unidade contra Trump: “Nos dias em que o planeta vive segregação, xenofobia e protecionismo, Chile e Argentina iniciam um caminho de colaboração”, concluiu. Argentina e Chile são dois vizinhos com relações às vezes complicadas – tiveram disputas no passado pelos territórios na Patagônia – e com dois modelos econômicos quase opostos: o chileno, herdeiro de Pinochet, é muito liberal, com educação universitária pública paga – Bachelet está tendo dificuldades para cumprir sua promessa de aumentar a gratuidade –, aposentadorias privadas e sindicatos fracos. A Argentina tem ensino superior gratuito e aposentadorias públicas e sindicatos onipresentes. O Chile teve uma inflação de 3% em 2016 e a Argentina, de 40%. Mas ambos estão se aproximando gradualmente – o Chile aumenta lentamente o peso do Estado enquanto a Argentina reduz e inicia uma lenta abertura – e deram início a uma nova fase de aproximação. A chegada de Trump está fazendo com que o resto do mundo se una para combater o protecionismo. ElPais

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Economia: A inflação não dá folga no neoliberalismo de Macri

Ah, a inflação. Os populistas não se preocupam com a inflação. Gastam mais, muito mais do que arrecadam. Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil  Como decorrência, uma das sequelas é a inflação que pune exatamente os que vivem de salário. Já os neoliberais cuidam muito desse aspecto. Têm responsabilidade fiscal e não admitem explosões inflacionárias. Isto posto vamos à realidade argentina do governo conservador de direita de Maurício Macri. Apesar da recessão e da queda de vendas, os aumentos se mantêm firmes.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Dentro do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), o novo cálculo da “inflação núcleo”, que exclui os serviços públicos e outros itens, se acelerou no mês passado. Escalou 3 por cento, contra 2,7 de maio. O Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos) informou que os preços aumentaram 0,3 pontos percentuais em junho em relação ao mês anterior. Os dados difundidos continuam sem dar conta do incremento acumulado no primeiro semestre, tampouco a variação interanual. Os índices de preços ao consumidor publicados por órgãos provinciais, sindicatos e consultorias privadas exibem aumentos da ordem de 25 por cento entre janeiro e junho, alcançando só no primeiro semestre a meta autoimposta pelo ministro da Fazenda e Finanças, Alfonso Prat-Gay, para o ano todo. Os distintos porta-vozes do governo e os economistas das consultorias privadas preveem uma desaceleração inflacionária no segundo semestre, que, no entanto, terá entre seus principais fatores a queda do poder aquisitivo e a contração das vendas. Os sinais de diminuição da alta dos preços ainda não aparecem. Pelo contrário, o “IPC-Núcleo” registrou em junho 3 por cento, mais que os 2,7 por cento registrado em maio. Esse novo indicador do Indec exclui os preços da energia e os alimentos por sua elevada volatilidade de curto prazo para tentar mostrar uma tendência sobre como evolui a inflação. É um truque elaborado pelo Indec que recriou o conceito de “inflación núcleo” para tentar mostrar uma tendência descendente no custo de vida. Para sua “core inflation”, como se denomina em inglês, o Indec deixa de fora a eletricidade, a água, o gás, os serviços de saúde, a educação, o transporte, os cigarros, as frutas, as verduras e as viagens, entre outros itens em que se observou uma marcante aceleração de preços ao longo deste ano. O informe do Indec mostrou aumentos significativos em itens centrais do orçamento familiar durante junho: 11,1 por cento em verduras, que já haviam galgado 20,1 por cento no mês anterior, e 10,9 por cento em azeites, ao lado de fortes aumentos também nos itens Vivenda e Serviços Básicos e Atenção médica, de 7,1 e 7,0 por cento, respectivamente. Também tiveram altas acima da média os preços dos medicamentos (5,1) e dos produtos panificados (3,8), o mesmo ocorrendo com o item Alimentos e Bebidas, com uma alta de 3,2 por cento, dentro do qual a carne registrou altas entre 0,4 e 4,8 por cento, segundo os cortes. Em Frutas e Verduras, a batata subiu 17,2 por cento; o tomate, 13,0; a cebola, 11,5 e a abóbora, 9,9, enquanto a banana subiu 9,5. O item Educação aumentou 2,2 por cento. Todos os valores resultam da medição na área metropolitana de Buenos Aires, já que outra das novidades do novo IPC é que o Indec abandonou a tomada de preços no restante do território nacional, o que sinaliza que está tentando esconder que o ritmo da inflação nessas áreas é ainda mais rápido. Os bens que representam 61,5 por cento da cesta, mostraram uma variação de de 2,2 por cento em junho, enquanto os serviços, que explicam os restantes 38,5 por cento, tiveram uma variação de 4,5 por cento com relação a maio. Diante dos fatos, Alfonso Prat Gay, reavaliou a meta inflacionária que ele mesmo previu para 2016 de até 25 por cento: “Se não der entre dezembro e dezembro, a alcançaremos entre março e março”. E eles acham que o povo argentino não está sentindo na própria pele, acompanhando a situação e cotejando as promessas eleitorais. Por Max Altman

