Rubem Braga – Versos na tarde

Soneto
Rubem Braga ¹

Tu, que não foste belo nem perfeito,
Ora te vejo ( e tu me vês) com tédio
E vã melancolia, contrafeito,
Como a um condenado sem remédio.

Evitas meu olhar inquiridor
Fugindo, aos meus dois olhos vermelhos,
Porque já te falece algum valor
Para enfrentar o tédio dos espelhos.

Ontem bebeste em demasia, certo,
Mas não foi, convenhamos, a primeira
Nem a milésima vez que hás bebido.

Volta portanto a cara, vê de perto
A cara, tua cara verdadeira,
Oh Braga envelhecido, envilecido.

Rubem Braga in o Livro de Versos

¹ Rubem Braga
* Cachoeiro do Itapemirim, ES. – 12 de Janeiro de 1913 d.C
+ Rio de Janeiro, RJ. – 19 de Dezembro de 1990 d.C

Escritor e jornalista, Rubem era filho de Raquel Coelho Braga e Francisco Carvalho Braga, proprietário do jornal “Correio do Sul”. Rubem Braga morreu deixando mais de 15 mil crônicas escritas em mais de 62 anos de jornalismo.


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