Do vício de cantar
Paulo Bomfim¹
Eu canto pelo vício de cantar,
Vício de fonte e pássaros andejos,
De passado na voz dos azulejos
E tempestade amamentando o mar.
E canto nesta febre de inventar
A distância que nasce de meus beijos,
O desejar de todos os desejos
E este silêncio engravidando o luar.
Da artéria aberta faço minha sonda,
Espaço que penetra o eu profundo,
Praia chamando a derradeira onda.
Eu canto como canta o precipício:
Mergulho nos vocábulos do mundo
E me transformo no meu próprio vício!
¹Paulo Lébeis Bomfim
*São Paulo,SP – 30 de setembro de 1926 d.C
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