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Sindicatos argentinos mostram seu poder com grande manifestação contra Macri

Se existe algo que diferencia a Argentina do resto da América Latina e até mesmo da Europa, é a enorme força de seus sindicatos. Marcha das cinco centrais sindicais da Argentina. Ricardo Ceppi Líderes eternos, polêmicos, com passados obscuros, há 30 anos chefiando suas centrais, como Hugo Moyano, líder dos caminhoneiros. São tão fortes que todos os governos se aproximam deles. É o que fez Mauricio Macri assim que chegou ao poder. Mas as boas relações iniciais de Macri com os sindicalistas acabaram. Os sindicatos peronistas, historicamente divididos (só a CGT, o mais importante, tem três versões, a CGT Azopardo, CGT Oficial, CGT Azul e Branca) se uniram temporariamente para realizar uma exibição de força em uma grande manifestação contra Macri com milhares de trabalhadores nas ruas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] MAIS INFORMAÇÕES Macri sofre a primeira derrota no Parlamento Argentina paga os 9,3 bilhões de dólares que devia aos fundos abutre Macri anuncia medidas sociais para conter protestos contra o ajuste ‘Tarifaço’ faz aprovação de Mauricio Macri cair mais de 10 pontos desde dezembro Obama admite que EUA “demoraram a defender os direitos humanos” na América Latina Protestam pelas demissões de funcionários públicos – o Executivo admite 20.000 – pela destruição dos empregos que começa a ocorrer no setor privado – o Governo nega – e os aumentos de tarifas em transporte, luz, gás, e a inflação disparada. Mas são movidos principalmente por um motivo político: lembrar Macri do que ele já sabia; que governar a Argentina não é nada fácil e eles estão ali para contestar o poder. Buenos Aires ficou completamente parada com sindicalistas vindos de todas as províncias. A batalha de poder entre o Governo e os sindicatos peronistas acaba de começar. Não quiseram fazer uma greve, que poderia fracassar porque existe muita divisão sindical enquanto Macri ainda conserva muito apoio popular. Mas os sindicatos e a oposição perceberam que o humor da sociedade começa a mudar, e por isso prepararam essa exibição de força que, mais do que uma declaração de guerra, é um aviso. Ao mesmo tempo em que uma lei antidemissões era aprovada no Senado, que irá proibi-las durante seis meses – se também for aprovada na Câmara dos Deputados Macri será obrigado a vetá-la – os sindicatos mobilizavam as ruas. Tudo coordenado. E também pensado para tomar o controle da oposição a Macri e não deixar todo esse espaço a Cristina Kirchner, que estava começando a lutar para ser a líder dos protestos. “Nunca existiu uma lua-de-mel do sindicalismo com Macri. Existiam expectativas”, afirmou Hugo Yasky, rodeado de apoiadores, também eterno líder da CTA dos trabalhadores. “Agora pedimos a ele que aprove a lei antidemissões. Macri aprovou medidas para todos, menos aos trabalhadores. Espero que caiam os tampões que o presidente tem nos ouvidos. Macri falou sobre respeitar a independência dos poderes, se não cumprir com a palavra e vetar a lei respaldada pelas cinco