Manuel Bandeira – Versos na tarde – 04/12/2012

Quando estás vestida
Manuel Bandeira ¹

Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite

Brilham teus joelhos.
Brilha o teu umbigo.
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus seios exíguos
– Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos –

Brilham. Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!

Se nua, teus olhos
Ficam nus também;
Teu olhar, mais longo,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto,
Baixo num mergulho
Perpendicular.

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde
Me sorri tu’alma,
Nua, nua, nua…

¹ Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho
* Recife, PE. – 19 de Abril de 1886 d.C
+ Rio de Janeiro, RJ. – 13 de Outubro de 1968 d.C


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