Baudelaire – Versos na tarde – 08/02/2014

Poema
Baudelaire¹

Que eu amo ver, cara indolente,
Da tua tez tão bela,
Como tecido aquoso e fluente,
Brilhar a lapela.

No cabelo amplo e profundo
De aromas febris,
Mar odoroso e vagabundo
De ondas blaus e gris,

Como um navio que desatraca
À brisa da aurora,
Minha alma a sonhar se desata
Plena céu afora.

Teu olho, onde nada se apura
De agro, doce ou ácido,
É fria jóia que mistura
Feixes de ouro e aço.

Em te ver em cadência mansa,
Bela em teus desleixos,
Dir-se-ia naja que dança
No apogeu de um eixo.

Sob tua preguiça obesa
Teu rosto de infante
Se balouça com a moleza
De um tenro elefante,

E teu corpo se alça e revela
Como o bom navio
Que a singrar pela costa as velas
Lança ao mar bravio.

Como onda crescendo à fusão
De gelos frementes,
Quando da boca as águas vão
Te alagando os dentes,

Creio beber vinho perfeito,
Boêmio e vitorioso,
Líquido céu que banha o peito
De estrelas e gozos.

(Tradução de Lawrence Flores Pereira)

¹Charles Pierre Baudelaire
* Paris, França – 09 de Abril de 1821 d.C

+ Paris, França – 31 de Agosto de 1867 d.C


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