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T.S.Eliot – Poesia – 01/01/24

Boa noite A canção de amor de J. Alfred Prufrock – Parte VI TS. Eliot Não! Não sou o Príncipe Hamlet, nem pretendi sê-lo. Sou um lorde assistente, o que tudo fará Por ver surgir algum progresso, iniciar uma ou duas cenas, Aconselhar o príncipe; enfim, um instrumento de fácil manuseio, Respeitoso, contente de ser útil, Político, prudente e meticuloso; Cheio de máximas e aforismos, mas algo obtuso; As vezes, de fato, quase ridículo Quase o Idiota, às vezes. Envelheci . . . envelheci . . . Andarei com os fundilhos das calças amarrotados. Repartirei ao meio meus cabelos? Ousarei comer um pêssego? Vestirei brancas calças de flanela, e pelas praias andarei. Ouvi cantar as sereias, umas para as outras. Não creio que um dia elas cantem para mim. Vi-as cavalgando rumo ao largo, A pentear as brancas crinas das ondas que refluem Quando o vento um claro-escuro abre nas águas. Tardamos nas câmaras do mar Junto às ondinas com sua grinalda de algas rubras e castanhas Até sermos acordados por vozes humanas. E nos afogarmos. Tradução Ivan Junqueira 1 Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880

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T.S.Eliot – Poesia – Poemas – Versos na tarde – 11/05/2017

A canção de amor de J. Alfred Prufrock – Parte IV T.S.Eliot¹ E a tarde e o crepúsculo tão docemente adormecem! Por longos dedos acariciados, Entorpecidos . . . exangues . . . ou a fingir-se de enfermos, Lá no fundo estirados, aqui, ao nosso lado. Após o chá, os biscoitos, os sorvetes, Teria eu forças para enervar o instante e induzi-lo à sua crise? Embora já tenha chorado e jejuado, chorado e rezado, Embora já tenha visto minha cabeça (a calva mais cavada) servida numa travessa, Não sou profeta – mas isso pouco importa; Percebi quando titubeou minha grandeza, E vi o eterno Lacaio a reprimir o riso, tendo nas mãos meu sobretudo. Enfim, tive medo. E valeria a pena, afinal, Após as chávenas, a geléia, o chá, Entre porcelanas e algumas palavras que disseste, Teria valido a pena Cortar o assunto com um sorriso, Comprimir todo o universo numa bola E arremessá-la ao vértice de uma suprema indagação, Dizer: “Sou Lázaro, venho de entre os mortos, Retorno para tudo vos contar, tudo vos contarei.” – Se alguém, ao colocar sob a cabeça um travesseiro, Dissesse: “Não é absolutamente isso o que quis dizer Não é nada disso, em absoluto.” E valeria a pena, afinal, Teria valido a pena, Após os poentes, as ruas e os quintais polvilhados de rocio, Após as novelas, as chávenas de chá, após O arrastar das saias no assoalho – Tudo isso, e tanto mais ainda? – Impossível exprimir exatamente o que penso! Mas se uma lanterna mágica projetasse Na tela os nervos em retalhos . . . Teria valido a pena, Se alguém, ao colocar um travesseiro ou ao tirar seu xale às pressas, E ao voltar em direção à janela, dissesse: “Não é absolutamente isso, Não é isso o que quis dizer, em absoluto.” Tradução Ivan Junqueira 1 Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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