Itamar Franco não perdoava suspeita contra ministro

Saudades do presidente Itamar Franco, o único que afastava qualquer ministro suspeito de irregularidade, até que provasse ser inocente.

Palocci tinha que ser demitido, sem maiores explicações.

Realmente não se faz mais presidente como Itamar Franco.

Em matéria de probidade administrativa, nunca se viu nada igual na política brasileira.

Ele jamais admitiu que qualquer membro do governo, especialmente do primeiro escalão, fosse colocado sob suspeita de irregularidade.

Afastava o ministro imediatamente, até que o caso foi totalmente investigado.

Itamar Franco não teve dúvidas de afastar um de seus amigos mais próximos, Henrique Hargreaves, mineiro de Juiz de Fora, que era Chefe da Casa Civil.

Hargreaves foi acusado na CPI dos Anões, e Itamar o afastou em 5 de outubro de 1992.

Só o readmitiu mais de um ano depois, em 1º de novembro de 1993, quando ficou inteiramente comprovado que Hargreaves havia sido acusado injustamente.

O mais importante e interessante nisso tudo é que a amizade entre Itamar e Hargeaves resistiu a tudo.

Quando ele foi novamente nomeado para a Chefia da Casa Civil, o presidente mandou estender um tapete vermelho na entrada do Palácio do Planalto, para recebê-lo de volta. E ainda hoje trabalham juntos.

Hargreaves, que depois foi secretário de Estado quando Itamar governou Minas Gerais, atualmente é seu assessor no Senado.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita]

A acusação contra Hargreaves era uma bobagem, não pode nem ser comparada à situação de atual Chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, que verdadeiramente enriqueceu no desempenho de funções públicas, seja como consultor (sinônimo de lobista e traficante de influência) ou corretor imobiliário.

Palocci, que já tinha um passado nebuloso na prefeitura de Ribeirão Preto, onde ficaram famosas suas relações com a empresa de lixo Leão & Leão, confirmou o currículo ao atuar como ministro da Fazenda, quando se dedicava a frequentar a mansão que seus amigos de Ribeirão Preto alugaram para fazer lobby, traficar influência em Brasília e praticar sexo com profissionais.

Demitido por Lula, Palocci ficou no ostracismo até a campanha de Dilma, à qual foi discretamente integrado, mas dela emergindo como todo-poderoso chefe da Casa Civil, cargo não muito recomendável nos últimos tempos, desde que foi entregue a José Dirceu e depois a Erenice Guerra, outros excepcionais especialistas em consultorias e tráfico de influência.

A atitude de presidente Dilma Rousseff, que se comporta como se nada estivesse acontecendo, mostra a distância moral e ética que a separa de um político como Itamar Franco. Onde está aquela Executiva durona que não admitia erros de ninguém? Onde está aquela Dama de Ferro que todos temiam?

Na verdade, essa Dama de Ferro não existe, sua armadura já enferrujou faz tempo, desde quando esqueceu seu “braço-direito” Erenice Guerra tomando conta do boteco. Com aquela boca enorme, de 48 dentes, Erenice engoliu tudo que encontrou pela frente, como se fosse uma draga/cremalheira, e no dia 1º de janeiro ainda foi convidada para a posse da companheira, numa afronta à cidadania e às pessoas de bem.

No Planalto enlameado, ontem mesmo a Comissão de Ética Pública da Presidência se apressou em anunciar que não vai analisar a evolução patrimonial do ministro Antonio Palocci, que entre 2006 e 2010 foi multiplicada por 20 vezes, saltando de R$ 375 mil para cerca de R$ 7,5 milhões.

Segundo o presidente da comissão e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Sepulveda Pertence, não cabe ao colegiado avaliar como um ministro chegou ao patrimônio que declarou ter ao tomar posse. Ele disse que só caberia uma investigação “caso a declaração de bens entregue tivesse sido falsificada”.

Como é que um ex-ministro do Supremo, tido com o jurista, consegue se abaixar tanto, até se misturar com a lama em que Brasília está mergulhada? E ainda havia quem julgava que se tratasse de um jurista. É um triste papel para o encerramento de sua carreira, que já vinha mal, muito mal, nos últimos anos, quando passou a faltar seguidamente às sessões do STF, todos sabiam por quê, mas ninguém comentava.

Seja em que governo for (Itamar é apenas o exemplo), só há uma atitude decente a tomar. O ministro denunciado tem obrigação de se explicar, de abrir suas contas, de mostrar quem lhe pagava milhões para receber consultoria. Foi a Odebrecht? Ou a Camargo Corrêa? Quem sabe a Queiroz Galvão? Talvez a Gerdau, tão ligada ao governo? A CSN? Ou a EBX, de Eike Batista? E se foi alguma grande multinacional, algum conglomerado chinês? Nada contra. Mas mostre quem o enriqueceu, tão subitamente e em sua fase de maior ostracismo.

Palocci declara que seu patrimônio é hoje de R$ 7,5 milhões. Isso é uma deslavada mentira. Quem tem apenas R$ 7,5 milhões não gasta R$ 6,6 milhões para comprar um apartamento, cujo condomínio é caríssimo, e a manutenção, idem. Seria muita burrice. Palocci agora tem de fazer como o assessor do irmão de José Genoino e mostrar o dinheiro que enfiou na cueca.

Voltando ao ex-presidente Itamar Franco, repita-se que ele é apenas o exemplo. Mas convém deixar bem claro que ele somente cumpriu sua obrigação, nem merece maiores elogios por isso. E seu procedimento correto só é lembrado porque o Brasil mudou muito, de seu governo para cá. Ser honesto hoje é uma triste exceção. Saudades de Itamar Franco.

Carlos Newton/Tribuna da Imprensa

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