centrais sindicais vamos dobrar a aposta”, disse. O líder da outra CTA, Pablo Micheli, inimigo eterno de Yasky, estava no mesmo lugar com a mesma mensagem: “Essa união é para defender os trabalhadores. É preciso que nos juntemos para impedir esse enorme ajuste que está aumentando as tarifas, diminuindo os salários. O presidente diz que a inflação irá baixar, mas na realidade a economia vai de mal a pior. Isso não é um problema de fé. Se Macri vetar a lei antidemissões vamos direto a uma paralisação nacional”, ameaçou. Macri deve lidar com um fardo muito importante. Nenhum presidente não peronista conseguiu terminar seu mandato desde o retorno da democracia em 1983. O radical Raúl Alfonsín sofreu 13 greves gerais e acabou adiantando as eleições e dando lugar ao peronista Carlos Menem em 1989. Fernando de la Rúa também sofreu a oposição dos sindicatos peronistas e acabou saindo de helicóptero da Casa Rosada em dezembro de 2001. Quando um peronista está no poder quase não ocorrem greves. Macri está convencido de que ele é diferente. E há pouco tempo parecia intocável. Um mês atrás recebeu Barack Obama, conseguiu a aprovação do pacto dos fundos abutres no Congresso, e o mundo o aplaudia. Agora o sindicalismo, uma de suas principais inquietações, tenta enfraquecê-lo. A maioria dos sindicalistas admite que Macri não estava no céu há um mês e não está no inferno agora. Se for observada de certa distância, a situação argentina oscila muito, mas com linha de continuidade: se Macri conseguir resolver os problemas econômicos, parar a inflação, atrair investimentos e criar empregos, os sindicatos se submeterão ao seu poder. Se os problemas econômicos persistirem, agravados pela situação do Brasil, os sindicalistas atacarão cada vez mais forte. É a lógica que sempre moveu o poder na Argentina, onde ninguém sabe quanto os governos podem durar. Tudo na marcha se refere a essa longa tradição de luta nas ruas. Do clássico cheiro de choripán (tradicional sanduíche argentino) e os bumbos de toda concentração peronista, até o cenário, muito planejado: de um lado, as letras da CGT, o grande sindicato, com a foto do general Perón. Do outro, as letras da CTA, outro dos grandes – também dividido – e a foto de Evita Perón. 70 anos depois da primeira vitória eleitoral do peronismo esse movimento, agora fora do poder, continua reivindicando sua força. Mas está dividido como sempre, e esse foi o ponto fundamental para a vitória de Macri e para que consiga governar. As duríssimas guerras internas do peronismo têm uma longa história de violência. O líder da CGT em 1973, José Ignacio Rucci, foi assassinado em plena rua por membros dos Montoneros, uma organização político-militar argentina e guerrilha urbana. Agora as divisões não chegam a tanto, mas persistem, por isso é tão significativo que todos tenham se unido contra Macri. Enquanto os sindicalistas exibiam seu poder e Moyano avisava Macri – “o tempo está acabando”, disse mostrando sua impaciência – o presidente respondeu em um ato em Tucumán, no norte do país. Primeiro lhes mostrou respeito: “todo mundo tem o direito de se expressar”.

