Boa noite.
Hoje já passou
Manuel Graña Etcheverry¹
Já o dia passa. Já os livros
não podem. Já a música não alcança.
A evasão é inútil, solitário.
Já tens o espelho a tua frente:
mira-te, sozinho, fumando o cigarro,
mira no quarto tua presença só.
Não estão suas mãos nem seus olhos vêm,
nem sua voz se aproxima, nem seu beijo,
nem chega seu amor para buscar-te.
Consumiste sonhos na espera:
edifícios de tenues quadros
que as horas gastaram pouco a pouco.
E ruínas sonoras de estupendos
colóquios de amor que imaginaste
têm buscado sua tumba nas paredes.
Não te bastou a lembrança: desejava-a
vivendo e perto e em teus braços.
Mas o dia se vai sem que ela venha.
Hoje a paz não veio e tens medo.
Não quer retratar-se em cristais
nem a água do passado te refresca.
Mas o dia se vai… cala-o, esqueça.
Beija no ar seu rosto ausente.
Hoje a paz não veio. Hoje já passou.
¹ Manuel Graña Etcheverry
* Córdoba, Argentina – 1915
+ Dean Funes, Argentina – 27 de maio de 2015