Água de remanso
Thiago de Mello¹
Cismo o sereno silêncio:
sou: estou humanamente
em paz comigo: ternura.
Paz que dói, de tanta.
Mas orvalho. Em seu bojo
estou e vou, como sou.
Ternura: maneira funda,
cristalina do meu ser.
Água de remanso, mansa
brisa, luz de amanhecer
Nunca é a mágoa mordendo.
Jamais a turva esquivança,
o apego ao cinzento, ao úmido,
a concha que aquece na alma
uma brasa de malogro.
É ter o gosto da vida,
amar o festivo, e o claro,
é achar doçura nos lances
mais triviais de cada dia.
Pode também ser tristeza:
tranqüilo na solidão macia.
Apaziguado comigo,
meu ser me sabe: e me finca
no fulcro vivo da vida.
Sou: estou e canto.
¹Amadeu Thiago de Mello
* Barreirinha, AM – 30 Maio 1926 d.C
[ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]