Poema do desespero
Mauro Gouvêa
Alguém bate à minha porta
e minha casa está vazia,
meu corpo oco, minha alma morta,
só existe noite em meu dia.
A mão que bate é firme e forte
e seu bater é insistente,
mas não estaca o feio corte
dos meus pulsos, espírito e mente.
A água goteja da torneira
no ritmo do meu fluído vital
vejo em preto e branco minha vida inteira
e não distingo o bem e o mal.
Este ser humano de quem assisto a morte
está cansado deste caminho
bebam pois à minha sorte
meu sangue, amargo vinho.
Estou trancado em minha despedida
os gritos parecem eco distante
escolhi neste instante da vida
a morte, definitiva amante.