Soneto do Desmantelo Azul
Carlos Souza Pena Filho¹
Então pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
Depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas
Para extinguir de nós o azul ausente
e aprisionar o azul nas coisas gratas
Enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço
E perdidos no azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul: azul
¹Carlos Souza Pena Filho
* Recife,PE – 1929 d.C
+ Recife,PE – 1960 d.C