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Anna Maria Dutra – Versos na tarde – 26/02/2017

Delírio Anna Maria Dutra Quero amar verde-musgo alucinadamente Com o amor tempestade a trovejar fremente Rodopiando louco no vento que encrespado Vai arrancar da terra o tronco mais cravado. Quero amar como o rio varando enlouquecido O barro de seu corpo no leito adormecido A devorar faminto os prazeres das margens. Na febre dos instintos, na fuga das viagens. Quero amar seiva-viva escorrendo alentada A árvore gigante moradora da estrada Quero cravar os dentes nos ramos ressequidos Nas fôrças mais potentes de todos os sentidos. Quero o amor dos pastos do verde deslumbrado A subir pelo monte, erótico, encrespado E no alto da montanha meu corpo abandonar E entregar-me nua nos braços do luar. Quero amar tão somente nesta diversidade do mais contente, do amor mais saudade Do amor honestidade suspiroso de alguém Deste amor que em verdade nunca foi ninguém. Eu quero o amor agreste e bestializado Aquele amor que investe sobre o prado molhado E num mugir sentido o seu corpo arremessa Na ânsia dividida de desejo e promessa. Eu quero amor lavado na água borbulhante Da cachoeira em fúria selvática e vibrante Gargarejando espasmos, sufocada ao martírio Destes delírios pasmos, deste langor de lírio. Aí quero ser eu mesma um tempo repisado Entre o esterco da terra e o barco sopitado Nas patas do cavalo, nas botas do tropeiro Quero ser esmagada pelo amor caminheiro Estrada onde caminham as rústicas paixões Carros de boi rangendo e touros ermitões. Quero no roxo vivo do abrir da madrugada Deitar-me sobre a terra e ser violentada E depois quase morta de prazer e tristeza Germinar em meu ventre a própria natureza. ¹ Anna Maria Dutra de Menezes Carvalho Rio de Janeiro, RJ. – 23 de julho de 1933 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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