Tiririca e Sarney
Richard Nixon certa vez defendeu sua nomeação de um juiz reconhecidamente inadequado para a Corte Suprema americana com o argumento de que a mediocridade também precisava estar representada no tribunal.
Perfeito. Todos os tipos de cidadãos devem ser representados numa democracia. Nesse sentido o recém-empossado Congresso brasileiro talvez seja o mais representativo da nossa história.
Além dos medíocres, muitos outros brasileiros têm voz, ou pelo menos presença de terças a quintas, no Congresso.
Alguns setores são até super-representados, como o dos grandes proprietários rurais e o dos milionários.
Apesar destes pertencerem à menor minoria no país, têm uma bancada bem maior que a da maioria pobre.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita]
Mas, em geral, todos os eleitores brasileiros, todos os tipos e todas as características nacionais têm representação em Brasília. Não lamente o novo Congresso, portanto.
Eles são nós.
Tomemos o Tiririca e o Sarney.
Os dois seriam exemplos, respectivamente, de desvirtuamento do processo eleitoral e de aviltamento dos costumes políticos, uma vergonha.
Ou duas vergonhas.
Tiririca um inocente transformado em legislador por uma galhofa, Sarney eternizando-se no comando do Senado pelo seu poder de manobra e de conchavo, um cordeiro e uma raposa representando os extremos da nossa desilusão com a fauna parlamentar.
Mas Tiririca não representa apenas os palhaços do Brasil.
A galhofa que o elegeu é uma manifestação política, ou antipolítica, que tem história no país e ou representa os que não sabem nada de nada e não querem saber, ou os que sabem tanto que votam em palhaços e rinocerontes para protestar.
De qualquer forma, os simples e os enojados também têm sua bancada.
E existe algo mais brasileiro, folclórico e até enternecedor do que Sarney e seu amor pela mesa diretora?
Falar mal do Sarney é um pouco como falar mal de um velho tio excêntrico, mas cujas peripécias divertem a família.
Tudo se perdoa e tudo se aceita com a frase “Que figura…”. O indestrutível Sarney representa a persistência do gosto nacional por “figuras”.
Mas há um caso flagrante de sub-representação no Congresso, além dos sem terras e dos pobres.
Quando o senador Paim olha em volta do Senado não vê nenhum outro negro como ele a não ser um eventual garçom servindo o cafezinho.
Nada é perfeito.
Luis Fernando Verissimo/blog do Noblat