Um negócio da China: começar 2006 lendo “O mundo é plano”, do jornalista Thomas Friedman, do “The New York Times”.
É uma cápsula de 460 páginas para um vôo por um caminho novo, inteligente e empreendedor.
“O mundo é plano” mostra que há uma nova globalização por aí. Ela achatou o planeta e explodiu as noções de distância, tempo e trabalho. Recriou a China e a Índia.
Ao contrário da globalização financeira dos anos 90, nessa há lugar para brasileiros. Na primeira, ganhava quem tinha dinheiro. Agora, pode ganhar quem tem educação, quer aprender mais e acredita no seu trabalho.
A contabilidade de um mercado no Texas é processada em Bangalore, na Índia.
A enciclopédia aberta Wikipedia recebe mais consultas que a Britannica.
Um garoto de Bangu e uma menina de Bangkok vêem, ao mesmo tempo, dez preciosos desenhos de Van Gogh expostos em Nova York.
O buscador Google atende um bilhão de consultas por dia. O sistema de Voz sobre o IP transformou as tarifas de ligações interurbanas em micos de operadoras anacrônicas, como as brasileiras.
O mundo de Friedman é plano, mas nele a familiaridade com a língua inglesa é uma cordilheira de obstáculos. Como o inglês não será substituído pelo português, pouco há a fazer. Na província de Dalian, na China, há 22 universidades, com 200 mil estudantes. Todos, inclusive os alunos de letras, passam um ano estudando inglês (ou japonês) e ciências da computação.
Friedman prenuncia um mundo dirigido pelos zippies. Esse personagem está em qualquer cidade do mundo, tem entre 15 e 25 anos e uma fé absoluta na sua capacidade. O hippie dos anos 60 era americano ou europeu.
O zippie de hoje é indiano, chinês ou russo. É nessa hora que se abre espaço para Pindorama.
Se os jovens brasileiros começarem a brigar para que haja mais computadores em suas casas, escolas e locais de trabalho, a brincadeira terá começado.
Como Friedman é antes de tudo um repórter, a primeira metade do livro, descritiva, é melhor que a segunda, catequética. Mesmo quando ele diz coisas com as quais não se concorda, é muito melhor lê-lo do que ouvir um companheiro chamando caixa dois de “recursos não contabilizados”.
“O mundo é plano” não arruma emprego para os seus leitores, mas ensina como eles acabam, onde reaparecem e como reaparecem.