Corridinho
Adélia Prado¹
O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.
Texto extraído do livro
“Adélia Prado – Poesia Reunida”, pág. 181.
¹Adélia Luzia Prado Freitas
* Divinópolis, MG. – 13 de dezembro de 1935 d.C
→Biografia de Adélia Prado
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