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Literatura desaparecida: 40 anos do Golpe Militar na Argentina

“Escribe mientras sea posible. Escribe cuando sea imposible. Ama el silencio.” — Miguel Ángel Bustos, desaparecido em 1976. Cronica de Ricardo Domeneck ¹ Há 40 anos, ocorria o Golpe Militar na Argentina, que deixaria ainda mais mortos e desaparecidos pelo continente latino-americano. No Brasil, estávamos no décimo-segundo ano da ditadura militar – aquela que alguns no país hoje ainda insistem em tratar com nostalgia. Aquelas imagens das Mães da Praça de Maio permanecem como alguns dos atos de coragem e desobediência civil exemplares em nosso continente. Há alguns dias, descobri o trabalho do fotógrafo argentino Gustavo Germano. Em sua série “Ausencias”, com uma estratégia ético-estética simples e eficiente em seu soco na boca de nosso estômago, o fotógrafo refaz fotos de amigos e famílias dos anos 1960 e 70, deixando vago o local onde seus entes queridos desaparecidos deveriam estar, não tivessem sido sequestrados por um regime assassino. Sendo este um blog dedicado à literatura, gostaria de tomar o dia de hoje, no entanto, para chamar a atenção dos leitores a um outo projeto bastante comovente em nosso país vizinho, capitaneado pelo poeta e jurista Julián Axat, nascido em Buenos Aires naquele fatídico ano de 1976. Ele próprio filho de desaparecidos, tem se dedicado com afinco em manter viva a memória das milhares de vítimas da Junta Militar argentina. Em sua coleção “Detectives Salvajes”, que toma o título do romance de Roberto Bolaño (1953-2003), Axat vem publicando a literatura deixada por escritores que desapareceram pelas valas comuns, desertos e o oceano que banha nossa parte do mundo-cão. A ditadura tocou vários escritores do país, como o grande Juan Gelman, que passou anos em busca da neta. Em 1995, quase uma década antes de poder finalmente abraçá-la, escreveu uma carta que começava assim: “Dentro de seis meses cumplirás 19 años. Habrás nacido algún día de octubre de 1976 en un campo de concentración.” É a história de tantas famílias latino-americanas. Graças aos esforços de Julián Axat, pude descobrir dois jovens escritores que desapareceram na noite escura do continente: Miguel Ángel Bustos, desaparecido em 1976, e Carlos Aiub, desaparecido em 1977, o ano em que nasci. Abro este pequeno texto em homenagem a todos os desaparecidos e sobreviventes do país vizinho com uma citação de Bustos. Permitam-me encerrá-lo com alguns versos de Aiub, sussurrando que sim, alguns de nós nos lembramos e, ao mesmo tempo, NUNCA MAIS. “temer el dolor como cuando siempre la forma del dolor y de la muerte empezás también a imaginarla y temés temés también tu olvido o algo así el qué pensarán de vos si te recordarán si tu nombre bautizará algo o servirá para algo temer el final que no te deje ver el final la victoria viste las cosas nuevas que buscás el nuevo sueño chiquitín continuado temer todo eso y entonces si temer la muerte que se puede venir y no la deseás y te aferrás a la vida con todo porque querés vivir simplemente para ver cuando al final la vida viva el nuevo dolor lo pensás más tarde.” (Carlos Aiub, desaparecido em 1977) ¹ Ricardo Domeneck nasceu em Bebedouro, em São Paulo, mas vive em Berlim desde 2002. Lançou os livros “Carta aos anfíbios” (Bem-Te-Vi, 2005), “a cadela sem Logos” (Cosac Naify/7Letras, 2007), “Sons: Arranjo: Garganta” (Cosac Naify/7Letras, 2009), “Cigarros na cama” (Berinjela, 2011) e “Ciclo do amante substituível” (7Letras, 2012). É coeditor das revistas Modo de Usar & Co. e Hilda. A editora Verlagshaus J. Frank, de Berlim, publicou em 2013 uma coletânea de seus poemas.

