Um aparelho de som surge na tela. De repente, o equipamento se transforma numa televisão de plasma. Logo depois, a TV se torna um notebook, que vira uma câmera digital e, por fim, um videogame portátil. A seqüência de mutações é sucedida por uma mensagem publicitária da Sony, que encerra o comercial de TV.
Seria uma propaganda como outra qualquer, não fosse por um detalhe: ela não foi feita por uma agência de propaganda.
O comercial foi obra de um consumidor comum, o adolescente americano Tyson Ibele, de 18 anos. Ele trabalha num pequeno estúdio de animações caseiras em Minneapolis, nos Estados Unidos, e criou o anúncio porque quis – sem ganhar um centavo por isso.
Ibele filmou os produtos como se a câmera voasse sobre eles. Escolheu a trilha sonora futurista e o visual do comercial, que lembra o do filme Matrix. Quando terminou o trabalho, mostrou o vídeo a um amigo, que o colocou na internet. Foi o suficiente para tornar Ibele uma pequena celebridade.
Em poucos dias, o comercial caseiro foi eleito pelos internautas americanos como o melhor anúncio da Sony deste ano. Há gente até que defende sua inscrição no festival de publicidade de Cannes, o mais prestigiado do mundo. Oficialmente, a Sony louvou a atitude do internauta, mas não utilizou a peça em sua campanha.
O jovem americano pode não saber, mas ele foi pioneiro de uma tendência que promete explodir nos próximos anos: a publicidade colaborativa. Trata-se do mesmo conceito que fez da Wikipédia um dos maiores sucessos da internet – transformar os próprios leitores em editores de conteúdo.
Mais que uma iniciativa independente de alguns surfistas da web, esse tipo de publicidade vem atraindo a atenção de algumas empresas. Elas perceberam o potencial do chamado marketing viral da internet. Viral porque alguns vídeos, músicas ou sites se disseminam tão rapidamente como vírus. As pessoas vêem, se empolgam e enviam a outras. Já há casos de empresas que apostam mais na criatividade dos internautas que nas agências de publicidade tradicionais.
A Procter & Gamble desenvolveu o site When She’s Hot (Quando Ela É Quente, em português) para promover uma marca de desodorante. A página da internet possui um software que permite ao visitante editar cenas pré-filmadas – que mostram uma mulher em trajes sumários dançando numa boate – e montar um vídeo de sua autoria.
A Nokia ergueu um quiosque no aeroporto de Lisboa que fotografa quem pára em frente a um celular com câmera. Caso a pessoa autorize, a imagem vai parar num outdoor. No Brasil, a publicidade colaborativa é incipiente. Há algumas semanas, a Kodak convidou seus clientes a enviar imagens para ser adicionadas a um comercial.
“Num mundo em que os blogs são cada vez mais comuns, o YouTube é um sucesso e os internautas não param de trocar músicas e vídeos pela internet, o conceito de colaboração tende a contaminar as empresas”, disse Colin Decker, diretor de criação da empresa americana Current TV, ao site de tecnologia CNet.
“Era uma questão de tempo essa onda chegar à propaganda.”
Propaganda de graça parece ser um excelente negócio para qualquer empresa. Mas as mensagens nem sempre são as melhores. No caso da Volkswagen, não foi. Um comercial amador que circulou na internet continha uma mensagem preconceituosa: mostrava um terrorista com uma bomba num carro Pólo. Ele explodia, o carro resistia.
Há três meses, a General Motors convocou seus clientes nos EUA a criar um comercial pela internet para a picape Chevy Tahoe. Recebeu centenas de contribuições. Mas, junto com elas, dezenas de xingamentos contra os utilitários que vende.
Ainda é cedo para medir o impacto da propaganda colaborativa no mercado publicitário. Mas o conceito já desperta reações.
“Não consigo imaginar um diretor de criação que fique feliz com isso”, disse Greg Stuart, um dos principais executivos do Interactive Advertising Bureau, órgão de propaganda on-line dos EUA.