Carlos Pena Filho – Versos na tarde – 16/12/2012

Soneto oco
Carlos Pena Filho ¹

Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém.
Nem eu, pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.

Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.

¹ Carlos Souza Pena Filho
*Recife,PE – 1929 d.C.
+ Recife,PE – 1960

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