Juan Gelman – Versos na tarde – 07/12/2014

Poema
Juan Gelman¹

Essa mulher se parecia à palavra nunca,
de sua nuca subia um encanto particular
uma espécie de esquecimento onde guardar os olhos,
essa mulher se instalava em meu lado esquerdo.

Atenção atenção eu gritava atenção
mas ela invadia como o amor, como a noite,
os últimos sinais que fiz para o outono
deitaram-se tranquilos debaixo da maré de suas mãos.

Dentro de mim explodiram ruídos secos,
caíam aos pedaços a fúria, a tristeza,
a senhora chovia docemente
sobre meus ossos parados na solidão.

Quando partiu eu tiritava feito um condenado,
com um punhal brusco me matei,
vou passar a morte inteira estendido com seu nome,
ele moverá minha boca pela última vez.

¹ Juan Gelman
* Buenos Aires, Argentina – 5 de março de 1930 d.C
+ Buenos Aires, Argentina – 14 de janeiro de 2014 d.C


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