Ainda te levarei
Marina Colasanti ¹
Ainda te levarei
Amor
Para comer nozes frescas
Na montanha
E pendurar cerejas nas orelhas
Como se fossem flores
Ou rubis.
As nozes
Meu amor
Mancham os dedos
E são verdes e exatas
Como ovos
Mas as cerejas
Ah! As cerejas
São quando a cerejeira sua
Seu manso sangue.
Ainda te levarei àquela casa
Onde floriam lilases e serpentes
Tão claras quanto a água
Deslizavam ao pé das macieiras.
Te mostrarei três lagos no horizonte
Três queijos maturando numa adega
Três lesmas escondidas sob um vaso.
Estará tudo lá à nossa espera
Morangueiras quebradas
Lagartixas.
Só não estará meu medo de menina
Aquele mais escuro que os ciprestes
Ecos no mato, passos sobre a ponte
Garras na saia, vento nos cabelos
E o latejar das veias repetindo
Estou sozinha e ninguém me salva.
¹ Marina Colasanti
* Asmara, Etiópia – 26 de Setembro de 1937 d.C
[ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]