Juana de Ibarbourou – Versos na tarde – 11/04/2015

A hora
Juana de Ibarbourou ¹

Toma-me agora que ainda é cedo
e que levo dálias novas na mão.
Toma-me agora que ainda é sombria
esta taciturna cabeleira minha.

Agora que tenho a carne cheirosa
e os olhos limpos e a pele de rosa.
Agora que calça minha planta ligeira
a sandália viva da primavera.

Agora que em meus lábios repica o sorriso
como um sino sacudido às pressas.
Depois…oh, eu sei
que já nada disto mais tarde terei!

Que então inútil será teu desejo,
como oferenda posta sobre um mausoléu.
Toma-me agora que ainda é cedo
e que tenho rica de nardos a mão!

Hoje, e não mais tarde. Antes que anoiteça
e se torne murcha a corola fresca.
Hoje, e não amanhã. Oh amante! Não vês
que a trepadeira crescerá cipreste?

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

¹ Juana de Ibarbourou ou Juana de América
* Melo, Uruguai – 8 de março de 1892 d.C
+ Montevidéu, Uruguai – 15 de julho de 1895 d.C


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