O artista inconfessável
João Cabral de Melo Neto ¹
Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil, e bem sabendo
que é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e difícil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.
¹ João Cabral de Melo Neto
* Recife, PE. – 9 de Janeiro de 1920 d.C
+ Rio de Janeiro, RJ. – 9 de Outubro de 1999 d.C
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