Teus Olhos
Fernando Pessoa¹
Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem…
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez…
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.
Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.
Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.
Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.
¹Fernando Antonio Nogueira Pessoa
* Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C
+ Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C
>> Biografia de Fernando Pessoa
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