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Pela primeira vez, Justiça argentina condena empresário por crimes na ditadura militar

Marcos Levín foi condenado a 12 anos de prisão por ter participado, em 1977, do sequestro e tortura de um sindicalista que trabalhava em sua empresa. A Justiça da Argentina condenou, nesta segunda-feira (28/03), o empresário Marcos Levín, ex-dono da empresa de transportes La Veloz del Norte, a 12 anos de prisão por ter participado do sequestro de Víctor Cobos, em 1977, então funcionário e sindicalista de sua empresa. Foi a primeira condenação de um empresário como coautor ou cúmplice de crimes de lesa-humanidade referentes à ditadura militar do país (1976-1983).[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Formalmente, Levín foi condenado por privação ilegal da liberdade e tortura. O Tribunal Federal de Salta, cidade no noroeste do país, também considerou culpados no mesmo caso os ex-policiais Víctor Hugo Almirón, Víctor Hugo Bocos e Víctor Cardozo. Os dois primeiros receberam a mesma pena, e o último foi condenado a 8 anos de prisão. Cobos, sequestrado em 22 de janeiro de 1977, integrava a direção local da UTA (Unión Tranviarios Automotor), sindicato argentino do setor de transportes. Ele havia sido acusado de cometer supostas fraudes na empresa de Levín. Sob tortura, Cobos foi forçado a assinar um termo em que acusava ter roubado a La Veloz del Norte com a participação de colegas. Com o documento, ele foi formalmente levado a uma prisão, de onde foi liberado três meses depois. Outros funcionários da empresa foram vítimas dos mesmos crimes. Atualmente, outros nove empresários enfrentam processos na Justiça sob a acusação de terem sido cúmplices de crimes da ditadura militar da Argentina. O dono da empresa agroindustrial Ledesma, Carlos Pedro Blaquier, e o diretor do jornal La Nueva Provincia, Vincente Massot, são acusados por crimes de lesa-humanidade no período do regime militar. Blaquier é investigado por sua suposta participação nas chamadas “noites dos apagões”, em julho de 1976, em que ocorreram cerca de 400 sequestros no país. Já Massot é acusado de ter participado do sequestro, tortura e assassinato de dois funcionários do jornal. De acordo com o Ministério Público, um dos trabalhadores havia protagonizado um forte conflito sindical com o jornal em 1975. Os demais acusados são ex-diretores ou acionistas das seguintes empresas: Acindar (siderúrgica), Ford e Mercedes-Benz (automóveis), Las Marías (ervas e chás), Loma Negra (cimento), Molinos Río de la Plata (alimentos, na época pertencente à multinacional Bunge & Born) e a Comissão Nacional de Valores (órgão do governo). Na última quinta-feira (23/03), o golpe militar na Argentina completou 40 anos. Milhares de manifestantes foram às ruas nas marchas anuais que pedem memória, verdade e memória. O protesto na Praça de Maio, no centro da capital Buenos Aires e em frente à Casa Rosada, reuniu cerca de 300 mil pessoas. Outro lado O advogado de defesa de Levín, Marcelo Arancibia, disse que não há elementos que comprove que seu cliente tenha instigado as torturas ou que tenha tramado um plano sistemático para prender seu empregado. Já Federico Petrina, advogado de Bocos e Almirón, concordou com a defesa do colega e pediu absolvição dos defendidos por falta de provas. Fonte:ÓperaMundi

