Augusto dos Anjos – Versos na tarde

Soneto
Augusto dos Anjos ¹

Senhora, eu trajo o luto do passado,
Este luto sem fim que é o meu Calvário
E anseio e choro, delirante e vário,
Sonâmbulo da dor angustiado.

Quantas venturas que me acalentaram!
Mau peito, túm’lo do prazer finado,
Foi outrora do riso abençoado,
O berço onde as venturas se embalaram.

Mas não queiras saber nunca, risonha,
O mistério d’um peito que estertora
E o segredo d’um’alma que não sonha!

Não, não busques saber por que, Senhora,
É minha sina perenal, tristonha
– Cantar o Ocaso quando surge a Aurora.

¹ Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos
* Espírito Santo, PB. – 20 de Abril de 1894 d.C
+ Leopoldina, MG. – 12 de Novembro de 1914 d.C


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