Alain Bisgodofu – Versos na tarde – 21/11/2014

Sem título
Alain Bisgodofu¹

sei que meu pensamento geme
e que não tenho sobressaltos epifânicos para presenciar isso
sou tão resíduo que não pratico esperança
antes de mais nada sempre desejei o sepultamento dos deuses
minha boca quer silêncio
luz nestes dias tenebrosos ou mentira que se ofusca lentamente
então rasgo logo a fantasia dialética da sombra
despindo estranho
eis que possuo náufragos
traços de solidão em meu rosto fragmentam a fome
nas enchentes do coração por pouco não mastigaram tudo
várias vezes senti a febre dos espantalhos
nem sequer uma palavra frequentou o lixo
no entanto progredia corrompendo cinza
esta imaginação automática até estancar o pus
porém na janela chorei sangue
tendo nas mãos o límpido orvalho de meus erros
vou me delegando inútil aos pernilongos…

¹Alain Bisgodofu
* Porto Alegre, RS. – 1978d.C


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