Nietzsche – Versos na tarde – 13/02/2017

O andarilho

Nietzsche ¹
Um andarilho vai pela noite
A passos largos;
Só curvo vale e longo desdém
São seus encargos.

A noite é linda –
Mas ele avança e não se detém.
Aonde vai seu caminho ainda?
Nem sabe bem.

Um passarinho canta na noite:
“Ai, minha ave, que me fizeste!
Que meu sentido e pé retiveste,

E escorres mágoa de coração
Tão docemente no meu ouvido,
Que ainda paro e presto atenção?

– Por que me lanças teu chamariz?”-

A boa ave se cala e diz:
“Não, andarilho! Não é a ti, não,
Que chamo aqui
Com a canção –
Chamo uma fêmea de seu desdém –

Que importa isso, a ti também?
Sozinho, a noite não está linda
Que importa a ti?
Deves ainda
Seguir, andar,
E nunca, nunca, nunca parar!

Ficas ainda?
O que te fez minha flauta mansa,
Homem da andança?”

A boa ave se cala e pensa:
“O que lhe fez minha flauta mansa,
Que fica ainda?
O pobre, pobre homem da andança!”

¹ Friedrich Wilhelm Nietzsche
* Weimar, Alemanha – 15 de Outubro de 1844
+ Weimar, Alemanha – 25 de Agosto de 1900

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