A primeira questão é puramente de gramática.
Senão vejamos o Aurélio.
Plebiscito
[Do lat. plebiscitu.] S. m.
1. Na Roma antiga, decreto do povo reunido em comícios.
2. Modernamente, resolução submetida à apreciação do povo.
3. Voto do povo, por sim ou não, sobre uma proposta que lhe seja apresentada.
Referendo
[Do lat. referendu.] S. m.
1. Mensagem que um representante diplomático expede a seu governo pedindo novas instruções.
2. Polít. Direito que têm os cidadãos de se pronunciar diretamente a respeito das questões de interesse geral.
Isso posto, a segunda questão envolve a manipulação para a interpretação das grandes questões nacionais.
Estamos diante de um Plebiscito e não de um Referendo, e presenciamos a perversa junção de governantes e legisladores incompetentes com formadores de opinião parciais, no intuito de “retirar o sofá da sala”, quando deveriam utilizar os recursos arrecadados da população para garantir a segurança do cidadão.
Da maneira como a pergunta está grafada – “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?” – reduz a questão a uma mera disputa entre os “mocinhos”, aqueles que se adjetivam como pacifistas (que o serão até que sejam vítimas de banditismo), e aos “belicosos”, assim adjetivados os que não querem dar ao Estado o poder de decisão sobre sua própria segurança.
Em um país, formado por comprovada maioria de analfabetos funcionais, grafar uma frase dessa maneira, é jogar no colo dessa população uma pergunta, que no universo da semiótica – decodificação de uma mensagem entre o emissor e o receptor dessa mensagem – é claramente ininteligível.
A terceira questão envolve um aparente paradoxo.
Estamos acostumados a associar a palavra sim à concordância (ser farorável, etc.) e a palavra não à discordância (ser contrário, etc.).
Da maneira como está formulada a pergunta, se vôce é contra, vota Sim, se por outro lado é a favor vota Não.
Resumo da ópera:
Proibir, ação associada a negar, vote Sim.
Permitir, ação associada a concordar, vote Não.
Confuso ou proposital?
Um adendo: esse tipo de lógica confusa (palavra com sentido contrário à ação solicitada) não é privilégio do “iluminado” que redigiu a frase do plebiscito.
A Microsoft, cujo sistema operacional Windows está presente em quase todos os computadores, também concorre na categoria “non-sense”.
Para Encerrar o programa temos que clicar no botão Iniciar.
Voltando ao assunto principal.
Esses analfabetos funcionais – adjetivo que classifica as pessoas que sabem ler mas não entendem claramente o que estão lendo – provavelmente não dominam o mínimo de conhecimento técnico e/ou científico sobre segurança pública para emitir um voto se não de forma emocional.
Essa é menos uma tomada de posição, a favor ou contra o comércio de armas de fogo, e mais um convite à reflexão.