Amores vãos
Saramar Mendes
Bebo o meu vinho entre sombras
brindando à cidade
e seus argênteos fantasmas.
Não renego a agonia das noites
dentro dos meus olhos baços,
mas tranco a alma na gaveta de baixo
e assisto a passagem espectral da madrugada
barganhando com outros desesperados
a taça, o frio e os açoites do vento ou da dor.
Escapo da ausência das flores admirando néons
escondida num canto de alguma rua.
Esqueço meu nome antes mesmo da morte,
à espera de um amanhecer que nunca acontece.
“Lá fora tudo arde”.
Aqui, zumbem vozes esquecidas
curvadas até a mudez sobre as íntimas feridas
de amores vãos.