Cidades dos EUA oferecem internet sem fio a baixo custo.
Governo da Filadélfia acha que wi-fi é necessidade básica.
Matthew Davis – The Washington Post
Um número crescente de cidades americanas está tratando a internet rápida como um serviço básico a ser oferecido aos cidadãos, bem como água e gás encanado, por exemplo. Mas enquanto o conceito se expande, também cresce a briga com as grandes empresas.
No início do mês, a Filadélfia, uma das mais antigas e históricas cidades dos Estados Unidos, entrou para a vanguarda tecnológica ao anunciar planos de construir a maior rede municipal de internet por sistema wireless (sem fio) do país.
A rede de mais de 217 km2 será construída e administrada pela Earthlink, e vai oferecer internet rápida à população de baixa renda por US$ 10,00 (cerca de R$ 22,50) por mês.
Um grupo de outras cidades espera seguir o exemplo com conexão de internet gratuita ou de baixo custo para reconectar as comunidades pobres, pequenos comerciantes e aumentar a flexibilidade dos serviços de emergência.
Em duas semanas, San Francisco vai anunciar o resultado da concorrência aberta para prover um serviço de internet wireless para os 750 mil habitantes da cidade.
Uma das ofertas que chocou a indústria foi do Google, que ofereceu o serviço de internet wi-fi rápida para toda a cidade, financiando o projeto com anúncios.
O prefeito de San Francisco, Gavin Newsom, disse que “isso é inevitável, o wi-fi. Já está atrasado.
Para mim, é um direito fundamental de ter acesso universal à informação”.
Desperdício.
Enquanto é preciso um investimento enorme para montar redes de banda larga tradicionais para a internet, com as novas tecnologias é possível oferecer um serviço semelhante por uma pequena fração do custo.
Mas as grandes empresas de telecomunicações, que investiram bilhões em cabos e fibras óticas para milhões de casas nos Estados Unidos, estão lançando campanhas e querem impedir legalmente as iniciativas municipais.
Atualmente há um projeto de lei no Congresso, apoiado pelo congressista republicano do Texas Pete Sessions, que tenta proibir os governos municipais de construir redes de banda larga nas cidades, na maior parte dos casos.
Mas também há um outro projeto de lei em favor das redes municipais, apoiado pelos congressistas republicano John McCain e democrata Frank Lautenberg.
A indústria já teme as ligações telefônicas mais baratas feitas através da internet.
As empresas alegam que a competição pública deixa as companhias privadas em desvantagem, e que os governos municipais estão se apressando em um mercado sem conhecimento.
Um grupo da indústria acaba de lançar um anúncio de TV apoiando o projeto de lei contra as redes municipais que, segundo a oposição, daria ao setor privado poder para bloquear os serviços de internet comunitários.
Em outros lugares, empresas de telecomunicações e gigantes de cabos estão fazendo lobby pesado e gastando bastante a nível local e nacional.
A Verizon, que vai competir com a Earthlink quando o projeto entrar online no ano que vem, disse à BBC que não apóia a proibição das redes municipais, mas afirmou que a decisão da cidade não faz sentido.
Link Hoewing, o vice-presidente de política de internet da Verizon, disse que o governo corre o risco de “desperdiçar dinheiro” e acrescentou: “Acho que o mercado já fez um grande trabalho ao cuidar do assunto”.
Os partidários das redes municipais, no entanto, discordam, afirmando que os modelos das grandes empresas está fracassando.
Acesso rural.
Dados recentes sugerem que desde o ano 2000 os Estados Unidos deixaram de ser o 3º para ser o 16º entre os países em termos de acesso a banda larga per capita.
Estudos sugerem que 86% dos lares com renda igual ou superior a US$ 75 mil por ano têm acesso a banda larga, mas este número cai para 38% nos lares com renda inferior a US$ 30 mil.
Fora das metrópoles e das cidades, há várias áreas rurais com pouco acesso à internet rápida.
Ironicamente, no entanto, uma das fronteiras de acesso da internet sem fio está na área rural de Oregon, onde fica um dos maiores hotspots (focos) de wi-fi.
O Free Press, um grupo sem fins lucrativos favorável ao desenvolvimento das redes municipais, afirma que há centenas de iniciativas de internet comunitária em todos os Estados Unidos, algumas wi-fi, muitas não.
Em Austin, capital do Estado do Texas, um grupo local sem fins lucrativos dirige uma rede com mais de 100 hotspots, com 57 mil assinantes registrados, provendo internet wi-fi pública de graça.
Setenta por cento dos assinantes da Austin Wireless (AW) são pequenos comerciantes como cafés e livrarias, que querem atrair clientes com acesso gratuito à internet – o resto são órgãos municipais controlados pelo governo local, como parques e bibliotecas.
O presidente do grupo, Richard MacKinnon, espera que a iniciativa sirva de modelo para outras cidades nos Estados Unidos e no resto do mundo.