Galvão Bueno – Não sou só eu.

F1 e a arte de opinar
por Daniel Piza – Estadão.

Não tenho assistido a corridas de F1 como assistia antigamente, quando a competição era muito maior e dependia mais dos pilotos do que da tecnologia. Mas o GP da Hungria hoje prometia (e, em parte, cumpriu).

O divertido foi ver Galvão Bueno queimando a língua.

Nas primeiras três voltas, foram quatro gafes:
pediu para o público “anotar” o nome de Kubica, revelação polonesa, e no segundo seguinte o rapaz rodou;
disse que Rubinho Barrichello estava mostrando sua grande forma sob a chuva, e logo depois ele entrou nos boxes porque tinha errado na escolha dos pneus;
saudou o salto de Schumacher de 11º para 4º nas primeiras curvas, mas não viu que Alonso tinha ido de 15º para 6º;
adiante, disse que ultrapassar Schumacher era muito difícil, porque “ele tem sete campeonatos”, e o espanhol passou e ainda botou uma volta sobre o alemão.

Ao final da corrida, depois que Alonso teve de sair por erro dos mecânicos, Bueno repetiu o bordão do “heptacampeão”, mas Schumacher, que não raro joga sujo, vazou duas chicanes, terminou levando toque de Heidfeld e abandonou a prova.

Por que tudo isso?
Não é que Bueno não entenda do riscado (entende mais de F1 do que de futebol), e estava acompanhado de dois especialistas, Luciano Burti e Reginaldo Leme.

Mas informação não basta para ser bom em opinião.
O que o atrapalha, assim como a maioria dos profissionais do jornalismo esportivo, são os compromissos demagógicos com a idolatria (que o impediram desde o início de ver que Alonso era a maior ameaça ao reinado de Schumacher, o que estava claro desde 2004) e o patriotismo (que o fizeram crer que Rubinho um dia ganharia um campeonato; hoje Button, da mesma equipe, foi quem venceu a corrida, enquanto o brasileiro ainda não conseguiu nem um pódio sequer).

Além disso, há uma confusão geral entre opinar e adivinhar o futuro. Ficam todos querendo profetizar resultados.
Quando acertam, se gabam.
Quando erram, fingem não ter dito nada ou procuram uma desculpa.
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