Ledusha Spinardi – Versos na tarde – 17/02/2013

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Ledusha Spinardi ¹

Gastei toda aquarela, recolhida.
Silêncio de barcos acidentados,
fruta madura espatifando-se na terra.
Colhi no ventre da treva estas
palavras tocando-as devagar,
com medo de que por trás de suas faces frescas
me aguardasse uma emboscada.
Sei pelo avesso suas formas
conturbadas, atormentam-me seus abismos híbridos.
Vê-las pulsando salva-me da lábia estofada cotidiana,
mas também me expõe à rude dimensão da liberdade
e seu preço poucas vezes raso.
Cintila a pedra noturna dos meus olhos nos seus olhos,
sei que posso atravessá-los num sopro.
Após tantas águas fugidias, o refluxo.
As portas batem, como nos dias arejados.

¹ Leda Beatriz Abreu Spinard
* Assis, São Paulo – 1953 d.C


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