Odebrecht: tempo maior para presidente. Proposta causa espanto em encontro de empresários. Para CNI, houve mal-entendido
Um encontro da nata empresarial brasileira ontem na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), no Centro do Rio, para debater oportunidades de negócios em tempos de crise econômica mundial, foi marcado por um comentário breve que provocou espanto entre os mais de 30 presentes. O presidente do Conselho de Administração do Grupo Odebrecht, Emílio Odebrecht, defendeu um mandato presidencial mais longo no país, o que foi entendido por parte dos empresários como defesa de um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
” Ele disse que o Brasil talvez devesse adotar no futuro um mandato mais longo e sem reeleição”
O encontro ocorreu a portas fechadas, das 15h às 17h30m, e foi organizado pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, que na última quarta-feira realizou encontro semelhante na Fiesp. Segundo um dos participantes, Emílio Odebrecht pediu a fala apenas duas vezes durante o encontro, quando defendeu mandato maior.
Presidente da CNI diz que houve um mal-entendido
Os participantes evitaram comentar as declarações do executivo, que comanda o Conselho de Administração de um dos maiores grupos empresariais do país, com faturamento de R$ 31,4 bilhões em 2007.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, tentou minimizar a declaração do executivo da Odebrecht. Segundo ele, Emílio Odebrecht teria defendido, na verdade, uma maior período do mandato presidencial, de quatro para cinco anos, eliminando qualquer possibilidade de reeleição. Monteiro Neto tentou ainda colocar panos quentes no assunto, afirmando que se trata de uma discussão antiga que frequentemente volta à tona no país.
– Emílio fez o comentário no contexto da reforma política. Ele disse que o Brasil talvez devesse adotar no futuro um mandato mais longo e sem reeleição. Isso poderia de certo modo estimular os governos a tomar iniciativas politicamente desgastantes, como as reformas. A reeleição obriga de certa forma os governantes a adotar medidas que favoreçam a reeleição – afirmou.
A reeleição obriga de certa forma os governantes a adotar medidas que favoreçam a reeleição
“Um outro participante do encontro disse que houve “um clima de espanto” entre os líderes ao ouvir a proposta de Odebrecht. Procurada pelo GLOBO, a empresa informou que Emílio Odebrecht não defendeu um terceiro mandato para Lula.
Em dezembro do ano passado, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara barrou três propostas de emendas constitucionais que abriam brechas para a possível aprovação de um terceiro mandato presidencial. Em setembro, deputados da base aliada do governo chegaram a discutir uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para prorrogar o mandato presidencial. A ideia dos parlamentares era aumentar o mandato para cinco anos, sem direito a reeleição.
O Globo Online – Bruno Villas Bôas