Brasil: da série “só doi quando eu rio!”
O que se esperar de qualquer coisa que tenha o notório Paulo Maluf e o mensaleiro Valdemar Costa Neto no meio?
Quando são criticados e laureados como a instituição menos confiável pela população, suas (deles) ex-celências, exibem a cândida face dos injustiçados
O Editor
Na Câmara, comissão da reforma política inclui ‘réus’
Instalada nesta terça (1º) com a pompa de um plenário vazio, a comissão de reforma política da Câmara já nasceu tropeçando nas circunstâncias.
Além de trabalhar com prazo e metodologia diferentes dos fixados pelo Senado, o grupo da Câmara inclui deputados cujas biografias não ornam com o relevo da missão.
A lista dos 41 membros da comissão está disponível aqui. Integram-na, por exemplo, Valdemar da Costa Neto (PR-SP) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
Ambos são réus em processos que correm no STF. Valdemar frequenta os autos do mensalão petista, de 2005. Azeredo é protagonista no caso do mensalão mineiro, de 1998.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita]
Também compõe a comissão incumbida de “reformar” a política o poli-investigado deputado Paulo Maluf (PP-SP).
Livrou-se do enquadramento na Lei da Ficha Limpa na última hora, numa sessão do TSE. É investigado por desvios da época em que foi prefeito de São Paulo.
Outro deputado escalado para “aprimorar” o sistema partidário e eleitoral foi Newton Cardoso (PMDB-MG). Ex-governador de Minas, é famoso pelo patrimônio.
Um dos representantes do PT na comissão será o deputado José Guimarães (CE), irmão de José Genoino, ex-deputado e ex-presidente da legenda.
Guimarães tornou-se celebridade nacional em 2005. Seu então assessor, Adalberto Vieira, foi pilhado embarcando em São Paulo com R$ 100 mil acondicionados na cueca.
O PT também indicou para representá-lo no debate sobre o “aprimoramento” da legislação política o deputado Ricardo Berzoini (SP).
Ex-presidente do PT, Berzoini coordenou a campanha reeleitoral em que Lula prevaleceu sobre Geraldo Alckmin (PSDB), em 2006.
Foi sob a presidência de Berzoini que a PF flagrou “aloprados” petistas tentando comprar, com R$ 1,7 milhão de origem até hoje desconhecida, um dossiê antitucanos.
Nesta quarta (2), a comissão “reformista” da Câmara realiza sua primeira reunião. Serão eleitos o presidente e o relator.
Escalará a presidência, por acordo interpartidário, o deputado Almeida Lima (PMDB-SE).
Ex-senador, ele integrou o esquadrão parlamentar que ajudou a livrar da cassação, em 2007, Renan Calheiros (PMDB-AL).
O relator, também escolhido por acordo, será o deputado Henrique Fontana (PT-RS), ex-líder do governo Lula.
A comissão da Câmara foi instalada uma semana depois do grupo análogo do Senado. Uma terá 41 membros. Outro, 15.
Na Câmara, fixou-se prazo de 180 dias para a conclusão do trabalho. No Senado, apenas 45 dias.
Os deputados ouvirão especialistas, em audiências públicas. Os senadores optaram por não consultar pessoas de fora.
Na Câmara, vai-se perseguir o “consenso”. Presidente da comissão do Senado, Francisco Dornelles (PP-RJ) disse que divergências serão dirimidas no voto.
Apartadas em tudo, as duas comissões têm apenas um ponto em comum. Lidam com o mesmo tipo de matéria-prima: o dissenso.
A lógica recomendava que as duas casas do Legislativo trabalhassem juntas. Porém, em matéria de reforma política, o Congresso não é movido pelo nexo.
Nas próximas semanas, o noticiário será tomado por manchetes desconexas. A começar pelas divergências que separam os interesses de PMDB e PT.
Os dois sócios majoritários do consórcio governista divergem em quase tudo. O quadro não é diferente na maioria das outras legendas.
A exemplo do que sucedeu em tentativas anteriores de reformar a política, repete-se agora o risco de gastar em vão saliva, papel-jornal e o dinheiro da platéia, que financia o espetáculo.
blog Josias de Souza