Saiu na midia – XI/05 – A morte, a glória e o apelido

Lucas Mendes – BBC, New York

Dillon Stewart tinha 30 anos quando começou sua carrreira de policial em Nova York.
Negro, nascido na Jamaica, casado, pai de duas filhas, estava feliz no emprego. Não tinha medo de vizinhança, nem de horário perigoso.
Morava em Brooklyn. À noite patrulhava as ruas do bairro. Na semana passada Stewart saiu em perseguição de carro que avançou um sinal vermelho. Parou lado a lado com o motorista que já estava com a arma apontada para ele.

O tiro entrou debaixo do braço, por cima do colete a prova de bala e entrou no coração de Stewart.
Ele ainda perseguiu o carro por alguns quarteirões.
Dillon Stewart foi o primeiro policial morto em Nova York neste ano. Nos seus 5 anos de serviço, Stewart teve uma carreira sem grandes momentos.

A própria morte, por um bandido menor numa operação de rotina, não é material para filme.
Na história de Nova York pouca gente teve um funeral tão concorrido. O governador pediu a pena de morte para quem mata policiais.
O prefeito pediu leis mais rigorosas contra armas e promoveu o policial postumamente a detetive para engrossar a pensão da viúva e das duas filhas.
Vinte mil policiais de várias cidades, inclusive do Japão, vieram ao funeral de Stewart, no Brooklyn.
As televisões deram cobertura com boletins ao vivo e durante quase toda semana Stewart mereceu tratamento de herói da cidade nas primeiras páginas dos jornais.

Ano passado, quatro policiais foram fuzilados por traficantes no Rio, durante o dia, numa patrulha rotineira.
A notícia deu primeira página mas sem maior destaque. E pior. Ninguém publicou nem os nomes dos policiais mortos.
Os suspeitos e criminosos brasileiros merecem fotos, nomes e apelidos nos jornais mas nossos policiais, em geral, só aparecem quando matam ou viram bandidos.

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