Versos na tarde – José Albano – 24/11/2012

Esparsa
José Albano¹

Há no meu peito uma porta
A bater continuamente;
Dentro a esperança jaz morta
E o coração jaz doente

Em toda parte onde eu ando,
ouço este ruído infindo:
São as tristezas entrando
E as alegrias saindo

¹José Albano
* Fortaleza, CE. – 12 de Abril de 1882 d.C
+
Montauban, França – 11 de julho de 1923 d.C
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Poeta singular, no dizer de Manuel Bandeira, “porque inteiramente fora dos quadros da poesia brasileira”, José de Abreu Albano nasceu em Fortaleza, mas logo o pai o mandou estudar na Europa, onde frequentou os melhores colégios, na Inglaterra (Stonyhurst College), na Áustria (Colégio Stella Matutina) e na França (Colégio dos Irmãos da Doutrina Cristã).

Deve-se a Manuel Bandeira e a Braga Montenegro o estudo e a divulgação de suas Rimas. Manuel Bandeira, como inúmeros críticos da obra de José Albano, ficou indeciso quanto à classificação estética do poeta, naquele começo do século com escolas que se entrecruzavam e influenciavam lealmente os poetas.

Dessa formação algo “eclesiástica” duas ilações podem ser tomadas: uma, a linhagem de sua poesia mística; a outra, a sua predileção pelo passado, pois achava que a perfeição artística estava lá. Não lia os escritores de seu tempo e a sua obra, de modo geral, é de gosto clássico, arcaizante, camoniana. Assim, fugia ao esquema, algo repetitivo do Romantismo/Parnasianismo/Simbolismo, fuga para o passado, pois “propositadamente ele não quis ultrapassar a Renascença”, como diz José Sombra.

Bem jovem ainda, José Albano está de volta à terra natal, quando começa a publicar seus poemas no jornal A República e estuda no Liceu do Ceará. Em 1902 vai para o Rio de Janeiro, com a intenção de estudar Direito, mas interrompe o curso e volta ao Ceará, na condição de professor de latim do Liceu. Europa, Ceará e Rio de janeiro marcarão as várias etapas da vida do poeta.

Depois de trabalhar no Ministério das Relações Exteriores, José Albano, já casado, vai para o consulado brasileiro em Londres. Mas abandona a carreira pública para viajar pelo mundo, enquanto continua a produzir seus poemas de feição clássica. Poliglota, escreve em francês, inglês e alemão, mas, como lembra Manuel Bandeira, “tão versado em idiomas estrangeiros, prezava como ninguém a pureza do vernáculo”.

Inquieto, “um doido com intervalos de gênio”, como disse Gondin da Fonseca, José Albano acaba abalado mentalmente, mas se recupera após três anos de tratamento no Brasil e volta à Europa. Alguns de seus poemas são enfeixados, pelo próprio autor, em “plaquetes requintadas”, dificilmente encontráveis hoje em alguma biblioteca.

Como o Parnasianismo tinha uma feição algo clássica, tal constatação levou alguns estudiosos a incluírem José Albano nesta Escola. Manuel Bandeira, depois de julgá-lo fora “dos quadros da poesia brasileira”, levanta a questão: “Todavia, alguma coisa em sua poesia soa à corrente poética do tempo em que ele viveu. Esse tempo era o simbolismo. Pela espiritualidade de sua inspiração, pela musicalidade de sua forma, pela sensibilidade por assim dizer outonal de seus versos, é dentro do quadro simbolista que melhor cabe a sua singular figura.

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