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A estratégia do novo governo argentino para tentar recuperar as Ilhas Malvinas

Menos de um mês após ter sido empossado, o governo do presidente argentino Mauricio Macri indicou que reaver a soberania das Ilhas Malvinas (Falklands, para os ingleses) faz parte das prioridades de sua política externa. Impasse sobre território é motivo de tensão entre argentinos e britânicos Image copyright Getty Historicamente, a discussão sobre a recuperação do território – em poder dos britânicos desde o século 19 e motivo de guerra em 1982 – costuma ter apoio dos argentinos. Porém, pesquisas indicam que hoje a população vê outros problemas como mais urgentes, entre eles inflação e segurança pública.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O assunto Malvinas era uma das bandeiras da gestão de Cristina Kirchner (2007-2015), da qual o novo governo vem tentando demonstrar várias diferenças, principalmente nas linhas política e econômica. Macri sugeriu, porém, que vai mudar o estilo impresso pela antecessora no assunto, buscando um diálogo “mais amigável” com o governo britânico, como disse à BBC Brasil um embaixador argentino, sob a condição do anonimato. “É claro e evidente que o governo do presidente Macri tem uma atitude de diálogo e mais respeitosa (que a gestão da antecessora)”, disse o diplomata. Em um comunicado divulgado no último dia 3, o governo argentino convida o Reino Unido a “restabelecer as negociações para resolver, o mais rápido possível, e de maneira justa e definitiva, a disputa pela soberania” sobre as Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul e os espaços marítimos da região. E diz que espera fazer isso “por meio do caminho do diálogo, da paz e da diplomacia”. Governo Macri espera retomar diálogo com o Reino Unido sobre posse das Malvinas – Image copyright AP Novo estilo Em diferentes entrevistas nos últimos dias, a ministra das Relações Exteriores da Argentina, Susana Malcorra, disse que as Malvinas são um tema “constitucional, e não opcional”, e sugeriu que a estratégia do governo atual seria a de buscar dialogar com os britânicos com um novo estilo. “Nem sempre se consegue o que se pretende endurecendo o discurso”, disse ela à imprensa argentina. Malcorra reconheceu, porém, que o kirchnerismo (2003-2015) colocou o assunto em destaque na agenda argentina. Em diferentes discursos e em uma carta enviada ao primeiro-ministro britânico David Cameron em janeiro de 2013, a então presidente disse que “há 180 anos, em um exercício descarado de colonialismo do século 19, a Argentina foi despejada à força das Ilhas Malvinas, situadas a 14 mil quilômetros de distância de Londres”. Cristina também se referiu ao Reino Unido como “potência colonial” – palavras que até o momento foram evitadas pela nova gestão argentina, pelo menos publicamente. A ex-presidente pediu, em diferentes ocasiões, que sejam “acatadas as resoluções das Nações Unidas (para que sejam retomadas as negociações entre os dois países)”. Cristina Kirchner adotou um discurso bastante duro para reivindicar soberania das ilhas. Image copyright EPA ‘Questão sentimental’ Para analistas ouvidos pela BBC Brasil, as Malvinas são uma “questão sentimental” e “histórica” para os argentinos. O fato de a gestão Macri abordar o assunto “é mais que esperado”, afirmou o professor de relações internacionais da Universidade Torcuato Di Tella, Juan Gabriel Tokatlian. “Não existe a menor chance de um governo argentino não se pronunciar sobre as Malvinas”, disse. Ele recordou que a Constituição de 1994 diz que a “nação argentina ratifica sua legítima e imprescindível soberania sobre as Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul e os espaços marítimos” na região, “por ser parte integrante do território nacional”. A Carta Magna do país diz ainda que o “povo argentino não renunciará à recuperação” dessa soberania. Na avaliação do professor de ciências políticas Marcos Novaro, da Universidade de Buenos Aires, diante do estilo kirchnerista “não foi difícil para o Reino Unido e outros países ignorarem as reclamações e ataques da Argentina e deixar essas queixas sem respostas”. Segundo ele, independente da reação britânica, convém aos argentinos “restabelecer a capacidade de diálogo” internacional. Para Novaro, o diálogo sobre a soberania poderia começar, por exemplo, com pautas como a preservação ambiental. Disputa entre britânicos e argentinos por território levou até a uma guerra, em 1982 – Image copyright AFP O especialista lembrou, porém, que o tema não é unanimidade. “Existe muita gente que acredita que [as ilhas] são argentinas, mas também existem muitos a entender que esse não é um assunto prioritário na politica exterior do país.” Na sua visão, a Argentina tem hoje outros temas mais urgentes, como “retomar relações com outras democracias do mundo, incluindo os vizinhos, que retrocederam com o kirchnerismo”. Discordâncias De acordo com o pesquisador do Conicet (Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas) Vicente Palermo, os britânicos estão dispostos a falar sobre “muitas coisas” com os argentinos, mas não a respeito da soberania das ilhas. “Eles consideram que os moradores devem ser incluídos nas negociações, com o que a Argentina discorda”, disse. Em 2013, a maioria da população decidiu, por meio de um reverendo, permanecer como território britânico. O analista afirma que, apesar dos gestos do governo Macri, não prevê “nenhum avanço no curto prazo” sobre esse impasse. Para ele, a relação bilateral foi “muito deteriorada” durante o governo de Cristina, e ainda não está claro como esse diálogo poderia ser retomado agora. As Ilhas Malvinas, no Atlântico Sul, foram motivo de uma guerra em 1982, da qual os britânicos saíram vitoriosos. A derrota argentina abriu caminho para o retorno da democracia no país no ano seguinte. Reclamar o território com assiduidade foi política frequente dos governos anteriores no país, que diferiram apenas na intensidade com que fizeram a reivindicação. Nos últimos anos, foi descoberto que a região, tradicional para a pesca, também é rica em petróleo. Fonte:BBC

