Versos na tarde – Octavio Paz

Entre partir e ficar
Octavio Paz¹

Entre partir e ficar hesita o dia,
enamorado de sua transparência.

A tarde circular é uma baía:
em seu quieto vai e vem se move o mundo.

Tudo é visível e tudo é ilusório,
tudo está perto e tudo é intocável.

Os papéis, o livro, o vaso, o lápis
repousam à sombra de seus nomes.

Pulsar do tempo que em minha têmpora repete
a mesma e insistente sílaba de sangue.

A luz faz do muro indiferente
Um espectral teatro de reflexos.

No centro de um olho me descubro;
Não me vê, não me vejo em seu olhar.

Dissipa-se o instante. Sem mover-me,
eu permaneço e parto: sou uma pausa

(Trad. Antônio Moura)

¹Octavio Paz
* Cidade do México, México – 31 de Março de 1914 d.C.
+ Cidade do México, México – 20 de Abril de 1998 d.C.


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Passou a infância nos Estados Unidos, acompanhando a família. De volta ao seu País, estudou Direito na Universidade Nacional Autônoma do México. Cursou, também, estudos de especialização em Literatura. Morou na Espanha, onde conviveu com diversos intelectuais; também em Paris, Japão e Índia.

Em 1945, ingressou no serviço diplomático mexicano. Ao residir em Paris, testemunhou e viveu o Movimento Surrealista, sofrendo grande influência de André Breton, de quem foi amigo. Em sua criação, experimentou a escrita automática.

Publicou mais de vinte livros de poesia e incontáveis ensaios de literatura, arte, cultura e política, desde Luna Silvestre, seu primeiro livro, de 1933.

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