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Antônio Gedeão – Poesia – 13/02/24

Boa noite. Enquanto Antônio Gedeão Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio e um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé para ver como é; Enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas e correr pelos interstícios das pedras, pressuroso e vivo como vermelhas minhocas despertas; Enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas, órfãs de pais e de mães, andarem acossadas pelas ruas como matilhas de cães; Enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente, num silêncio de espanto rasgado pelo grito da sereia estridente; Enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas amassando na mesma lama de extermínio os ossos dos homens e as traves das suas casas; enquanto tudo isto acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade, Enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia, o poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade: Abaixo o mistério da poesia.

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