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Quem matou Alberto Nisman?

Em janeiro deste ano, um promotor argentino foi encontrado sem vida ao redor de uma poça de sangue no banheiro de seu apartamento, dias antes de divulgar um relatório contra o governo da presidente Cristina Kirchner. O correspondente da BBC Wyre Davies foi até Buenos Aires para entender as circunstâncias dessa estranha morte que continua a abalar a Argentina. No início deste ano, em meio a um período crítico em que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, tentava recuperar a combalida economia do país, de olho nas eleições de outubro, um episódio atingiu o centro nervoso do governo. Dentro de um luxuoso apartamento na área portuária de Buenos Aires, um promotor de 51 anos chamado Alberto Nisman se preparava para divulgar um relatório polêmico. Ele acusaria o governo argentino de ajudar a acobertar o pior ataque terrorista da história do país. Horas antes de ele apresentar o relatório ao Congresso, Nisman foi encontrado morto em seu apartamento, localizado no 13º andar de um prédio luxuoso da capital Buenos Aires, com um único disparo na cabeça. Rapidamente, os argentinos começaram a se questionar: foi um suicídio ou um assassinato? E se realmente tiver sido um assassinato, quem estaria por trás de sua morte? A resposta a essa pergunta encontra-se em uma sucessão de fatos ocorridos há 21 anos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Leia mais: Promotor que acusou Cristina Kirchner é achado morto; entenda o caso Atentado Ataque a bomba destruiu a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) em 1994 No dia 18 de julho de 1994, um ataque a bomba destruiu a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), o principal centro comunitário judaico do país. A explosão foi tão forte que o prédio ruiu, matando 85 pessoas. Muitas das provas foram perdidas ou contaminadas, ora deliberadamente ou por incompetência, e nunca ninguém foi condenado pelo envolvimento no atentado. O ataque atingiu o coração da comunidade judaica, com cerca de 400 mil integrantes, uma das maiores fora de Israel. O prédio foi então reconstruído sob forte esquema de segurança com altos muros que impedem qualquer nova ameaça. Nisman, um promotor midiático e por vezes obsessivo, vinha investigando o atentado há mais de uma década, tentando solucionar um caso para o qual ninguém ainda havia conseguido encontrar respostas. Explosão foi tão forte que o prédio ruiu, matando 85 pessoas Mas, nos últimos meses, o promotor começou a angariar inimigos no alto escalão do governo argentino. Alegando que houve uma tentativa de acobertar a suposta participação do Irã no atentado, Nisman abriu um processo criminal contra a presidente argentina, Cristina Kirchner, e o chanceler do país, Hector Timerman. O promotor confiava em poucas pessoas e ocasionalmente trabalhava de seu apartamento. Ele estava ali no dia 18 de janeiro deste ano quando foi encontrado morto. Flagrado deitado em seu banheiro cercado de uma poça de sangue e com uma arma próxima a seu corpo, muitas pessoas com boas conexões na Argentina imediatamente presumiram que Nisman havia se suicidado. Até a própria presidente Kirchner, em sua página no Facebook, sugeriu que o procurador tinha ceifado a sua própria vida. Leia mais: Argentina: Atentado investigado por promotor morto segue impune; entenda Outro lado Ex-companheira de Nisman, juíza argentina Sandra Arroyo Salgado recusa-se a aceitar versão oficial sobre morte de promotor Mas uma pessoa se recusa a acreditar nisso desde o início. Ex-companheira de Nisman, Sandra Arroyo Salgado viveu com o promotor por 17 anos e é mãe de suas duas filhas. “Não tenho dúvida, de que por causa do jeito que ele era, sua personalidade, ele nunca tiraria a própria vida”, disse ela à BBC em uma entrevista exclusiva em sua casa, localizada em um subúrbio chique nos arredores de Buenos Aires. “Ele era extremamente cuidadoso com sua saúde e tinha medo de morrer jovem. Por isso, quando me contaram que ele tinha sido encontrado morto e uma arma foi encontrada no local, sabia que alguém o havia matado”. Polícia permitiu que mãe de Nisman lavasse pratos sujos que haviam sido deixados na pia No momento da morte de Nisman, Salgado estava em viagem ao exterior e, quando voltou à Argentina, ficou surpresa com a rápida velocidade do exame post mortem e o insucesso em preservar as provas encontradas no apartamento do promotor. Assim, embora ela e Nisman estivessem separados, Salgado ─ que é juíza ─ começou suas próprias investigações. “A única coisa que estamos buscando é a verdade”, disse ela. “Minha equipe de investigadores analisou as fotos e o vídeo da autopsia oficial e chegou à conclusão que a morte de Alberto certamente não foi acidental”. “É como se as autoridades responsáveis pela investigação estivessem ignorando completamente o fato de que Alberto foi encontrado morto apenas quatro dias depois de ter acusado a presidente do país de nada menos do que um possível acobertamento de um ataque terrorista que resultou na morte de 85 pessoas”. Leia mais: Por que a morte do promotor argentino deixa tantas dúvidas Provas Arma que matou Nisman era uma antiga Bersa calibre 22 Dezenas de imagens foram registradas pela polícia argentina no apartamento de Nisman. Elas apontavam para uma total falta de preparo das autoridades. Algumas imagens mostram várias pessoas andando pelo apartamento, sem qualquer roupa especial. As evidências foram inapropriadamente manipuladas. Por exemplo, em dado momento, a polícia permitiu que a mãe de Nisman lavasse os pratos sujos que haviam sido deixados na pia e que, muito possivelmente, teriam pistas que ajudariam a desvendar o mistério. A equipe de Salgado também alega que as digitais não foram tiradas de provas consideradas “chave” como um computador que, segundo ela, investigadores ligaram sem a devida cautela. A arma achada na cena também parece ter sido manipulada e deixada em outro lugar, de novo longe do procedimento padrão nesses casos. Apenas depois da insistência de Salgado foi que um teste à base de Luminol (substância química que permite identificar vestígios de sangue) foi realizado semanas depois da morte de Nisman. O teste mostrou que houve uma tentativa de lavar o sangue de algum

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