A discussão sobre os limites entre erotismo (“arte”) e pornografia (“lixo cultural”) é complicadíssima, mas a exposição “Erotica – Os sentidos na arte”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, dá à questão uma das melhores respostas possíveis.
A obra “Desenhando em terços”, da artista plástica carioca Márcia X. (1959-2005), desenha grandes paus duros – que um certo pudor erudito manda chamar de “falos” – com terços, aqueles colares de contas que os católicos tradicionalistas usam para rezar.
A direção do Banco do Brasil, em Brasília, se assusta com os emails (mais de 700, segundo seu comunicado sobre o caso) de clientes ofendidos pela obra, alguns ameaçando encerrar suas contas na instituição, e manda o CCBB tirar “Desenhando em terços” da mostra. O que é feito imediatamente.
Difícil imaginar episódio mais didático. A obra blasfema de Márcia X. é erotismo. A atitude covarde e obscurantista do Banco do Brasil é pornografia.
A primeira provoca o pensamento: incomoda, mas é a favor da vida. A segunda odeia o pensamento e o mata: é indecente, um ultraje às pessoas de bem.
Simples assim.